Exposição 1984.08 – Otto Cavalcanti – 25/10/1984
(Transcrito do Catálogo)
A obra multifacética de um brasileiro universal
Há artistas que vivem e expressam um único sonho, uma ideia, uma obsessão. Outros revelam a consistência plural do múltiplo universo, polifacético e unitário a um tempo a um tempo, volátil e concreto. Um destes é Otto Cavalcanti: sua inspiração é delírio terrestre, eco das veias, geometria da alma; que é como dizer um reflexo dos paradoxos da luz, do sol que lava as formas em um pitagórico jogo de harmonia, e também resseca o rosto do homem e da terra até fundí-los num canto silencioso. O revivido sangue do artista lhe devolve à mão o poder de plasmar em belas formas, a vibração de cores, aquele reflexo.
Atilio Pentimalli
Poeta
O catálogo de Cavalcanti tem duas introduções: uma – a melhor é de Joan Josep Tharrats; a outra é minha. Eu faço um introdução que provavelmente é demasiado “culturalista”. Mas não pude evitar nesta introdução – nem poderei evitá-la aqui mesmo – ter em conta uma série de circunstâncias que, me parece, pesam sobre a vida e a obra desse artista.
Otto Cavalcanti é exclusivamente pintor, segundo creio. Porém, sua ação pictórica está absolutamente penetrada por uma mentalidade – e até por uma sensibilidade – arquitetônica. Não pela arquitetura dos construtores, mas pelo arquiteturismo de quem sabe ver a medida e a forma no mais flagrante do caos.
Assim, eu penso que esta peculiaridade de Cavalcanti não é exclusiva de sua pintura. Penso que, sem necessidade de que tenhamos que falar de uma arte conceitual ou formal, esse tipo de pintura tem fundas raízes no Brasil. A qual pintura, todavia, está unida ao movimento arquitetônico do Brasil por vasos comunicantes de muita diversa natureza. E aqui chega a afirmação do que pode ser “culturalista”, que não renuncio a ela, porque creio firmamente no que vou a dizer. Eu creio que a arquitetura – a racionalidade da construção frente ao escândalo da criação – a planificação da inteligência brasileira ao desafio da natureza transbordante. Dessa maneira, negativamente, se quisermos, eu penso que as forças da irracionalidade transbordante são, no Brasil, agentes criadores de razão…
Mas para voltar desde o Brasil a esse representante seu aqui, Otto Cavalcanti, efetivamente, o feito geométrico conta muito na elaboração da sua pintura. De todas maneiras, e para que não possamos identificar a sua arte com qualquer abstrato formal em uso, precisa ter em conta que Cavalcanti tem muito com o problema perspectivo. Tem em sua obra uma tridimensão efetiva, porque, claro, tem algo assim como uma insinuação figurativa…
Insinuação digo, porque simplesmente se assinalam linhas mestras de algum dado narrativo, sempre submetido à virtualidade geométrica ou arquitetônica, como se quisesse submeter à lei da arquitetura todo o organismo sem lei da própria vida. E outra coisa que a introdução de Tharrats indica oportunamente: sempre dentre dessa ordem a obra de Cavalcanti aponta um fenômeno de seriedade limitada a duas imagens – como se as coisas se refletissem num espelho e se oferecesse ao espectador tanto a imagem original como sua réplica -. Mas, mais que isso, o que explicita é a perfeita busca compensatória de todos os centros: do centro do quadrado e do centro dos objetos tratados, e a organização compensatória de todas as massas descritas em relação a um possível centro de gravidade.
Cavalcanti, sim, usa constantemente da perspectiva. A qual, é sim, uma utilização tridimensional… Mas o pintor, sem negar essa tridimensionalidade pictórica, por assim dizer, essa tridimensão, a devolve a sua condição formal, faz esquecer sua condição formal, faz esquecer sua perspectiva, converte – por exemplo – a um retângulo perspectivo num trapézio e, em sua obra, joga a “doble valencia”: a do quadrado que aleija uma de suas partes e a do trapézio propriamente dito… Essa é a dimensão, de certo modo ambígua – conscientemente ambígua -, que tem a obra de Cavalcanti.
Jose Maria Moreno Galván
Dizem os astronautas que é mais fácil realizar toda classe de trabalho no espaço cósmico do que ao rés do chão. Não há limites nos caminhos que eles exploram. Tudo é caminho. Pode-se trabalhar na posição mais extravagante que se nos ocorra, sempre que uma parte do corpo está fixa em algum lugar. No espaço não há planos verticais nem horizontais, nem parte superior ou parte inferior. No espaço as cores são algo mais que cores.
Otto Cavalcanti, um mergulhador no desconhecido para encontrar o novo, tem o privilégio – como os astronautas – da inteligência e da fantasia necessárias para verificar aquelas aparições que lhes perseguem. Tudo se anima quando o artista monologa sobre a superfície da tela muda. A consciência da mão no trabalho é a síntese de sua forma e de sua destreza. Labirintos radicais, corredores sem fim, prismas ígneos, esquemas totêmicos, “robots” imaginários brotam das profundidades de uma física poética que exclui toda distribuição monótona. Seus quadros são como testemunhos de afastadas urbanizações misteriosas que nos evocam os nomes de Mohenjo Daro ou de algumas cidades da América antiga perdidas nas imensidões dos Andes, do Amazonas ou do Yucatáu.
