Exposição 2019.03 – À Flor da Pele: a pintura visionária de Stênio Burgos – 14/03/2019
(Transcrito do Catálogo)
Stênio Burgos no Museu de Arte da UFC
Em meio ás águas de março, José Stênio Burgos aporta no Museu de Arte da universidade Federal do Ceará trazendo à tona todos os nossos sentidos, nos deixando À Flor da Pele com sua exposição.
Chegando com a Primavera mais cedo ao Benfica, à UFC e ao Mauc, o artista nos apresenta através da sua obra toda a exuberância das flores, jardins e parques holandeses pintados em seu Ateliê Rozengracht, em Amsterdam. Apresenta-nos também, toda a beleza das paisagens cearenses vistas a partir do seu Ateliê Papapua em Amontada, onde podemos reconhecer as esculturas de Mestre Graciano que ornam seu jardim, as torres eólicas que são vistas ao longe no litoral cearense e o roçado de milho em seu quintal que nos traz esta origem sertaneja. Um painel com retratos dos amigos e familiares nos inquieta pela expressividade do olhar dos representados, assim como seu auto-retrato, pintado em 2014/2018 e que dá nome a esta exposição.
O artista e a exposição se fundem através da pincelada forte, da intensidade, da textura e volume da camada pictórica, quase tridimensional. A sua obra instiga o olhar do visitante, promove uma experiência singular de aproximação e afastamento, de reconhecimento e estranhamento da realidade. Destaca-se pelo impacto que causa aos nossos sentidos e à nossa imaginação.
Em 2005, ao lado do artista plástico Babinski, debuta em nossos salões com a exposição “Epifanias”, com curadoria do pesquisador e professor Gilmar de Carvalho. Em 2009 retorna ao Mauc com a exposição individual “Stênio Burgos: Pinturas”, ocupando toda a área destinada às exposições temporárias, com curadoria da pesquisadora Olga Paiva.
Com um tom mais político e politizado e comemorando seus 20 anos como arista plástico, Burgos apresenta ao público a exposição “À Flor da Pele: a pintura visionária de Stênio Burgos”, com 87 trabalhos e com a curadoria de Gilmar de Carvalho. Além disso, esta mostra se referencia na história do museu como a primeira exposição acessível aos deficientes visuais com duas obras disponíveis à leitura tátil e textos em Braille.
Neste rápido sobrevôo pela exposição podemos notar o quanto Burgos, com cidadão do mundo, se alinha ao lema da UFC e do Mauc “do Universal pelo Regional”, cunhado na década de 50 pelo criador da Universidade Reitor Antonio Martins Filho, e que se mantém vivo até os dias atuais. Pela terceira vez no museu, Burgos se reinventa como artista e se mantém fiel ao seu estilo artístico.
À Flor da Pele pulsa o coração do Mauc e da UFC!
Henry de Holanda Campos – Reitor da UFC
Graciele Siqueira – Diretora do Mauc
Ações educativas e acessibilidade à arte: construindo um MAUC mais inclusivo e plural
Até a primeira metade do Século XX, as pessoas com deficiência eram vistas pela sociedade como seres inválidos, incapazes de exercer qualquer profissão ou atividade social. Movimentos sociais e institucionais iniciados a partir da década de 50 mostraram que as barreiras impostas às pessoas com deficiência não decorriam de suas limitações físicas ou sensoriais, mas de uma visão distorcida que a sociedade tinha em relação ao seu potencial como seres humanos. Esse quadro foi mudando à medida que as pessoas com deficiência conquistavam seu lugar na sociedade.
Desde 2015 o Brasil conta com uma Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, resultado de décadas de lutas e mobilizações em prol da garantia de direitos às pessoas com deficiência. Nesse contexto, a acessibilidade é comprometida como um direito que garante à pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social.
Com o objetivo de aproximar as pessoas com deficiência ao mundo da arte, o Museu de Arte da UFC (MAUC) vem desenvolvendo ações que visam a inclusão e a garantia do direito de acesso universal à cultura e ao patrimônio. Exemplo disse é a exposição “À Flor da Pele: a pintura visionária de Stênio Burgos”, que acontece no MAUC desde o dia 14 de março. Pela primeira vez em sua história, o museu conta com duas obras de arte disponíveis à leitura tátil e textos m Braille, que contêm a descrição das peças e o texto de apresentação do curados da mostra, o professor Gilmar de Carvalho.
