Exposição 2011.01 – Barrica – Exposição em Juazeiro – 26/02/2011
A Universidade Federal do Ceará tem a honra de estar presente às comemorações do Centenário da cidade do Juazeiro do Norte com pinturas em telas, desenhos e cerâmicas de seu filho ilustre Clidenor Capibaribe, o Barrica.
A iniciativa de expor os acervos significa oferecer ao público uma oportunidade rara e valiosa de conhecer um pouco mais um dos principais artistas do movimento moderno, discutindo as afinidades de sua arte, e a influência na arte cearense.
Essa mostra constitui uma contribuição para um momento de apreciação e reflexão artística na celebração da região.
Agradecemos a todos que tornaram possível sua realização; o programa de incentivo à cultura do Banco do Nordeste, a Universidade Federal do Ceará através do Magnífico Reitor Jesualdo Farias e, no Campus Cariri, o Diretor Ricardo Ness.
Aos gestores das instituições do Centro Cultural do Banco do Nordeste, Sra Jacqueline Medeiros, Sr. Lenin Falcão e do Museu da Universidade, o Sr Pedro Eymar, que cederam seus acervos.
A participação da Universidade Estadual do Ceará, através da pesquisadora Kadma Marques.
Os técnicos e funcionários que participaram da montagem e acompanhamento da exposição.
Adriana Botelho
Ms em Artes Visuais, profª UFC Cariri
Uma poética da cor
Barrica pertence à arte moderna, movimento que inicia com as discussões impressionistas, mas que tem seus fundamentos bem anteriormente ao modernismo.
Podemos observar características de sua pintura, dialogando-a com outros artistas, como Estrigas, Guinard, Chagall, Van Gogh, Matisse, ora em tema, ora em composição. Realço, no entanto, seu particular domínio no uso das cores, utilizando diversas gamas de tons que cria um ambiente iluminado provocando sensação de acolhimento se opondo, por vezes, ao estranhamento das formas. Podemos fazer uma relação com as cores e luzes do impressionismo, fauvismo, que muito se inspirou nas pinturas e esculturas africanas e japonesas. Há relação, também, com as cores dos artefatos e cerâmicas nordestinas e com as cores vibrantes do modernismo nacional na forma de composição e estruturação na pintura.
Seu conjunto de cerâmicas revela a matéria manipulada, esculpida no seu caráter orgânico.
Mas é a cor na sua forma sublime e poética que me induz a chamá-lo… o alquimista da cor… de uma tela margeada em tons escuros abre-se ao centro tons luminosos. Luz amarela, luz azul, luz vermelha… intensas, se apresentam em formas aplainadas, nos contornos quase liquefeitas, a encantar pelo colorido brumoso. Vez por outra adquirem formas de árvores, casas, um homem vermelho, uma mulher azul, a nos dizer que todos os elementos se convertem numa matéria elementar: a cor!!!
Adriana Botelho
Curadora
Barricas
Sobre Clidenor Capibaribe – o Barrica (1908 ou 1913-1993) – há sempre muito a contar e pouca certeza no que se diz. Há, porém, um vasto anedotário que permanece na memória dos amigos mais próximos e dos companheiros de arte que figuram um personagem tão espirituoso, quanto arredio; tão exigente quanto ao modo de se apresentar na abertura de exposições, quanto “relaxado” na experimentação que dava lugar ao uso de materiais mesmo os mais prosaicos na fatura de seus quadros… Parece que vários “Barricas”, correspondendo a facetas e talentos, habitavam aquele que um dia foi o menino gordo e atarracado que recebeu por isso esta alcunha.
Nascido na região do Cariri cedo se mudou com a mãe para a capital cearense. Inserido no campo da pintura na Fortaleza dos anos 30, notabilizou-se ao menos por duas vias: por haver participado ativamente da emergência de valores e instituições fundamentais à formação da esfera artística local e por ter desenvolvido formalmente um estilo próprio no tratamento de paisagens e figuras humanas.
A história das artes plásticas no Ceará passa de maneira inevitável pela presença de Barrica na fundação do Centro Cultural de Belas Artes (CCBA – 1941/1944) e da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP – 1944/1958), associações que congregaram os “artistas do pincel” em torno de ideais como aquele que manteve a realização do nosso salão de artes mais tradicional – o Salão de Abril – sob a responsabilidade da SCAP (1946-1958).
