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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1963.05 – Adhemar Albuquerque – 22/08/1963

(Transcrito do Catálogo)

Da Arte de Pintar Sonhos

O cearense Adhemar Albuquerque surgiu para a pintura aos 67 anos, numa idade em que muitos artistas dão por concluída a sua obra. Apesar de pintar somente há três anos, já revela A. A. um amadurecimento técnico, um sentido de composição, um apuro cromático que nos deixariam intrigados não soubéssemos que o artista exerceu por largos anos o profissionalismo fotográfico, o que decerto lhe favoreceu o insight para uma exteriorização artística forte e pessoal, tocada de inequívoca originalidade.

Esse artista primitivo, partindo da representação simbólica de conteúdos inconscientes, expressa-se dentro de um surrealismo intuitivo em que uma exuberante inventiva faz emergir, dos impulsos elementares da personalidade humana, a introvisão de um mundo bizarro e fascinante. São corujões e flores aberrantes, insetos formidáveis e seres míticos — expressões de ritmos vitais captados com um senso do drama e de mistério que surpreende.

Se por um lado as peculiaridades formais desse pintor revelam-nos um primitivo-surrealista, por outro lado, noutra fase da sua evolução artística, vemo-lo situar-se no elementarismo, a maneira de Gauguin. Estamos, portanto, diante de um pintor em estado de transição, mas assim mesmo com tendências comuns em todos os quadros, acentuadas nas suas últimas produções, e que denunciam uma exclusividade formal prestes a definir-se.

Mas, acima e além do que foi dito nessas brevíssimas considerações teóricas, temos a considerar a força atuante dos elementos simbólicos dessa pintura, a nosso ver de conteúdo puramente onírico, como se o artista tivesse desejado fixar em forma e cor aqueles sedimentos imemoriais que se ocultam no mais profundo de nossas mentes e de nossas almas. Daí, supomos, assaltar-nos esse sentimento de perplexidade diante dessas configurações insólitas, a suspeição de estarmos defrontando com algo que nos parece estranhamente familiar no seu lirismo extravagante ou nas suas sugestões macabras, às vezes vagamente aterradoras. E uma impressão que persiste e aparece em nossos sonhos.

A. Albuquerque expressa o mistério sem o violar com interpretações intelectivas, evoca nossa ancestralidade mística sem tentar desvendar o seu enigma ou propor a sua solução. Sua pintura possui uma grande força de comunicação porque nos restitui a pureza do mito através da linguagem simbólica – única de entendimento universal entre os homens.

José Maia


Obras Expostas

1- São João – Óleo s/ tela
2- Iemanjá – Óleo s/ tela
3- Janela – Óleo s/ tela
4- Dança Dos Átomos
5- Homem Primitivo
6- Macumba
7- Pacatuba – Óleo s/ tela C. P.
8- Feira no Interior – Óleo s/ tela C. P.
9- Metamorfose I
10- Metamorfose II
11- Borboleta – Óleo s/ tela C. P.
12- Gaivota
13- Paisagem Chinesa
14- Vulcão Fuji
15- Corujão
16- Visão do Além


Biografia

Adhemar Bezerra de Albuquerque nasceu em Fortaleza, 19 de julho de 1892.
Iniciou seus estudos no colégio do Anacleto e, posteriormente, com sua mãe, que foi a diretora do primeiro grupo escolar de Fortaleza.

Tendo perdido o pai aos dez anos de idade, foi obrigado a trabalhar para ajudar na manutenção da família. Já nesta idade o seu espírito criador e imaginativo fazia-se mostrar através de esculturas em madeira e pequenas maquetes de navios veleiros.

No esporte foi um dos grandes entusiastas, tendo-se destacado no ciclismo e futebol, na sua juventude, e posteriormente no tênis e no xadrez.

Casou-se em 1915, com Lasthenia Menescal Campos, de cujo consorcio nasceram nove filhos.
Foi um dos pioneiros da fotografia e da cinematografia no Ceará, tendo fundado em 1934 a ABA FILM.

Aposentando-se em 1948, depois de quarenta anos de trabalho no Bank of London, fixou residência em Belo Horizonte, onde fundou o Studio Albuquerque.

Em 1959 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde continuou com seu “hobby” preferido, a fotografia, dedicando-se também a pintura que em pouco tempo o absorveu totalmente.

Suas pinturas expressam a livre realização de seus sentimentos artísticos.


Catálogo da Exposição Adhemar Albuquerque 1963

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