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Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1984.01 – Arquitetura do Japão – 05/01/1984

(Transcrito do Catálogo)

A Arquitetura do Japão

Itoh Teiji

O Japão é um arquipélago situado no extremo oriente do continente asiático. Sua extensão territorial é de cerca de 370 mil km2, ou seja, a 23  a. parte do Brasil. E aí se encontram aglomerados cerca de 120 milhões de habitantes.

Nestas ilhas não há horizontes e nem fronteiras. E, talvez seja esta a razão pela qual o Japão não foi colonizado por nenhum outro povo; além de pequeno não apresentava nenhuma riqueza natural.

Um dos aspectos que chama a atenção, entretanto, é que por estar localizado próximo a grandes potências político-militares, recebeu portanto, grande influência quanto a sua cultura arquitetônica. No início, da China, e desde a segunda metade do século XVI, de Portugal e Espanha; depois da metade do século XIX, da Inglaterra, França, Alemanha e Itália e finalmente a partir da metade do século XX, dos Estados Unidos.

Ao ajustar a cultura arquitetônica destes países à sua própria estrutura estética, pode-se verificar que o Japão adotou três atitudes principais.

A primeira delas data da época da influência da sabedoria chinesa no espírito japonês. Acredita-se que a primeira vez que foi construído no Japão um edifício que se preze chamar de construção arquitetônica foi por volta do século VI.

A segunda delas é a fase da sabedoria ocidental e espírito japonês, isto é, época quando os japoneses assimilaram os conhecimentos ocidentais. Pode-se afirmar até que foi nesta época que se abriram as portas para a introdução da arquitetura moderna, em nome da ocidentalização do país.

Embora o povo japonês tenha aceito estas formas alienígenas na sia arquitetura, sempre acreditou de uma certa maneira, mesmo até por auto-sugestão, estar mantendo o espírito e a essência japonesa em tudo o que criou. E é exatamente isto que significa para eles “sabedoria chinesa e espírito japonês”, “sabedoria ocidental e espírito japonês”. A consciência de que o Japão era um país em vias de desenvolvimento, facilitou este processo de assimilação e adaptação da cultura arquitetônica de outros países desenvolvidos mais rapidamente.

Além disto, o que ocorreu foi uma assimilação seletiva, mas superficial e, muitas vezes por caminhos tortuosos desta arquitetura estrangeira o que possibilitou de uma certa forma a manutenção da originalidade e subjetividade.

Consequentemente, ao traçarmos as raízes da cultura arquitetônica no Japão, não encontraríamos nada de original não fossem os erros de interpretação de quando foi trazida ao Japão.

Baseada na ideia de subdesenvolvimento que permeava a consciência dos japoneses, esta introdução não se deu por meio de uma negação, nem se fez sentir a necessidade de criação de um novo valor arquitetônico.

Isto fez com que, sem dúvida, a arquitetura japonesa mostrasse um caráter, no mínimo, variado.

Os conceitos arquitetônicos importados de outros países, assim como o que havia aqui de antigo não foram nem refutados e nem postos fora, mas sim acumulados.

Por exemplo, o edifício do santuário de Ise tem sido reconstruído cada 20 anos da forma exata e com a mesma estrutura do século VII.

Ao mesmo tempo vemos que os arquitetos japoneses estão criando uma arquitetura de vanguarda usando as mais avançadas técnicas que surgiram neste campo. É por isso que as cidades japonesas apresentam-se de forma caótica e desorganizada.

Em terceiro lugar, isto se deve também ao fato do Japão ser um país formado por pequenas ilhas e possuir uma raça única, mantendo sempre uma cultura homogênea. Neste tipo de sociedade não se faz necessário identificar-se e nem afirmar o seu “ego” perante os outros, e por isso mesmo, dispõe-se de  maior energia para o refinamento da arquitetura. Para exemplificar, tomemos o excessivo interesse que se mostra quanto à textura da madeira e seu encaixe. Se observarmos este aspecto pelo lado negativo, veremos que não passa de um escrúpulo exagerado em detalhes mínimos, sem importância nenhuma. Perdeu-se muito tempo, e não se concentrou na criação de novos valores. Todavia, os japoneses de hoje estão tentando ultrapassar este limite e através de ensaio e erro procuram vencer os obstáculos da melhor maneira possível.

