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2019.08 – Literatura de Cordel, a arte de contar histórias em forma de poesia

Você já teve a oportunidade de ler uma literatura de cordel? Sabe como ela chegou até nós?

Tudo começou em Portugal com os trovadores medievais, poetas que tinham o hábito de contar histórias musicadas e ritmadas nas ruas das cidades. No período da Renascença, essas histórias passaram a ser impressas em papel, apresentadas nas ruas em cordas – ou cordéis, como eram conhecidas em Portugal.

No Brasil, o hábito de contar histórias de forma musicada e ritmada passou a ser praticado por artistas populares conhecidos como repentistas ou violeiros.

Já no Ceará, o alagoano José Bernardo da Silva dedicou muitos anos de sua vida à difusão desta arte popular. À frente da Folhetaria Silva entre os anos de 1932 e 1982 no município cearense de Juazeiro do Norte, publicou diversos folhetos de cordel, contribuindo significativamente para a popularização do folclore brasileiro. A antiga folhetaria, hoje com o nome de Lira Nordestina, encontra-se sob a tutela da Universidade Regional do Cariri (URCA).

Passando por Juazeiro do Norte, não deixe de visitar o Centro Multifuncional do Cariri para conhecer de perto este importante instrumento de produção e divulgação da literatura de cordel no Ceará. Endereço: Rua Interventor Francisco Erivano Cruz, 120.

Visite também a exposição “Célebres Cordéis: Oralidade e Poesia”, em cartaz no Museu de Arte da UFC até o dia 5 de setembro deste ano. Você vai se surpreender com a criatividade com que os cordelistas em exposição narram suas histórias.

E para fechar o nosso post com chave de ouro, deixamos como dica de leitura o texto “O testamento do cachorro”, de Leandro Gomes de Barros, um dos primeiros cordelistas do Brasil, autor de mais de 240 obras campeãs de vendas. Leia o texto a seguir.

O testamento do cachorro

Eu vi narrar um fato
Que fiquei admirado
Um sertanejo me disse
Que nesse século passado
Viu enterrar um cachorro
Com honras de um potentado.

Um inglês tinha um cachorro
De uma grande estim

ação.
Morreu o dito cachorro
E o inglês disse então:
Mim enterra esse cachorro
Inda que gaste um milhão.

Foi ao vigário e lhe disse:
Morreu cachorra de mim
E urubu no Brasil
Não poderá dar-lhe fim…
– Cachorro deixou dinheiro?
Perguntou o vigário assim.

– Mim quer enterrar cachorro!
Disse o vigário: Oh! Inglês!
Você pensa que isto aqui
É o país de vocês?
Disse o inglês: Oh! Cachorro!
Gasta tud

o esta vez.

Ele antes de morrer
Um testamento aprontou
Só quatro contos de réis
Para o vigário deixou.
Antes do inglês findar
O vigário suspirou.

– Coitado! Disse o vigário,
De que morreu esse pobre?
Que animal inteligente!
Que sentimento tão nobre!
Antes de partir do mundo
Fez-me presente do cobre.

Leve-o para o cemitério,
Que vou o encomendar
Isto é, traga o dinheiro
Antes dele se enterrar,
Estes sufrágios fiados
É factível não salvar.

E lá chegou o cachorro
O dinheiro foi na frente

,
Teve momento o enterro,
Missa de corpo presente,
Ladainha e seu rancho
Melhor do que certa gente.

Mandaram dar parte ao bispo
Que o vigário tinha feito
O enterro do cachorro,
Que não era de direito
O bispo aí falou muito
Mostrou-se mal satisfeito.

Mandou chamar o vigário
Pronto o vigário chegou
As ordens sua excelência…
O bispo lhe perguntou:
Então que cachorro foi,
Que seu vigário enterrou?

Foi um cachorro importante
Animal de inteligência
Ele antes de morrer
Deixou à vossa excelência

Dois contos de réis em ouro…
Se errei, tenha paciência.

Não foi erro, sr. Vigário,
Você é um bom pastor
Desculpe eu incomodá-lo
A culpa é do portador,
Um cachorro como este
Já vê que é merecedor.

O meu informante disse-me
Que o caso tinha se dado
E eu julguei que isso fosse
Um cachorro desgraçado.
Ele lembrou-se de mim
Não o faço desprezado.

O vigário aí abriu
Os dois contículos de réis.

O bispo disse: é melhor
Do que diversos fiéis.
E disse: Provera Deus
Que assim lá morresse uns dez.

E se não fosse o dinheiro
A questão ficava feia,
Desenterrava o cachorro
O vigário ia a cadeia.
Mas como gimbre correu
Ficou qual letras na areia.

 

Por Carlizeth Campos, com a colaboração de Kathleen Silveira (seleção de imagens), ambas Assistentes Administrativas do Mauc.

07/08/2019

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