Exposição 1974.01 – Hélio Rola e as Casinhas – 13/03/1974
Escolhi uma casinha de uma porta e uma janela, para através de uma geometrização – sem a intencionalidade racionalista abstrata – reduzir a paisagem urbana aos seus elementos iconográficos mais simples.
As casinhas, comecei a arrumá-las, tanto ordenada como desordenadamente, com a preocupação de conseguir um arranjo que tornasse indiferente o “em cima” e o “embaixo” do quadro. Nessa ocupação de arranjo e disposição, objetivando tornar a temática reversível, procuro também adicionar ritmo – para fins de composição – com a quebra inesperada do próprio ritmo periódico do trabalho. De modo geral, este tipo de projeto requer algum tempo para ser mentalizado. Prefiguro e avalio por algum tempo, tanto a estrutura como o esquema de cores e quando sinto que estou na trilha certa inicio a execução que, geralmente, é formal e meticulosa. Apesar disso, trabalho rápida e compulsivamente.
Na minha fase anterior, de caráter “fauve”, a compensação estava no ato de pintar. Cores primárias, violência de pincelada, a textura obtida, tudo tinha um equivalente emocional. Hoje, a propensão, reconheço, é mais intelectual. Entretanto, mesmo considerando que a feitura se reveste de alguns cuidados, sinto que o trabalho resultante é produto de maior inventividade, que para mim, lhe confere um certo ludismo. Enfim, procuro, através de um desenho repetitivo e de execução aparentemente, rudimentar, criar, pela simples justaposição de formas simplificadas, “realidades” reconhecíveis com as quais espero sugerir algo mais do que o apelo visual.
Hélio Rola
Fortaleza, março de 1974
Hélio Rola: do Ceará
Clique para ampliar Nesse crescente e auspicioso fenômeno do surgimento e reconhecimento de novos valores fora do eixo Rio-São Paulo, o nome do cearense Hélio Rola começa a deixar suas primeiras marcas. Em meio a certa variedade de tentativas, é já possível discernir alguma definição de caminho no desenho e na pintura que ele vem realizando à atividade de artista lado a lado com a de médico, no setor da bioquímica.
Evidencia-se, por exemplo seu interesse por uma figuração que se vai progressivamente simplificando nos elementos de linha, massa e cor, desde os retratos infantis tendentes ao “fauve” até os casarios resolvidos sob esquema flexível de geometria. Essa propensão construtiva, próxima às vezes de uma quase-abstração, serve-lhe, tal como em Volpi- seu ponto de apoio maior, como fonte- para acentuar os rudimentos do lirismo e da iconografia a fonte popular, submetendo-os a um jogo ótico que corresponde muito funcionalmente ao ludismo da espontaneidade expressiva recebida de sua origem nordestina.
Aqui, o casario – pura sugestão de formas moduladas em torno de uma máxima simplificação da realidade reconhecida- se adorna para a festa, as bandeirinhas o cobrem e o ligam de casa em casa, de calçada a calçada, num mesmo espaço ritmado. A pincelada refaz também o ludismo da própria redução do mundo exterior a analogias líricas nordestinamente enraizadas.
Roberto Pontual
Hélio Rola tem a vocação do artista. Mesmo ainda quando estudante de medicina, nunca conseguiu afastar essa espécie de fogo que o verdadeiro artista carrega dentro de si e que o leva sempre para os caminhos da arte; agora a arte brasileira vê-se reforçada com o ingresso definitivo de alguém que seguramente vai fazer uma bela carreira.
No conjunto de trabalhos de sua primeira individual em São Paulo, nota-se desde logo que Hélio consegue alcançar uma expressiva plasticidade, almejada por muitos e dificilmente alcançada, mantendo-se dentro de uma linha figurativa bastante livre.
Seu colorido é marcado pela agressividade das cores nordestinas e resulta de uma afinidade do artista com o ambiente natural que o cerca.. Daí, temos uma pintura alegre e poética, dentro de seus temas de barcos, marinhas, flores e casarios.
Além de tudo, vejo em Hélio Rola uma qualidade muito importante para um artista, qualquer que seja sua idade: a coragem de pesquisar sempre e de não se acomodar ou prender-se aos sucessos das pesquisas.
Como pintor, fico satisfeito ao constatar que nos vemos diante de alguém cheio de criatividade e preocupado em fazer boa pintura.
F. Rebolo Gonzales
São Paulo, abril de 1973
“Hélio propõe uma curiosa geometrização da paisagem urbana, linha de pesquisa das mais procedentes dentro da nova figuração”.
Walmyr Ayala
Jornal do Brasil, 1º de julho de 1973.
Biografia
1936 – Francisco Hélio Rola nasce em Fortaleza, Ceará.
1950 – Passa a receber orientação de desenho na Sociedade Cearense de Artes Plásticas.
1961 – Forma-se em Medicina, pós-graduando-se em Bioquímica na Universidade de São Paulo.
1967 – Passa a residir em Nova Iorque, até 1970, trabalhando como pesquisador no The Public Health Research Institute.
No mesmo período, estuda pintura com Joseph Tobin e Agnes Hart, no Art Studient’s League.
1971 – Participa da mostra ” Artistas do Ceará” no passo das Artes, em São paulo.
1972 – Recebe o ” Prêmio Governador do Estado do Ceará” (ex-aequo com Heloísa Juaçaba) na mostra Brasil-Plástica 72, Região Ceará- Acre. Participa da Mostra Brasil-Plástica 72 (Pré-Bienal), em São Paulo. Figura no XXI Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. Integra a mostra ARTE BRASIL HOJE – 50 ANOS DEPOIS, organizada pela Collectio, em São Paulo.
1973 – Em abril, inaugura na Galeria Opus sua primeira mostra individual em São Paulo, com 35 obras, entre óleos e guaches.
Individual na Galeria Ponto de Arte – Julho de 1974 – Rio de Janeiro.