Consequentemente, a arquitetura moderna do Japão é sempre um reflexo da ideologia da própria criação arquitetônica da atualidade.

Por exemplo, quando o modernismo estava em voga, a preocupação principal e as características da arquitetura japonesa eram por uma estrutura racional e simples, valorizando a beleza natural originária, sem o uso de tintas nem de cores.

Os Santuários de Ise e Shurin e a Vila Imperial de Katsura podem ser citados como exemplos típicos de arquitetura japonesa.

O mausoléu Nikko Toshogu, com sua construção imponente, cores berrantes e decoração excessiva é uma magnífica atração turística mas, na verdade, não pode ser considerado como representativa da arquitetura japonesa.

Quando o funcionalismo chegou ao seu limite, e se passou a adotar o “metabolismo”, a utilização de diversos materiais foi substituída por uma maior preocupação quanto à utilização do espaço e desenho racional que se tornaram portanto a principal característica do sistema de construção na arquitetura japonesa.

Este sistema se baseava no método de criar um espaço arquitetônico através da construção de um esqueleto e seu recheio de modo que as paredes, teto, chão e divisões fossem móveis e fáceis de armar e desarmar.

Este método passou a ser utilizado principalmente no caso de construções de madeira pois, além de muito prático, adapta-se facilmente à evolução do modelo de vida dos moradores, sendo frequentemente adotado em casas particulares.

Pode-se afirmar que hoje em dia não existe um consenso do que seja a arquitetura moderna no Japão e diante de tal diversidade na ideologia da criação arquitetônica moderna, os arquitetos japoneses sentem muita dificuldade em se orientarem numa única direção.

É certo que continuam a se construir muitos edifícios mas, não há uma ideologia definitiva em nenhum deles.

Aqueles que haviam aderido ao modernismo ou ao “metabolismo”, não mais adotam nenhuma corrente específica.

Nestas condições não se encontra mais nenhum símbolo que venha a refletir as características da arquitetura japonesa atualmente.

Quando se indaga sobre as características da arquitetura japonesa, os japoneses tradicionais costumam apontar como características, as três seguintes:

Tomemos a ideia de espaço. O que significa espaço para os japoneses tradicionais? Talvez em qualquer parte do mundo, espaço arquitetônico signifique um espaço rodeado de paredes, teto e chão.

Na arquitetura tradicional do Japão o sentido é sem dúvida o mesmo quanto ao aspecto de ser rodeado por paredes, teto e chão.

Mas no Japão, não se trata de um espaço onde um ser humano seja capaz de perceber claramente ou utilizar.

Suponhamos que se queira construir um templo para Buda que é sempre muito escuro, uma quase penumbra. No seu interior não se podem distinguir nem a viga principal, nem o teto, nem as paredes.

No entanto, para nós japoneses neste caso, o espaço pode ser explicado da seguinte maneira: no interior deste templo, pode-se sentir a imagem de Buda, o altar as vigas da construção e a pintura das paredes que mais se assemelham a figuras com vida que aparecem e desaparecem na luz e brilho de um candeeiro bruxuleante.

É como se fosse no teatro, onde se criam vários cenários através da iluminação.

isto foi desenvolvido pelos budistas esotéricos do século IX, que tentaram propagar a sua doutrina aos povos através do conhecimento sensorial.

Esta é portanto a razão pela qual os templos japoneses tradicionais são escuros. Não que fosse imaturidade tecnológica na sua construção, mas o uso da obscuridade era intencional. O espaço para eles significava portanto o que era visível com a passagem da luz na escuridão.

Esta tornou-s a primeira característica filosófica de espaço arquitetônico e vem até hoje exercendo considerável influência na arquitetura japonesa.

A segunda característica se baseia talvez no fato do Japão estar localizado numa zona de monções e se deriva também da visão de mundo que esteve sempre presente na mente dos japoneses.

Por se tratar de uma zona e monções, a época do verão acarreta os maiores sofrimentos por causa da alta temperatura e elevado grau de umidade, além da abundância  de chuvas.