Além da inclusão de pessoas com deficiência visual, o MAUC tem investido no acolhimento de outros segmentos. Desde março de 2019, como parte do projeto de implantação do Setor Educativo do Museu, a instituição conta com a atuação da bolsista Jully Diozínio, do curso de Letras Libras da UFC. A presença da estudante vem colaborar no processo de implantação de visitas mediadas para o público surdo, além de possibilitar novos aprendizados para a equipe do Museu, que terá oportunidade de vivenciar oficinas destinadas à formação em Libras.
A promoção da cidadania e a garantia do direito de acesso universal ao patrimônio cultural vêm guiando o processo de construção de um Museu de Arte mais inclusivo e plural. As ações de acessibilidade até agora implementadas estão em sintonia com as políticas mais amplas adotadas pela Universidade Federal do Ceará com vistas a proporcionar acolhimento e respeito à diferença, no caminho de uma universidade cada vez mais plural e democrática. Visite o MAUC e participe dessa construção!
Carlizeth Campos
Helem Cristina de Oliveira Correa
Saulo Moreno Rocha
A pintura visionária de Stênio Burgos
Stênio Burgos nos surpreende com sua pintura. O que ele nos propõe é denso e implica um enfrentamento com tintas, pincéis ou a bisnaga com a qual grafita as telas, dando-lhes uma de suas marcas, a tridimensionalidade.
Ele pinta o que está ao seu redor. Sua obra é autobiográfica, daí a profusão de autorretratos, aos quais recorre, para mandar recados.
Além de autobiográfica, a pintura de Burgos tem sido um manifesto, que valoriza a estética e descarta os clichês.
A obra de Burgos é política sem ser panfletária. Ele não abre mão da beleza, ainda que busque a contundência. Retrata o cotidiano, pintando marinhas, cascudos, “roças”, brocados, a casa de praia, seus arredores e as torres das eólicas, suas vizinhas.
Retratar o cotidiano é um exercício de democracia. Os protagonistas têm em comum a valorização do trabalho que as imana.
Fincou suas bandeiras nos canais de Amsterdam ou na Beaux Arts, em Paris, fazendo do mundo uma grande aldeia.
Nunca fugiu do enfrentamento dos dilemas e enigmas que a pintura propõe. Luta, sofre, e faz disso a matéria prima de uma arte de excelência. Tem alegrias, como todos nós, e uma missão: pintar o mundo.
Suas telas se destacam no panorama cearense pale leitura pessoal, pelas soluções que apresenta, e pela indignação que ultrapassa o cotidiano, um dos seus pontos de partida.
Nunca reivindicou a condição de porta-voz do povo ou dos que fruem o que ele faz, com uma imprevisível e silenciosa fúria. Suas telas exalam uma tensão permanente. Ele não faz do vaso de floras uma natureza morta. Os buquês flamengos estarão mais vivos do que nunca, e são um “incômodo” por conta de sua beleza sem par.
Seus ancoradouros fazem tremular campos de flores (tulipas, peônias, lavandas, girassóis de Van Gogh), ou das especiarias, em uma abstração que não teria existido, se antes não tivesse existido Antônio Bandeira.
Ele não dilui, não parodia, não revisita, como se faz na chamada pós-modernidade. Ele cria, a partir do que viu, sonhou ou viveu, do seu repertório de sertanejo de Crateús (1954) e cidadão do mundo.
Burgos impregna tudo o que faz com o destino de Prometeu, condenado por ter roubado o fogo dos deuses para trazê-lo aos homens.
Este “herói civilizador” nos mostra a dimensão política da beleza, a saga do dia-a-dia e torna eloquentes os pequenos gestos, ao trabalhar com a ideia de um “deus das pequenas coisas” e dos grandes rasgos de luz.
Burgos faz parte dos contestadores, que propõe a ruptura, quando tudo parecia apaziguado, quando teóricos da vez anunciavam o fim da História.
O recomeço, ou eterno retorno, sempre esteve presente, como um dos grandes temas da filosofia, da religião, da ecologia, e das artes.
Ele é um transgressor que se reinventa, permanentemente. Não tem fórmulas, nem receitas para pintar. Não tem “fases”, como a lua. Sua pintura é um processo que oscila entre o excesso o barroco, e a limpeza dos traços do arquiteto, construindo pontes para o amanhã.