O reconhecimento de seu valor moveu assim esta mostra, trazendo a público um conjunto de pinturas e cerâmicas que são fruto de sua passagem pelo Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará e que hoje integram seu acervo. Este evidencia um momento ímpar de sua produção – aquele em que Barrica faz uma pausa em seu figurativismo, abrindo espaço para a experimentação formal que beira a produção abstrata – que deste modo familiarizará o público com a capacidade não só aglutinadora, mas inventiva deste artista que nunca deixou de ousar.
Kadma Marques
Dra. Sociologia da Arte
Barrica
Duas grandes comemorações cenarizam este reencontro com Barrica. O Centenário de Juazeiro do Norte e o Cinquentenário do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. Barrica é filho de Juazeiro. Um irrequieto desenhista, pintor e ceramista, predestinado para viver da arte, retirante do Cariri, dividido entre o Rio de Janeiro e Fortaleza. Nasceu em 1913. Na década de trinta já está em atividade no meio artístico de Fortaleza. Quase autodidata, pois aprendeu com Gerson Farias uma porção de coisas, e como quase todos de sua geração, frequentou o Museu Imaginário e dissecou Van Gogh, imortalizou-se por assimilar influências e delas afastar-se, construindo, num incansável exercício plástico, sua linguagem personalíssima. Depois de uma temporada no Rio retorna à Capital cearense para engajar-se na criação do Centro Cultural de Belas Artes. No início dos anos quarenta, Barrica atua junto à SCAP e frequenta os Salões de Abril. É um período marcante de sua afirmação temática e estilística. Louvado por unanimidade pela crítica local, recebe de Aluísio Medeiros uma atenciosa referência inflamada pela expressividade interior de suas paisagens, “do seu pincel molhado nas escuras tintas do sofrimento, nos seus céus de chumbo pesados”. Otacílio Colares impressiona-se com sua preferência pelas cores pouco definidas, por sua predileção por certos roxos e uns certos azuis esmaecidos, e pela sua recorrência temática focada nos “recantos meditativos de pontas de rua, de ângulos de muro, de praias desoladas e de estradas ensombradas ao crepúsculo”.
A década de cinquenta apresenta um Barrica personalizado e comercialmente aceito. Desenha com cores e as paisagens florescem de sua alma profunda para uma interface plástica tensa, onde matéria e gesto disputam com a figuração o primeiro plano da fruição estética.
É na posse desta força que, em 1957, Barrica é recebido e saudado pelo reitor Antônio Martins Filho no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal do Ceará, em uma exposição individual. Em 1961 está presente na exposição de Instalação do Museu de Arte da UFC. Ao lado de Chico da Silva, Sérvulo Esmeraldo e Raimundo Cela expõe sua vibrante interpretação dos subúrbios e abstratas composições em irreverentes jarros cerâmicos. Neste mesmo período instala junto ao Mauc uma oficina de cerâmica, provida de forno, do qual procedem muitas das cerâmicas que integram a presente mostra. Em 1963, no Mauc, abre a primeira página do livro de assinaturas de mais uma exposição individual ostentando com vigor o seu nome sobre a capa do catálogo aposto ao livro. Retorna ao Mauc em 71, apresentado simultaneamente pelo reitor Valter de Moura Cantídio e por Austreségilo de Athayde, quando apresenta um conjunto de vinte óleos. Em 82, mais uma vez no Mauc, realiza uma exposição individual promovida por sua mulher Hércia, em homenagem aos seus quase sessenta anos de atividade artística. São pinturas onde o artista afasta-se da visão do agreste, mergulhando suas paisagens numa concepção temática de natureza urbana. Em 90, Barrica encerra sua sequência de exposições no Mauc. Convida José Fernandes, Nice e Estrigas, e promove o retorno do scapiano Claudionor Braga. Como curador desta mostra exibiu toda a garra e a liderança que foram capazes de movimentar o meio artístico em Fortaleza nas ações coletivas dos memoráveis anos 40.
Os acervos da Universidade Federal do Ceará e do Banco do Nordeste do Brasil, aqui reunidos, sinalizam, por fim, para uma homenagem maior a BARRICA, em sua terra natal, através de mais uma exposição de desenhos, pinturas e cerâmicas.
Pedro Eymar
Diretor do Mauc