Numa época quando não havia aparelhos de ar condicionado, a maneira de enfrentar o calor era construir mais aberto possível de modo a deixar passar a brisa dentro da casa. E para evitar que a chuva forte penetrasse na casa faziam a calha bem longe dela (telhado bem além da estrutura da casa).

Para japoneses que viviam em tais construções, a natureza não se opunha ao ser humano. No modo de pensar do povo japonês, não há o conceito de antagonismo entre o ser humano e a natureza.

Como o ser humano é um dos elementos da natureza, assim como os animais, até mesmo no folclore japonês, o se humano procura confundir-se e penetrar na natureza em si.

Mas ao mesmo tempo que a natureza é um benefício para a criação e produção, ela também traz muitas ameaças através de tempestades, furacões e neve em excesso.

No que concerne à arquitetura em si, os japoneses sempre se preocuparam em levar também em conta não só o espaço externo e interno mas também um terceiro deles, o que serve com uma espécie de amortecedor. Em outras palavras, este 3° espaço é um elemento de ligação entre a parte externa e interna, que é claramente independente e que se ao tentar explicá-lo em termos dos dois outros acima mencionado, pode-se considerá-lo como um “espaço-cinza”.

Este terceiro espaço é formado exatamente pela parte que sobressai do telhado além da casa em si, isto é o beiral. É lógico que hoje em dia com o avanço da tecnologia de equipamentos de ar condicionado, não se encontram muitas estruturas ou edifícios com este terceiro espaço. E esta é uma das consequências da tecnologia e arquitetura ocidental moderna.

Apesar de se reconhecer que para se manter em funcionamento esta aparelhagem moderna toda torna-se imprescindível um grande consumo de energia, o Japão atual já não tem mais condições de dispensar este tipo de vida. A arquitetura moderna do Japão já está baseada em construções de edifícios tipo arranha céu e usinas e fábricas neste estilo.

A terceira característica desta arquitetura se relaciona com o intercambio cultural de arquitetura com outros países.

Num cerimônia de casamento típica japonesa o noivo se veste à moda ocidental enquanto que a noiva se veste à moda tradicional do japão. Se se refletir sobre o assunto, esta se apresenta aos nossos olhos como uma combinação bem esquisita. Quando se pensa em termos ocidentais, talvez se considere isto como uma falta de harmonia e ao mesmo tempo muito contraditório. No entanto, aos olhos dos japoneses não há nada estranho, não há falta nem de harmonia nem há contradição.

Os japoneses simplesmente ligaram a cultura arquitetônica dos outros países com a sua própria. Embora isto possa ser chamado de ecletismo, não se trata vem disso. Foi uma forma de adotar a cultura arquitetônica de outros países sem entretanto negar nem criar novos valores baseados nela. Foi simplesmente um processo de justaposição. Esta tipo de “approach” aqui denominado “adicional” foi um dos motivos pelos quais os japoneses adotaram tantos conhecimentos da arquitetura de outros países.

Embora não sabendo por certo da futura utilidade destes conhecimentos, eles continuaram a adquirir sempre novos de uma maneira frenética.

Até agora, para alcançar o ritmo do desenvolvimento dos países avançados os japoneses concentraram todas as suas forças, mas daqui em diante vão ter uma contribuição ao mundo numa forma peculiar de sua cultura.

No Japão a arquitetura e as árvores não eram simples molduras feitas pela mão do homem, nem tampouco eram simples parte da paisagem ou mesmo decoração das cidades e aldeias, nem de receptáculos onde se vivia, mas sim faziam parte da própria natureza. Nesse sentido o Japão é um país de animismo que não difere muito da época primitiva. Por outro lado, a arquitetura japonesa é civilizada quanto a filosofia de criação e modo de vida que a a apoiam, sem se falar das suas formas, estruturas técnicas e equipamentos. Esses dois elementos acima descritos continuam se adaptando flexivelmente às mudanças sociais, econômicas, tecnológicas e internacionais que cercam a arquitetura, apesar de não possuir um “desenho integrado comum” como uma sociedade de arquitetura moderna.


Catálogo da Exposição A Arquitetura Do Japão 1984

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