O momento que vivemos é o das nuvens de chumbo que antecipam o medo. Instalaram o retrocesso e o desmanche do que conseguimos com tanta luta. Muitos chegam a propor a censura da expressão estética.
Aturdido no meio disso tudo, Burgos nos aponta uma saída com a insolência característica da arte: “É hora de abrir uma exposição”.
Ele recorre ao Mauc, arena de sua guerra particular em favor da vida, da alegria, e da beleza. Leva a pintura de volta à condição totalizante e visionária, em um mundo que derruba fronteiras. Faz o elogio da diversidade, como proposta de um devir fraterno e igualitário, de um artista à flor da pele.
Gilmar de Carvalho
Exposições Principais
2003 – Exposição coletiva “Humanidades”, Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre – RS
2004 – Exposição individual “Terras e Céus”, Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre – RS
2005 – Exposição “Epifanias – Babinski/Burgos”, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará – MAUC, Fortaleza – CE.
Primeiro lugar na Categoria Pintura na XIII Unifor Plástica, Universidade de Fortaleza – CE, com a obra “Paisagem Urbana”, prêmio de viagem so exterior.
Exposição coletiva “A Reunião”, Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre – RS.
Exposição coletiva “Destaques 2005”, Centro Cultural Oboé, Fortaleza – CE.
2006 – Exposição coletiva”Copa com Arte”, Galeria Vicente Leite, Fortaleza – CE.
Exposição individual “Floração – Os Jardins da Nice por Stênio Burgos”, Museu do Ceará, Fortaleza – CE.
2007 – Exposição coletiva “Terra Adentro”, Galeria Tina Zappoli, Porto Alegre – RS.
Exposição individual “Stênio em Quatro Atos”, Galeria Vicente Leite, Fortaleza – CE.
Exposição individual “Schilderijen en Aquarellen”, Galerie The Doors, Alkmaar – Holanda.
2008 – Exposição individual “Burgos e jardins”, Galeria Ignez Fiúza, Fortaleza – CE.
Exposição coletiva “V Exposição de férias OBOÉ”, Centro Cultural Oboé, Fortaleza – CE.
2009 – Exposição individual “Stênio Burgos”, Centro de Estudos Latino-Americanos CEDLA, Amsterdam, Holanda.
Exposição individual “Pinturas – Stênio Burgos”, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará – MAUC, Fortaleza – CE.
Exposição coletiva “Mostra França-Brasil Ao Estilo dos Pintores Franceses”, UNIFOR – Universidade de Fortaleza – CE.
Participação na XV Unifor Plástica, na Categoria Pintura, Universidade de Fortaleza – CE.
Participação na Exposição “Estrigas: o contador da história da arte cearense”, Sobrado Dr. José Lourenço, Fortaleza – CE.
2009/2010 – Exposição coletiva “Estrelas do Norte”, Sobrado Dr. José Lourenço, Fortaleza e Casa da Cultura, Sobral – CE.
2010 – Exposição coletiva “Copa com Arte”, Galeria Vicente Leite, Fortaleza – CE.
2013 – Exposição individual “os riscos do bordado”, em homenagem a Nice Firmeza, Museu do Ceará, Fortaleza – CE.
Participação na Exposição “NicEstrigas”: Vida e Afeto”, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza – CE.
2015 – Exposição Individual “colorido Rozengracht”, Galerie Overstrom, Amsterdam – Holanda.
2016 – Exposição coletiva “Percursos”, Galeria Vicente Leite, Fortaleza – CE.
Exposição individual na Casa Cor Fortaleza – CE, com 12 bouquets em homenagem a Nice Firmeza.
2017 – Exposição individual “Sertão Holandês”, Museu do Ceará, Fortaleza – CE.
Exposição individual “Manual de Caligrafia e Pintura”, Centrum Sete Sóis Sete Luas, Ponte de Sor, Portugal.
2018 – Exposição Individual “Manuale di Calligrafia e Pittura”, Centrum Sete Sóis Sete Luas, Pontedera, Itália.
2019/2021 – Participação na exposição itinerante internacional de pequeno formato “Quixote el Sancho & Sancho el Quixote”, Museu Municipal de Alcázar de San Juan, Espanha.