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Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1971.05 – Heloysa Juaçaba – 25/11/1971

(Transcrito do Folder)

“O mais profundo propósito na pintura tem sido sempre dar, através da côr e da linha, existência concreta a êste universo que aparenta estar sempre em contemplação”

(Piet Mondrian)

FRANCISCO DOMINGUES DA SILVA (CHICO DA SILVA)
Diálogo com Heloísa Juaçaba sôbre a natureza de sua pintura

H. J. Chico, você sabe que sou uma apaixonada pelas côres. Talvez tenha preferência por algumas e já disseram que o verde tem uma fascinação sôbre mim e tem marcado muito a minha pintura dêsses últimos anos. Sinto mesmo que, ao contrário de Mondrian, não posso dar as costas às janelas, para não perder a contemplação das árvores. A vegetação tem o encanto de seus tons e de suas formas; o sol lhes dá nuanças que inspiram outros tons. Verdade é que não copio a natureza. Procuro apenas interpretá-las. O verde também tinge o nosso mar e as marinhas também me seduzem. Essa introdução deve marcar o início de nossa conversa, pois você está vendo êsses meus quadros e desejo a sua opinião sôbre êles.

C. S. Quer dizer que eu vou ser o “interpro”?
H. J. É exatamente isso, Chico. Você vai interpretá-los com os seus sentimentos de artista.

C. S. O artista primitivo traz de dentro do pensamento a verdade. Pois eu acho que os seus quadros têm vida, côr e riqueza. As côres são alegres porque revelam a “visão” do que você sente. Sem “visão” nada se faz. Falo da visão da alma e do coração. Êsse azul, encarnado e amarelo são côres que vivem dentro do seu coração e elas nos dão alegrias porque não são côres “mortuárias” como o cinzento e o roxo. E o verde também é alegria.

H. J. Você recorda em alguns dos quadros a vegetação de Guaramiranga, onde você viveu alguns anos?
C. S. As folhagens e os pássaros de lá são tranqüilos como uma planta que o vento “acalanta”. Êsses amarelos são o aparecimento do sol iluminando as fôlhas do cafèzal, dos “arejos” daquelas montanhas, das coités dos canaviais. O seu espírito é que materializa a luz que joga na tela. As selvas parecem libertadas…

H. J. Chico, o que tem mais valor no quadro, a côr ou o desenho?
C. S. O desenho é o que a mão dá e a côr é o que o detalhe pede. A casa é engenharia e quadro é autonomia.

H. J. Qual o valor que você dá aos artistas que não são primitivos?
C. S. Todo pintor cria; portanto, tem cousa de primitivo na alma. Me disseram que Heloísa estava pintando um quadro tão bonito quanto o do Chico Silva e eu disse que não podia ser porque o que ela faz vem do coração e portanto só pode fazer o que é dela. Sua obra é o seu gênero: demonstrou, realizou, executou. Enquanto um artista viver, ninguém tira o que é dêle.

H. J. Você sabe, Chico, que um pintor pode mudar de estilo, de escola. Pode passar do pincel para a espátula, do desenho para a pintura e do moderno para o abstrato e mesmo para o cubismo. Todos êsses meus quadros têm pouca variação de técnica e de escola e poderiam se situar dentro do que já se chamou de “uma síntese geometrizada das figuras”. Qual a sua opinião?
C. S. Depende da fôrça de vontade. “Sentindo”, pode jogar na tela. Cada qual de cada qual pode ter o seu valor. Estando plantado dentro da mente e do coração do artista, é só aproveitar. Você pensa e logo depois não fala? E todo o pessoal não lhe entende? Pois, se você é pintor, pinte sentindo que todo o mundo gosta!

H. J. E o cubismo, Chico?
C. S. O cubismo é um clássico escultural. Em cada pedaço um triângulo e uma côr. O cubismo é detalhado em 25 pedaços. Êle é natureza morta e êsses quadros estão vivos, no alvorecer da madrugada.

H. J. Essas marinhas são recordações de portos distantes. Portos que vi e portos que gostaria de tornar a ver. Êles me dão um pouco de nostalgia misturada com saudades.

C. S. Êsses quadros você sentiu e plantou em seu coração. Essas pinturas são concentrações. O que sai de seu coração pode jogar na tela, mesmo quando a tempestade vem jogando os seus botes para fora do mar. Essas marinhas vibram. Dá saudades do mundo distante. São saudades que se diz com côres e o que você pinta é a recordação mais forte. Tudo vem de uma concentração. É uma poesia da madrugada chegando no pôrto.


Relação dos Quadros Expostos

Grupo A – Vegetação – óleo sôbre tela

1 – Pássaro amarelo nº II
2 – A Fuga
3 – Vegetação de Guaramiranga nºXII
4 – Composição com pássaros azuis
5 – Pássaro amarelo nºIII
6 – Em forma de primavera- Maranguape

Grupo B – Marinhas – óleo sôbre tela

7 – Recordação de Estocolmo nº IV
8 – Velas de Mucuripe
9 – O Retôrno
10 – Linhas Marítimas
11 – Ao entardecer
12 – Jangada em repouso
13 – Repetição por simpatia
14 – Recordação de Estocolmo nº V
15 – Jangada em reparo
16 – Marinha nº XI
17 – Marinha nº XII

Grupo C – Figuras – óleo sôbre tela

18 – Figura em campo verde
19 – Figura em campo vermelho
20 – Figura em forma de sonho


Catálogo da Exposição Heloysa Juaçaba 1971

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