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Exposição 1965.03 – Rendas de Bilro – 25/09/1965

(Transcrito do Catálogo)

RENDAS E RENDEIRAS… HISTÓRIA, LENDA, SUPERTIÇÕES, RENOME, GLÓRIA HUMILDE NA LEMBRANÇA PRAIEIRA…

Luís Câmara Cascudo
Trechos do Prefácio do livro Rendas e Rendeiras de autoria da
Profª. Maria Luisa Pinto de Mendonça

 

 

Nascido em cidade do Atlântico, com pescadores e sombras de coqueiros, vivi olhando as rendas nordestinas, usadas por minha mãe, guardadas por ela, financiadas às rendeiras que moravam nas praias, trabalhando nas almofadas, batendo os bilros sonoros entre o cajueiro lírico e a praia ornamental.
(…)
Uma dessas, numa praia do norte, cegando, rasgou os “papelões” para que nenhuma outra mulher tecesse a miraculosa ROSA DOS ALPES, a verdadeira que somente ela soubera fazer. As rendas vendidas de porta em porta, renda para enxoval, toalha de altar, roupa de batizado, não eram as melhores.
(…)
Assim iam as rendas para as mulheres dos Ministros de Estado, Presidente da República, Governadores prestigiosos. Rendas que, atiradas ao ar, desciam numa lentidão de plumas preguiçosas. LÍRIO DO VALE. SEGREDO DE NOIVA. BEM CASADO. FLOR DE JERUSALÉM. Eram os títulos que valiam tentações.
(…)
As rendas tinham história, lenda, supertições, renome, glória humilde na lembrança praieira. Ficavam faladas, citadas, recordadas. Depois os se desfizeram no tempo como flores secas inominadas e sem perfume sensível. Algumas senhoras de Ministros, de Senadores poderosos não acreditavam que fossem trabalho à mão. Encomendavam novas remessas que, às vezes, eram de impossível realização. Para satisfazer as rendeiras novas arremedavam as “antigas”, trabalhando depressa, batendo os bilros numa velocidade de mau augúrio estético. 1922 foi ANO DO CENTENÁRIO. O Presidente Epitácio Pessoa valorizava o trabalho brasileiro. Oferecia os frutos do artesanato, como nenhum outro e depois dele os Presidentes ficam acanhados de repetir o bom-gosto. A rainha Elisabeth da Bélgica recebeu rendas do Aracati. A procura doirou a produção que se multiplicou, um tanto deformada, mas sempre linda.
(…)
Para o etnógrafo a figura de rendeira ergue-se na média do artesanato como uma das expressões vivamente emocionais. A profissao não enriquece e o labor minucioso, tenaz, miúdo, apaixonante, não lhe dá retribuição.
(…)
A renda, vinda de Portugal e feita no Brasil pela mulher branca, passou às “crias de casa” no ensino diuturno, puxado palmatória e vara de marmeleiro, mamelucos, mulatas e curibocas. A rendeira, seja qual for o seu grupo sangüíneo, e discípula da mestra portuguesa. Discípula que desdobrou e melhorou o magistério, passando-o adiante, numa disseminação inconsciente, tenaz e proveitosa.
(…)
A renda denuncia um espírito reflexivo, cauto e calado, o recato e a disciplina da rendeira institiva, egressa de um colégio invisível e eterno.
(…)
D. Maria Luisa Pinto de Mendonça nesta “RENDAS E RENDEIRAS” amplia consideravelmente as indagações anteriores e expõe um documentário delicioso sobre a paisagem humana onde a renda floresce quase em produção espontânea.
Seus trabalhos iniciais, de feição pesquisadora, direta e local, ESTUDO DE ETNOGRAFIA RELIGIOSA DE JUAZEIRO E CANINDÉ e PEQUENO MANUAL DE ANTROPOGEOGRAFIA DO NORDESTE, credenciam uma nobre atividade científica que envaidece e rejubila todos os enamorados pela Cultura do Povo no tempo e no espaço.

Natal, junho de 1961.
Faculdade de Filosofia
Universidade do Rio Grande do Norte


Catálogo da Exposição Renda De Bilro 1965

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