Exposição 1982.05 – Tapeçarias de Carlos Morais – 13/07/1982
(Transcrito do catálogo)
Carlos Morais extrai do exercício da tapeçaria uma lição de valor exatamente sobre as fraquezas notórias e insuperáveis do gênero – a sua condição decorativa. Uma prova de grande inteligência. Porque o contrário disso é a exaustiva e já acadêmica variação em torno das aventuras têxteis exportadas pela Tchecoslováquia e a Polônia e que deram aos tapeceiros mais expertos uma saída honrosa da linearidade dos bordados e teares. É verdade que em todas estas tendências temos expressões talentosas e até criativas, mas nem a Trienal de Tapeçaria de São Paulo conseguiu disciplinar esta produção artesanal, em termos de exemplo amadurecido. Cabe exatamente à crítica, como sempre, o dever de organizar a grande mostra de tapeçaria brasileira que estamos esperando. Seria uma coletiva de poucos nomes, não mais que dez, cobrindo todas as tendências em voga. Enquanto isto não acontece, analisemos Carlos Morais que, com lucidez e elegância, consegue nos trazer uma novidade no campo de exercício das formas tecidas.
Nascido no Ceará, terra da mais alta criatividade e de uma imposição saudável de raízes populares, Carlos Morais trabalhou durante anos com pontos tradicionais da tapeçaria bidimensional, ousando alguns relevos e atendendo-se tematicamente às imagens regionais e imediatas da infância e da vida comunitária. As formas, como em painéis de mosaicos de civilizações primitivas, organizavam-se como quebra-cabeças espontâneos e sensíveis, com referências logotípicas de uma linguagem cifrada.Para o artista eram simplesmente as formas da memória infantil, armadas sem preocupação discursivas, mas desenvolvidas como um sistema sígnico. Em alguns trabalhos, e talvez por imposição de circunstâncias episódicas, destacavam-se personagens centrais, cangaceiros, borboletas, pássaros, etc., servindo o fundo como cenário auxiliar para o brilho dos protagonistas.
Como em toda a sua obra atual vibra uma contenção, uma estrutura coesa de grande prazer tátil, forjando objetos compactos e luminosos que põem em questão as percepções visuais sobre as técnicas da taipa, do sapé, das esteiras e das redes, todos objetos de utilidade doméstica e de aplicação na elementar arquitetura popular. Com isto Carlos Morais cria seu luxo, que é ainda e sobretudo um ato de amor pelo povo, sua pobreza e imaginação, sua resistência na proposta de termos artesanais autônomos e pessoais, contrapondo-se a um contexto de erudições transpostas de maneira requintada. Para os laboratórios pretensiosos dos vanguardeiros, Carlos de Morais está realmente na vanguarda da tapeçaria brasileira, não por que queria, mas porque a isso foi levado pelo trabalho, pela atenção, pela paciência e sobretudo pelo respeito sem subserviência, ao que se constitui hoje o nosso grande patrimônio criador: a mão do povo. – Walmir Ayala – Rio, março de 1980.
Carlos Morais – Nasceu em Fortaleza, Ceará, Brasil, a 1º de outubro de 1951. Iniciou suas atividades como Pintor em 1968, premiado no 1º Salão dos Jovens promovido pela Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Óleos
1968 – Fortaleza-Ce – Salão dos Jovens, com premiação
1969 – Fortaleza-Ce – III Salão de A. Plásticas Prêmio Aquisição
1969 – Fortaleza-Ce – Salão de Abril
1969 – Texas Coletiva de Primitivos
Tapeçaria
1969 – Fortaleza-Ce – 1ª Individual no Ideal Clube
1970 – Fortaleza-Ce – Individual – no Palácio da Abolição – Inauguração
1970 – Fortaleza-Ce – A bordo do navio Ana Néri
1971 – Rio de Janeiro – Galeria Montmartre
1971 – São Paulo – Individual – Galeria ” A Tapeçaria”
1972 – Fortaleza-Ce – Individual na Galeria “Gauguin”
1973 – Belo Horizonte – Individual na Galeria “Guignard”
1973 – Brasília – D.F. – Individual – Hotel Nacional
1974 – Rio de Janeiro – Individual – Real Galeria
1974 – São Paulo – Individual – “Galeria Kompass”
1974 – Geneve – Europa – Individual – Galeria Triptyque
1974 – Milão – Ialta Galleria D’arte Ítalo – Brasileira
1975 – Salvador-Bahia – Museu do Estado da Bahia
1977 – Londres – Textural Art Gallery
1979 – São Paulo – Museu de Arte de S. Paulo Assis Chateaubriand
1980 – Rio de Janeiro – Individual – AM Niemeyer Artinteriores
Coletivas
1971 – Nova Iorque Iramá Gallery (Karla Sampaio)
1971 – Brasília – Pintores Cearenses (Palácio da Justiça)
1972 – Fortaleza – Ce – Casa Raimundo Cela
1972 – São Paulo – Eucatexpo
1973 – São Paulo Bienal Internacional de São Paulo
1974 – São Paulo – 1ª Amostra de Tapeçaria Brasileira (Fund. A. Penteado)
1978 – São Paulo – Panorama da Arte Cearense – Paço das Artes S. P.
1979 – Fortaleza – Ce – Promoção do Colunista Lúcio Brasileiro
1980 – Fortaleza – Ce – 7º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará – Premiado
1981 – Salvador – Bahia – “Artistas do Ceará” Promoção UFC – UFB
1982 – Fortaleza – Ce – Galeria Inêz Fiuza – “Uma copa com arte”