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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1976.06 – Antonio Leite – 14/10/1976

Uma viagem sem fim

o artista é sempre um passageiro do nada em busca do tudo, ou vice versa. nesse seu caminho ele vai captando e soltando, pelos espaços percorridos, o tudo e o nada que foram o nada e o tudo no complexo mundo de sua existência. existência que o envelope de um modo muito particular.

Inútil alguém querer ver o trabalho do artista enquadrando-o na convencional visão das coisas. O artista penetra no mais profundo das correntes vibratórias da energia vital e coordena, com energia própria, toda essa onda de vibração, espalhada pela imensidão das imensidões, dotada de forma ou não.

Existem os artistas de curta e reduzida vibração, presos ao pequeno compasso da vida, e há os que se alongam elevando seu trabalho as profundezas dos grandes silêncios que envolvem toda verdade, todo mistério, toda a força, toda sabedoria, toda perfeição, toda grandeza e toda miséria que é parte da natureza, que compartilha com todos os seres e com aquilo que o homem criou na sua contraditória perfeição-imperfeição.

Os trabalhos que vemos nesta mostra vem de um artista que se alongou nessa segunda categoria. são bem pétalas de beleza rara, de flores escondidas que o artista colheu no seu caminho só por ele trilhado.

Sua percepção, que penetrou os grandes silêncios, nutrindo-se da energia mais pura, foi das coisas mais simples da vida aos mistérios mais controvertidos do relacionamento homem-natureza-universal, e conseguiu a conquista maior de o homem em si, não ser a contradição do artista em seu trabalho e o do viandante em seu caminha.

A harmonia que encontramos em todo o conjunto dos trabalhos de Antônio Leite, e em cada um individualmente, é uma lição e uma identidade com sua filosofia de vida onde nada deveria se agredir, o belíssimo colorido que se espalha, suavemente, em gradações de tonalidade, nos dá aquela paz envolvente que purifica e é purificação. As vibrações de cor foram induzidas a se mostrarem atraídas pela sensibilidade aguçada do artista. É o sol, é o mar, é o peixe, é o céu, as estrelas, o vegetal, o brinquedo, a criança, e tudo o mais, um momento universal de paz e amor em toda sua gama de beleza.

O mar, o sol, a vegetação, é uma constante em seu trabalho constante, neste ano de brasil em sua vida, principalmente na Ilha de Itaparica. A figura humana, na sua pureza, como a nativa de Berlimque, ou o lendário-real, como Lampião, perdem suas contradições, contraídas do meio, e surgem isentas de sentimentos menores. Também as imagens simbólicas dos poderes maiores da ordem universal estão aí representadas.

Ver os trabalhos de Antônio Leite, através de uma execução que obedece no mesmo grau o que o artista capta, é penetrar ou se deixar penetrar, em um mundo que não aprendemos a ver, mas desejaríamos ter, porém não temos porque nos desviamos e nos perdemos no convencionalismo estático que nos prende e cega.

Antônio Leite (Buca) iniciou um caminho na vida, iniciou um caminho na arte. Hoje, ele, o caminho e arte formam um todo homogêneo coordenado numa mesma dimensão num mesmo sentido, com um mesmo propósito.

Nascido em Fortaleza, criado no rio, amadurecido na Europa, onde tem cumprido vida artística, com exposição e pesquisas, Antônio Leite no brasil, para onde voltou em 1975, tem exposto em vários estados. Logo de sua chegada veio para Fortaleza tendo mostrado seus trabalhos na Casa de Cultura R. Cela. Daqui buscou a Bahia fixando residência em Itaparica. Expôs no ICBA em Salvador e também no Solar do Unhão no Museu de Arte Moderna. Na Igrejinha de Berlim que seus quadros foram apreciadas. Em Aracaju idem. Continuando seu caminho, muito mais aberto, e mais aprofundado no seu trabalho, Antônio Leite, após um ano, nos mostra o que resultou do seu confronto com o ambiente tocado por sua sensibilidade e aí estão os trinta e cinco trabalhos que o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará apresenta em sua sala de exposições. Eles impõe o silêncio e a admiração das belezas transcendentais e puras.

Sua viagem prosseguirá retornando a Europa e buscando, em seguida, a índia onde, com todo otimismo, pretende absorver, para seu desenvolvimento, a energia oculta do velho oriente que só se oferta aos eleitos.

Antônio Leite faz uma viagem na vida e faz uma viagem na arte. Jamais chegará ao fim porque uma se continua na outra sem perdão nem solução para ambas.

Estrigas
Mondubim, 4/10/1976


Relação dos trabalhos expostos

1. Beira do Mar
2. Caminho da Fonte
3. Fotografia do Rio de Janeiro
4. Do Tantra
5. Transporte
6. KRISHNA (Centro de Energia 1º Chacra)
7. Ficção
8. Gozo D’Alma
9. Nasceu o Sol na Praia de Berlimque
10. Saída
11. Águas de Marco
12. Paz
13. Gaivota de Marco
14. O Navegante
15. Sangue de Boi – Guardião da Ecologia
16. Presente a Iêmanjá
17. Saveiro no dia do Presente
18. Arueira e a Lavadeira

Col. Mini-Museu Firmeza

19. Berlimque
20. Lotus
21. Numa Paisagem Brasileira
22. Berlimque Concerto
23. Último Pasto
24. A Pipa do Rio de Janeiro
25. Sobre a Bahia
26. Om
27. Da Ecologia, da Vida, da Luz e da Evolução
28. A Pequena Nice da Natureza no Caminho da Fonte e um Companheiro Mágico
29. Sta. Catia Nativa
30. Terra
31. Creation
32. Lampeão
33. Estrada de Nazaré das Farinhas – Bahia
34. Da Chama
35. Claro


Catálogo da Exposição Antonio Leite 1976

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