Exposição 1971.02 – Pinturas de Nice e Estrigas – 16/09/1971
(Transcrito do Folder)
Não tenho notícia de dois artistas que, convivendo tão intimamente, sofrendo aparentemente as mesmas influências, vivendo juntos, ou melhor dizendo, como naquela nossa conhecida canção popular _ “bebendo a mesma bebida, comendo a mesma comida, respirando o mesmo ar”, cercados pela mesma paisagem, servidos pelo mesmo céu, pelo mesmo chão, apresentem, no entanto, uma arte tão diversa, tão independente, como este casal Nice e Estrigas.
Nice trabalha nos seus óleos sobre tela um colorido cheio de contrastes promove um violento choque de cores que todavia se unem e se harmonizam e dão como resultado uma pintura belíssima, rica em forma, em linhas, em cor, dominando em tudo uma nota extremamente pessoal, com absoluta liberdade de expressão. Seria muito difícil classificá-la dentro duma escola, tão inconfundíveis são sua capacidade criadora e sua originalidade.
São pássaros brancos que pela sua mão tomam movimento e graças, são figuras de mulher -e- criança que ganham um toque de profunda ternura, são casais que se abraçam (os homens sempre em azul), numa atitude de reflexão, de contemplação e de abandono, talvez de solidariedade e de apoio mútuo. Tudo na sua arte nada imitativa, toma movimento, toma um sentido próprio, toma alma e vida.
Só pássaros brancos que pela primeira vez uma exposição individual de Nice, ao lado de Estrigas _ ela que tem participado de tantas coletivas, que tomou parte em quase todos os Salões de Abril, a partir do 8°. É esta, pois, uma excelente oportunidade para apreciar um conjunto de telas suas e de observar não apenas o seu talento, mas ainda a linha de imensa unidade e de coerência que a pintora mostra em todas.
Estrigas, que é um dos nossos artistas mais pesquisadores, mais conscientes, mais pacientes e um dos maiores conhecedores da história da arte no Ceará (ele vala, sozinho, uma antologia e um cartório), traz aqui a prova e a confirmação da sua grande sensibilidade, sobretudo nestas oito aquarelas muito transparentes, muito cheias de nuanças, que eu fico me perguntando se são quadros ou são poemas, tão evidente é a poesia que salta aos olhos do espectador, diante destas paisagens, destes luares, destas madrugadas. Impressionam particularmente seu senso de perspectiva, a finura dos traços e a leveza das figuras.
Nos trabalhos de ‘pleo sobre tela, nestes doze quadros, Estrigas traz um semi-abstrato com o mesmo rico sentido poético, a mesma segurança, o mesmo bom gosto, o mesmo zelo, o mesmo talento e faz desfilar diante de nós suas cidades noturnas impregnadas de mistério. Tanto quanto elas, comovem estes pássaros-crianças, estas lavandeiras que transmitem uma mensagem de inegável pureza. Por acaso o nome delas, mesmo, não é “lavandeiras de Nosso Senhor?” E árvores, as árvores que o cercam no Mondubim, a seu modo, para a tela _ e entre elas e as cidades e os pássaros e as quadrilhas juninas _ de repente deita-se a vista em cima dum estudo abstrato, ou duma nuvem ameaçadora. Tudo isto que compõe o pequeno-grande mundo de Estrigas.
Uma beleza de exposição. Benza-os Deus.
Milton Dias
Algumas Referências Sobre os Dois Artistas
ERNESTO GUERRA
…(Os dois artistas marcam o fim de um período de nossa arte e o início de outra)…
Seguindo uma linha muito sua e quase única na moderna pintura cearense, Nice deverá apresentar vinte trabalhos que se caracterizam, fundamentalmente, por uma liberdade expressional e pictórica maravilhosa (trechos _ Unitário de 9/7/71).
(De um Catálogo Antigo)
ARTUR EDUARDO BENEVIDES
Estrigas é um dos artistas cearenses que dispõe de maior poder de criação, com uma técnica de composição que cada dia mais se valoriza e aprimora.
ALCIDES PINTO
Acima de tudo, Estrigas se distingue dos demais pintores cearenses pela firmeza pessoal e espontaneidade de seus trabalhos. Não leva muito a rigor a temática, mas, em compensação, sua alta sensibilidade e lucidez dispensam a balela de conhecimentos técnicos-estéticos mais aprofundados no campo da estreia das formas puras.
BARRICA
Sou velho na pintura cearense. Assisti todos os artistas da minha terra. Aprendi, ensinei e observei. Estrigas é um dos últimos da minha convivência: esquisito, teimoso e incompreensível, porém sincero e honesto no que produz.
ZENON BARRETO
É surpreendente o progresso que se processou nos trabalhos de Estrigas. Sem se afastar muito de suas características pessoais, ele surge agora mais positivo e espontâneo, sem a procura da invenção e sem o medo de errar. Há um abandono total de todos os canones que leva a maioria de seus trabalhos as raias do abstracionismo, e um transbordamento de emoções que se derrama sobre o papel num lirismo cromático comovedor.
Informes Biográficos dos Expositores
OS DOIS – Cearenses: ela de Aracati e ele de Fortaleza
Iniciaram seus estudos na SCAP (Sociedade Cearense de Artes Plásticas), em 1950, no Curso livre de Desenho e Pintura.
Exposições de que Participaram (entre outras) OS DOIS – “Salão de Abril”, várias vezes, principalmente pelo VIII.
I e II Salão dos Novos, em 1952 e 1953.
1° Mostra de Arte de Vanguarda.
Pássaro A Paisagem Cearense (no MAUC).
Salão de Maio (Casa de Raimundo Cela).
I Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará (Secretaria de Cultura).
ELE – Exposição Concretista.
Exposição Comemorativa da Instalação do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará.
I Salão dos Jornalistas (no Rio de Janeiro).
XXIV e XXV Salão Paulista de Belas Artes.
8°, 9° e 10° Salão Paulista de Belas Artes.
Museu de Arte Moderna da Bahia.
Prêmios Obtidos
OS DOIS – No II Salão dos Novos.
ELE – No X Salão de abril.
No 8 Salão Paulista de Arte Moderna.
Relação dos Trabalhos Expostos
Nice
Óleo sobre tela
Figuras – 1-2-3-4-5-6-7-8-9-10
Pássaros – 11
Máscaras – 12-13-14-15-16-17-18-19-20
Estrigas
Óleo sobre tela
Jangadas – 1-2
Noturnos – 3-4-5
Pássaros – 6-7-8
Humilhados e Ofendidos – 9
Composição – 10-11
Favela – 12-13
Aquarela
Paisagem – 14-15-16-17-18-19
Figuras – 20
Forma – 21