Exposição 2003.02 – Cidade da Arte – Fortaleza 1943 – 28/04/2003
A exposição CIDADE DA ARTE – FORTALEZA – 1943, pretende (em uma passagem pelos registros históricos de documentos, imagens e de obras de artistas plásticos da época, pertencentes ao acervo do MAUC e do Minimuseu Firmeza) ambientar a Fortaleza de 1943, numa tentativa de retratar o ESTADO DA ARTE contido na arte, a partir de suas manifestações artísticas naquele ano. Apesar do clima de beligerância vivido, a exemplo de hoje, a riqueza e a pujança da produção artística local se fizeram representar de maneira marcante e histórica. A união e ousadia de artistas plásticos cearenses aliados a Jean-Pierre Chabloz, tornaram possíveis, dentre outros fatos: a realização do primeiro Salão de Abril, a descoberta, por Chabloz, de Chico da Silva e sua obra, a projeção dos trabalhos de Antônio Bandeira e Aldemir Martins, além de apresentar a singeleza e a inquietação das obras de Estrigas. A Mostra CIDADE DA ARTE – FORTALEZA – 1943 reserva ainda um espaço especial para homenagear o artista plástico ESTRIGAS, não somente pela importância e relevância de sua obra, mas, também, por ele ser o responsável pela preservação de boa parte da memória do processo de evolução das artes plásticas cearenses ao longo dos últimos 60 anos. Obrigado, Estrigas!
Prof. Fernando Antônio Sabóia Leitão
Coordenador de Atividades Culturais da UFC
Prof. Pedro Eymar Barbosa Costa
Diretor do MAUC
Um Salão – Uma História
Um Salão, uma História, um aniversário, nem sempre é o vestido novo, bonitinho, o bolo enfeitado, a bebida, os parabéns, abraços e alegria. Às vezes é uma nostalgia, uma falta, a ausência do que não houve, a interferência do que tirou a cor, o colorido que marcou forte o dia, o momento, e se desmanchou em nuances ficando no tempo como a luminosidade longa de uma estrela cadente. O Salão de Abril deve ter vindo, com certeza, no impulso contrário aos objetos mortíferos que cobriam os céus, em 1943, procurando acertar o alvo que mentes malucas se deliciavam destruir e apoderar-se da sobra. Há uma flor nos escombros, foi a resposta dos artistas. O Salão de Abril veio como uma flor rubra de arte e vida onde nove artistas fincaram seus trabalhos, mostrando que dispunham de algo melhor para festejar, comemorar, deixar no tempo, como exemplo, o testemunho de um pensamento maior que a História sempre se agradaria em refazer no seu caminho. E assim foi. Apagou-se o farol dos campos de batalha e acendeu-se a fogueira aquecedora e pacífica de S. João no segundo Salão de Abril, em 1946, e a trilha ficava marcada para sempre na acolhida constante. Eram os filhos da guerra nascidos e optando pela paz, e recusando toda a espécie de opressão onde o poder da força se impõe à força do direito, ainda que mal mascarados de democracia. O transcorrer do Salão de Abril foi um dizer constante dos artistas afirmando esses princípios, trazendo vida para a vida, através da arte, sendo parte integrante no processo histórico-artístico que vai se desenvolvendo no seu percurso e aumentando o bolo comemorativo onde todos se vestem de arte, contam as suas histórias, suas participações, seus desacordos e acordos. Não é um Salão furado, onde uma comissão mal jurada eliminou alguém, sem bem perceber o que fez, que destrói o bom artista, que o retira do permanente comemorar do Salão que é de todos e da História. Passando por cima de tudo, de todas as violências, de todas as guerras, imposições, ameaças, onde as potências de maior poderio dominam as mais fracas, os nossos artistas ainda reconhecem o valor mais alto da arte e o espaço mais convidativo do Salão de Abril para abrir esse baile de muitas artes, muitos artistas, muitos anos, e comemorar esses cinqüenta e quatro salões numa grande festa onde personagens, anfitriões, convidados, brindem, não só o Salão de hoje, mas todos os Salões, não só os grandes nomes, que por ele passaram, como pelos que sempre lhe fizeram a corte e ilustram sua história, porque o Salão de Abril é de todos e da permanência de todos os tempos. De 1943 para cá cinqüenta e quatro salões de abril vos contemplam e com eles todos os bons artistas que neles expuseram.
