Pedro Eymar: “A fascinante mística de um artista que prefere ver pétalas de rosa onde outros veem pó’’
Carla Bianca Carneiro Amarante Correia
Mestranda em História Social pelo PPGH/UFC- Ex-bolsista PIBI e atualmente voluntária do Núcleo Educativo do MAUC
Clotilde Mariana Campos Santos
Graduanda no curso de História/UFC- Bolsista PIBI do Núcleo Educativo do MAUC
Saulo Moreno Rocha
Coordenador do Núcleo Educativo do MAUC – Orientador.
Museus são feitos de, por e com gente. Contudo, nem sempre ficam evidentes as múltiplas e complexas relações e trabalhos que fazem com que instituições como museus possam emergir, se manter e se perpetuar no tempo. Neste Dia Internacional dos Museus, em meio ao cenário pandêmico que atravessamos, a maior crise da história recente da humanidade, museus de todo o mundo se mobilizam em torno do tema “Museus para a igualdade: diversidade e inclusão”, proposto pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM).
São inúmeros os desafios que ora enfrentamos, individual ou coletivamente. A valorização dos museus em tal cenário também se faz pelo reconhecimento e agradecimento àqueles e àquelas que os constroem, que os mantém e os animam, em todos os níveis e em todas as funções. Pensando nisso é que homenageamos o artista e professor Pedro Eymar Barbosa Costa, que por 31 anos esteve à frente do Museu de Arte da UFC (Mauc), na função de diretor.
“A afinidade que eu tinha com estes seres, estes personagens que habitam aqui o museu, era muito intensa, era de muita curiosidade.’’ afirma Pedro Eymar, professor, artista plástico e ex-diretor no Museu de Arte da UFC em uma entrevista realizada no dia 28 de maio de 2009, pela Revista Entrevista – projeto do curso de jornalismo da UFC em conjunto com a Imprensa Universitária – enquanto ainda estava à frente do Museu, revelando sua calorosa trajetória de buscas, encontros, tensões e desafios que o formaram como artista, docente e gestor, fazendo-o uma importante figura no imaginário artístico da cidade de Fortaleza.
A conversa com as alunas de Jornalismo ocorreu no próprio Museu de Arte e nela Pedro recupera importantes aspectos de sua trajetória, desde a sua infância, na cidade de Quixeramobim, cidade do interior do Ceará, no Sertão Central. Nas brincadeiras de criança surgiu uma mania de riscar. O primeiro diálogo com o universo artístico se deu por meio da literatura, por influência de uma de suas irmãs – Graduada em Letras -, mas a consciência acerca da arte e do desenho enquanto arte só se concretizou anos depois, no curso de Desenho ofertado no Conservatório Alberto Nepomuceno e ministrado pelo artista suíço Jean Pierre Chabloz, em 1964. A relação dos dois foi marcante e duradoura, com profundas ressonâncias. Sobre o desenho, afirma que se trata de uma construção expressiva, de uma dimensão quase psicológica e que nele descobriu uma forma de refletir sobre si mesmo, suas preferências no mundo e o mais importante, um objetivo: “encontrar quais eram as perturbações mais presentes dentro dessa coisa do próprio ser’’.
Nesta entrevista, o ex-diretor aborda sua trajetória na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará e compartilha que “a arquitetura é um celeiro de artistas’’. Entre as engenharias e o Direito e em meio à pressão do pai, optou pela Arquitetura, por ser o mais próximo que se tinha das Artes, revelando uma das características de muitos dos(as) artistas cearenses que, na impossibilidade de uma formação específica em Artes, recorreram àquele campo como possibilidade de formação. A UFC foi espaço onde conheceu pessoas fundamentais para sua construção e lugar de constante aprendizagem, da biblioteca à sala de aula, bem como nos espaços de convivência. Em 1972, movido pela inquietação e pelo cenário universitário difícil, ocasionado pela ditadura civil-militar e os seus horrores, Pedro Eymar se muda para o Rio de Janeiro, “botei os pastéis debaixo do braço, os papeizinhos e me mandei”. E relata que o sonho mal resolvido de fazer arte o mobilizou. A partida, a migração, compõe a história de inúmeros artistas cearenses, movidos pelo sonho de viver de arte, conforme registra a biografia de Raimundo Cela, Antônio Bandeira, Aldemir Martins e tantos e tantas. Após essas experiências e uma passagem por Salvador, retorna à Fortaleza e em 1974 passa a ministrar aulas de desenho na Casa Amarela, por intermédio de um grande amigo, o cineasta e crítico de cinema Eusélio Oliveira.
Ao longo de toda a entrevista há um diálogo sobre a dinâmica e relação de Pedro entre as suas duas identidades, a de artista e a de professor, os dois personagens que marcam sua trajetória enquanto sujeito e a sua passagem pelo Museu de Arte da UFC. Ingressa como docente na Universidade Federal do Ceará em 1979 e, e em 1987, passa a atuar como diretor do Mauc. Pedro Eymar compartilha na entrevista que a transição entre professor e diretor foi intensa, mas que a paixão e a grande responsabilidade para com a instituição o induziram a centrar seus esforços ali.
Aposentado em 2018, momento em que se afasta da gestão do Mauc, o artista e professor deixou sua forte marca nas bases que estruturam o fazer museal nessa instituição. Marcas essas que se externalizam de diferentes formas, como no circuito expositivo de longa duração, no zelo e cuidado na manutenção do acervo, no fortalecimento do museu como oficina de artes, para o qual foi central, ao criar, ainda na década de 1970, a Bolsa-Arte, voltada à estudantes da UFC e que instituiu uma modalidade específica de incentivo à produção artística coletiva no Mauc.
Suas marcas estão por todas as paredes e recantos do museu, principalmente pela disposição, coragem e inspiração que guiaram sua atuação pois, como é possível verificar na entrevista, o ex-diretor estava disposto a ver pétalas onde outros viam o vazio ou o pó. Por tudo isso e um pouco mais, foi homenageado em 2019 com a Medalha do Mérito Cultural da UFC, concedida pelo Conselho Universitário, instância máxima da instituição. Para os apreciadores e amantes da arte, a entrevista “A fascinante mística de um artista que prefere ver pétalas de rosa onde outros veem pó’’ trará inspiração e esperança em tempos melhores. “Espero que tenha tantos sonhos como eu tive na vida, pesadelos menos, mas muitos sonhos.”
Acesse a entrevista clicando aqui.
Fortaleza, 18 de maio de 2020.
Referência: EYMAR, Pedro. A fascinante mística de um artista que prefere ver pétalas de rosa onde outros vêem pó. Revista Entrevista, Fortaleza, n. 22, p. 44-57, nov. 2009. Entrevista concedida a Amanda Sampaio, Arilo Assunção, Artur Mota, Camila Gadelha e Monyse Ravenna de Sousa Barros.
Observações
- O texto da entrevista, ora resenhado, foi retirado do Repositório Institucional da UFC e pode ser acessado aqui.
- A produção da entrevista contou com a seguinte equipe: Produção – Ana Cristina Teixeira e Thais Martins; Texto de abertura – Ana Cristina Teixeira; Participação – Amanda Sampaio, Arilo Assunção, Artur Mota, Camila Gadelha e Monyse Ravena.