Exposição 2011.03 – Mauc 50 anos – 22/06/2011
A fundação do Museu de Arte da UFC
Em 1956, a sede da reitoria é instalada no Bairro Benfica, passando a ocupar o “palacete” da família Gentil. Na busca de uma identificação da Universidade com as artes plásticas, a reitoria passa a exercer um papel revelador da existência dessas atividades artísticas em suas mais diversas formas, do popular ao erudito.
Nos altos da edificação, o gabinete do reitor exibia o regionalismo de Raimundo Cela através de seu óleo “Rolando para a terra”.
No térreo, o Salão Nobre era estampado com um retrato de Martins Filho pintado por Oswaldo Teixeira, obra oferecida ao reitor pela sociedade dos assistentes da Faculdade de Medicina. É a partir deste “Salão Nobre” que vai ser deflagrado um permanente programa de atividades artísticas.
Este exercício de difusão cultural anunciará e afirmará a necessidade do futuro museu de arte através de um programa que se estenderá a diversas áreas da instituição universitária: além da reitoria, a Imprensa Universitária, a Faculdade de Farmácia e a Faculdade de Direito serão palco desses eventos propagadores de nossa arte.
Esse programa se fará visível a partir de 1957 e se prolongará até o ano de 1960, às vésperas da inauguração oficial do museu de arte, marcando o período pioneiro do que viria a se transformar no Museu de Arte da UFC.
Pioneiros e Fundadores
Os artistas que integram esta sala comemorativa do cinquentenário do Museu de Arte da UFC estiveram diretamente envolvidos com o processo de criação do MAUC, sob a liderança de Antônio Martins Filho.
São inúmeras as citações feitas por Martins Filho ao envolvimento de Zenon Barreto, Floriano Teixeira e Heloysa Juaçaba nas discussões preliminares em torno da ideia de criação do Museu. A sedimentação do futuro Museu como espaço expositivo recebeu desde as primeiras exposições no Salão Nobre da Reitoria obras de Vicente Leite e a presença viva de Estrigas, Barrica e Sérvulo Esmeraldo. Junto com a inauguração vieram Chabloz, Barboza Leite, Nearco Araújo, J. Figueiredo, José Feranandes, Nice e Sérgio Lima. Cela, Bandeira, Gadelha, Chico da Silva, Aldemir e uma lista densa de artistas populares alistam-se entre os pioneiros e têm suas presenças marcadas em salas especiais deste Museu.
Com um total de 41 peças o Museu de Arte da UFC oferece ao público uma visão expressiva do rastro de sua fundação.
O MAUC e e Arte no Ceará
A criação de uma Universidade é uma vitória do Iluminismo. O Ceará esperou, até 1955, para ter um centro de ensino, pesquisa e extensão. A Universidade veio no bojo de uma luta maior, pelo desenvolvimento. Circulava a ideia de que as novas instituições seriam responsáveis por uma ação cultural como nunca se tinha visto.
Logo, o Reitor Martins Filho iniciou a criação de uma coleção de artes, embrião de um futuro Museu. Investiu-se para se ter o acervo que se tem, valioso, do ponto de vista histórico, afetivo, e também, de mercado.
Raymundo Cela foi o primeiro cearense a conquistar um prêmio de viagem ao exterior, em 1919. A ruptura com o academicismo, proposta da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), trouxe uma geração independente e implantou o modernismo entre nós. Antônio Bandeira viveu em Paris e se alinhou com o abstracionismo lírico. Aldemir Martins, desenhista, pintor e gravador de Ingazeiras (Aurora), chegou a São Paulo, depois de conquistar espaço em Fortaleza. Vicente Leite morreu aos 40 anos, sem usufruir o prêmio de viagem ao exterior que ganhara.
O suiço Chabloz descobriu Chico da Silva a grafitar muros na praia, em Fortaleza. Assim, o índio do Acre passou a nos deslumbrar com suas cores e seus animais míticos. O mesmo Chabloz pintou os cartazes que levaram “soldados da borracha”, na marcha e fixação na Amazônia.
Estava formado o núcleo que daria respaldo ao Museu de Arte, inaugurado em junho de 1961. Antes, foram enviados emissários (Floriano Teixeira, Lívio Xavier Jr e Sérvulo Esmeraldo) ao Cariri, para a aquisição de xilogravuras, de santos e de cerâmicas.
O “Universal pelo Regional” se fez recolha “folk”, com peças de Noza, Walderêdo, Antonio Batista e na coleção estrangeira, que inclui Picasso, Miró, Soulages, heliogravuras de Dürer e Rembrandt.
O MAUC é um marco na arte cearense. Com ele, aprendemos a fazer exposições, a valorizar o acervo (com as salas especiais de Cela, Bandeira, Aldemir e Chico da Silva), e a ter um centro de pesquisa, de animação cultural, e de chancela da criação artística.
O que se fez de mais representativo nas artes no Ceará, nos últimos cinquenta anos, passou por estes salões, que foram se expandindo, ao longo do tempo, mantendo o espírito crítico, a coerência com o cânon, a possibilidade da transgressão, a recusa aos modismos, e a saudável subversão da ideia de gosto, e das categorias que se colocam, ainda hoje, de popular e erudito, de tradicional e contemporâneo.
O MAUC tem a coleção de artes mais importante do Ceará, em processo de tombamento pelo IPHAN nacional, e se inclui entre os museus universitários mais importantes do País. Trata-se de uma conquista nossa, e um patrimônio de nosso povo.
Devemos ter orgulho dele e vê-lo como uma ideia em movimento, como um processo (daí a importância da sala Descartes Gadelha), e não como apenas uma coleção que se guarda com seguranças, câmera e vidros blindados. É um privilégio de todos e não um deleite de poucos.
O MAUC é tudo isso: um acervo, uma intenção de interferir, uma recolha de documentos e uma biblioteca essencial. É o triunfo do espírito republicano, que só poderia mesmo vigorar em uma Universidade pública, gratuita e de qualidade.
Gilmar de Carvalho