Exposição 1975.07 – Badida – Filandeira – 18/12/1975
No ano passado, BADIDA compareceu, pela primeira vez, em individual, aos salões de arte de Fortaleza. Foi na antiga Casa de Raimundo Cela. Estava paraninfada por um cortejo de sensibilidade artística: Otacílio Colares, Heloysa Juaçaba, Nadir Papi Saboya, Estrigas, Barrica. Moreira Campos a levou pela mão nesses esponsais artísticos, da mesma maneira como a terá conduzido ao altar nupcial, e a amparado no ensaio dos primeiros passos. Não manifestava surpresa com o sucesso da filha. Tranqüilo, vendo desabrochar flor, onde plantou flor.
BADIDA não se apressara por expor em público seus trabalhos. Há vários anos vinha estudando. Incentivada pela leveza dos desenhos de sua Mãe, mas sensibilizada pelo estímulo das cores. Em Recife, teve oportunidade de freqüentar o atelier de Chalita. Não lhe herdou a expressão. Talvez a essencialidade do desenho, na formulação da obra. Talvez a convicção de que a cor deve ser dominada. É apenas um meio para corporificar uma idéia, um sentimento, uma análise vivencial do espírito.
Depois daquela individual, Badida compareceu a várias exposições coletivas na cidade, até que, em mostra realizada na sede de O Povo, deixou transparecer alguns trabalhos da coleção, que hoje lança, oficialmente, nesta Galeria.
Trocou as telas convencionais por placas de cerâmicas. E as aparelhou. E, sobre elas, sentiu que poderiam conviver, simultaneamente, diversas técnicas de pintura: o pastel, a aquarela, o óleo. De cada tipo de tinta aproveitou as características peculiares. Elasteceu a quantidade de tons suaves da palheta, conseguiu leves transparências, contrastando com cores densas e encorpadas. Com essa gama de recursos técnicos Pôde melhor detalhar as figuras com que traduz análises do sentimento e comportamentos humanos.
Juntamente com novas experiências pictóricas, BADIDA oferece mais uma faceta de atividade artística.
Apresenta as FIANDEIRAS. Obra de parceria com a sua irmã NATÉRCIA. Trabalho de afirmação, num gênero que rompe círculo contestatório. Tradicionalmente considerava-se a tapeçaria como atividade simplesmente artesanal, para fins decorativos, classificada como artemenor, sem acesso aos Salões de Arte.
Hoje, na XIII Bienal de São Paulo, uma tapeceira iugoslava, JAGODA BUIC, conquista o Prêmio Itamarati, a maior láurea daquele Salão de Arte Internacional.
Sem dúvida o trabalho premiado foge às habituais limitações bidimensionais, e a tecedura de suas fibras constroem obras de características escultóricas, embora sejam aceitas e premiadas em diversas Bienais de Tapeçaria de Lausanne.
Mesmo que o trabalho se subordine às limitações tradicionais de forma, há de se distinguir a peça, onde transparece a exclusiva preocupação decorativa daquela em que se diferencia de uma tela de arte somente pelo veículo da cor.
Na obra das FIANDEIRAS, a composição formulada por BADIDA tem as cores, por ela marcadas, enriquecidas pela textura obtida pelos pontos de bordado criados por NATÉRCIA.
Na pintura o artista marca o domínio técnico de sua expressão plástica, não só no uso apropriado das cores, mas na aplicação das tintas, criando superfícies macias ou ásperas, vigorosas espatulações ou grossas pinceladas.
FIANDEIRAS. Parceria criativa. Inseparável, no resultado final da obra proposta. Até onde vai BADIDA? Até onde vai NATÉRCIA? Impossível distinguir.
José Julião
Com seus temperamentos irriquietos, as fiandeiras não se limitaram às formas usuais de tapeçaria. Sente-se em suas obras a pesquisa, no desejo de encontrar um caminho conciliador entre o tradicional e o moderno regional.
São Paulo, 26 de setembro de 1975.
FLÁVIO PHEBO
Suas cores nos lembram as dos grandes impressionistas, que abriram novas portas, descerraram novos horizontes – Renoir, Cézane, Van Gogh ou Degas. Apenas lembram, porque a pintura de Badida é muito pessoal; a fatura de seus trabalhos é originalíssima. Sua técnica difere da de quantos temos visto nos últimos anos.
RUBENS DE AZEVEDO
Vivendo em ambiente familiar onde a arte e cultura têm destaque nobre na razão de ser vida, Badida teria mesmo que pintar com uma grande força intelectual e também com grande paixão. Sua técnica de tratar as tintas dá às figuras um tom que parece aguado sem ser guache, transparente sem ser aquarela. Um tom quase sépia.
HELOÍSA JUAÇABA
Quadros
1. O colar
2. 3 Graças
3. Pátio de um convento
4. Ela
5. Madame
6. Esquina
7. Beira de estrada
8. O menino
9. O Estudante II
10. Mariazinha
11. Adróginos
12. A subida da Serra
13. Liseuse
14. A avó da noiva
15. O falso pudor de Rosa
16. O Bruxo
17. A Grande Mágoa
18. Modelo
19. O Traidor
20. O Velho
Tapeçarias
1. O Velho Farol do Mucuripe
2. Gaivotas
3. Almofadas de bilros
4. Capotes
5. Bumba-meu-boi
6. Chagas dos Carneiros
7. Retalho da Serra de Maranguape
8. O Açude
Marisa Campos (Badida)
Nasceu em Fortaleza, Ceará.
Estudou Belas- Artes (Curso Livre) na Escola de Belas -Artes da Universidade Federal de Pernambuco, com o artista plástico Pierre Chalita.
Participou das seguintes exposições:
Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Pernambuco (coletiva)
Casa de Raimundo Cela (individual)
Ideal Clube ( Salão José) (coletiva)
UNIFOR (coletiva)
Jornal “O Povo” (coletiva).