Estrigas
Abril de 2003
Jean-Pierre Chabloz
(Cursos e Atividades)
Nasceu em LAUSANNE (Suíça) em 1910.
Curso de Humanidades (Latim-Grego), em Lausanne, de 1920 a 1929, conseguindo o “Baccalaureat es-Lettres”, em 1929.
Estudos de Música, em Lausanne (Violino, piano, harmonia).
Vários cursos (Figura, Perspectiva, Artes Gráficas e Decoração, na Escola de Belas-Artes de Genebra – 1929-33).
Curso especial de Filosofia – e Didática – do Desenho, no Instituto Internacional das Ciências da Educação (Institut Jean-Jacques Rousseau) – Professora: Madame L. Artus-Perrelet – que divulgara o seu Método, no Rio e em Belo Horizonte – 1929-1931 – (Genebra, 1931-1932).
Primeiras colaborações a Jornais e Revistas da Suíça-Francesa.
Estudos musicais (Violino: Prof. Jean Lacroix – e Filosofia e Pedagogia Musical, no Conservatório de Música de Genebra – Prof. Edgar Willems, pioneiro da Renovação do Ensino da Música, atualmente de nomeada internacional. (Realizou um Seminário especial, na Bahia, em 1963).
Várias atividades artísticas e culturais (Cursos de Desenho, Jornalismo, Conferências na Rádio-Emissora de Lausanne – 1932-33).
Academia de Belas-Artes de Florença (1933-36) e de Milão – Academia de Brera (1936-38), conseguindo nessa Academia o seu diploma final (Licença), em 1938.
Desde 1934, várias exposições, na Itália e na Suíça – mais tarde em Portugal, no Brasil e na Suíça.
Primeira estada no Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo (Exposição, Conferências no Círculo Suíço, na Galeria “Casa e Jardim”, na Universidade de São Paulo, 1942. Em 1943, em Fortaleza, com várias atividades como propagandista do SEMTA (Serviço Especial de Mobilização dos Trabalhadores para a Amazônia), pintor-desenhista, músico (recitais e ensino de violino, no Conservatório “Alberto Nepomuceno”), conferencista e jornalista (1943-45). Colaboração com o Adido Cultural da Embaixada da França, Sr. Raymond Warniel (Rio, 1945).
Várias exposições, na Suíça – e Conferências (1946).
Segunda estada em Fortaleza, como pintor e músico (1947-48).
Atividades variadas, artísticas e culturais, na Suíça e em Portugal (exposições, recitais, jornalismo e conferências – 1948-59).
Terceira estada no Brasil (Rio de Janeiro, Brasília (publicação, na Suíça e em Portugal, de uma dúzia de reportagens sobre Brasília) e diversos artigos sobre o Ceará (1959-60). Colaborador, durante muitos anos, da “Tribune de Genève”.
Quarta estada no Brasil – de 1962 a 1970 – em Fortaleza, com as mesmas atividades culturais e pedagógicas (pintura/desenho, música, conferências, em Fortaleza, Natal, João Pessoa e Campina Grande (Paraíba). Vários Cursos de Desenho e Pintura, etc. – divulgando as bases pedagógicas da Professora Mme. L. Artus-Perrelet. No setor musical, violinista do Quarteto de Cordas do Conservatório de Música de Fortaleza e da Orquestra Sinfônica da capital cearense. Seminário, no Conservatório de Música de Fortaleza, apresentando os conceitos renovadores do Professor Edgar Willems, recebendo a Medalha de Ouro do Mérito Cultural (1965). Em 1964, recebeu da Câmara dos Vereadores de Fortaleza o título de “Cidadão Honorário de Fortaleza”, por serviços relevantes prestados ao Ceará.
Em meados de abril de 1970, J. P. Chabloz deixou Fortaleza, para fixar nova residência em Niterói.
Em 1974, retorna a Europa. No início dos anos 80, um quinto e rápido retorno a Fortaleza. Em 1984, retorna definitivamente ao Ceará, falecendo neste mesmo ano.