Cavalgando sobre auras musicais sonhadas, talvez, por Honegger, Berio ou Ligetti – o nome do pintor nos sugere inevitavelmente a ação do verbo – Otto Cavalcanti atua em ocasiões com perfeição simétrica. Existem como espelho em algumas destas pinturas mágicas; como repetições e correspondências de círculos, raios de luz, diamantes e estrelas que parecem surgir de um planejado matemático: ABCDCBA.
Inspirado nas paixões dos grandes criadores da pintura, Otto Cavalcanti está convencido de que o verdadeiro mundo dos artífices não é o poderoso e disparado universo descrito, com versos sonoros, pelos homens de ciência.
J.J. Tharrats
Trajetória Artística
1968 – Madrid – Exposição coletiva. Casa do Brasil.
1969 – Londres – Exposição coletiva. “Royal Society of British Artists”. Sala de Exposições “Hesketh Hubbart Art Society”.
Entrevista na Radio BBC.
Exposição Individual. “Lesley Adinsell Gallery”.
1970 – Londres – Exposição Individual. “The Robert Kennedy Memorial Art Exhibition”.
Paris – Exposição Grand Palais des Champs Elysées.
Brasil – Paraíba. Entrevista na Televisão de Campina Grande.
1976 – Exposição Individual. Galerias Skira. Patrocinada pela Embaixada do Brasil em Madrid.
Exposição Coletiva. Galerias Skira. Homenagem a Calder.
Riudellots de la Selva – província de Girona. Retrato “De los Sres de Batlle”. Fundação Art´tistica Ramón de Batlle.
1977 – Barcelona – Exposição coletiva. Galeria de Arte Joan de Serrallonga, apresentada por Galerias Skira.
Se edita um Manifesto Artístico escrito pelo artista, expondo suas teorias sobre “El Combinismo de Formas Visuales”.
Integrante do Clube de Sócios de Obra Gráfica da Galeria Joan de Serrallonga.
1978 – Barcelona – Retrato do Rei de Espanha, Juan Carlos I.
Exposição Individual. Centro de Estudos Brasileiros, convidado pela Associação Brasileira de Barcelona.
Retrato do Presidente da Generalitat, Honorable Jordi Pujol.
Exposição Individual. Sala Silver Star.
Apresentação do Retrato de Johan Cruyff. Galeria Joan de Serrallonga.
1979 – Sitges – Província de Barcelona. Exposição Individual Galeria La Nau.
Capellades – Igualada. Exposição Individual. “Museu Molí Paperer”.
1980 – Barcelona – Se edita Noticiário de Arte: Otto Cavalcanti
1981 – Riudellots de la Selva – Girona. Exposição Coletiva. Galeria de Arte. “Casa Pairal Can Batlle”. “Fundação de Arte”.
Barcelona – Exposição Individual. Galeria Rio Barna.
participação na Feira de Arte de Barcelona Parque de Montjuich – Apresentado pelas Galerias Skira.
Exposição Coletiva. Sala Gaudí – “8 Aspectos do Realismo Atual”.
Entrevista no “Correo Catalán” por pat Millet.
Exposição Coletiva. Jackson American Art Gallery.
Entrevista na Radio Miramar.
Benidorim – Alicante. Exposição Individual nas salas do Hotel Cimbel, apresentada por Concha Llorca.
Barcelona – Exposição Coletiva. Galeria Rio Barna.
1982 – França-Espanha – Exposição Itinierante – Homenagem a Picasso. Galeria Skira. Madrid.
Barcelona – Exposição Individual. Galeria Patrocinada pelo Consulado Geral do Brasil em Barcelona.
Exposição COletiva. Sala Gaudí. Arte Y Deporte 82.
Madrid – Exposição Individual. Salones Berkowitsch.
Vila-Fortuny – Terragona. Exposição Individual. Club de Vilafortuny.
Londres – Selecionado para a Exposição Coletiva Itinerante. Bush House. Homenagem aos 50 anos da BBC.
Barcelona – Exposição Individual. Galeria Joan de Serrallonga.
Apresentação por Lina Font. Galeria Mayte Muñoz, do Retrato do Papa Juan Pablo II.
Exposição do Retrato do Papa Juan Pablo II na vitrina de “El Corte Inglés” Plza. Catalunya.
T.V. 2° Cadeia. Arte sem palavras: Otto Cavalcanti por Sylvia Tortosa.
Entrevista na Radio Nacional por Lluis Quinquer.
Girona – Exposição Coletiva na Galeria Temps – Centro de Arte Isaac El Cec.
Palamos – Girona. III Mostra Havanera i Marina. Coletiva. Galeria de Arte Tramontana.
1983 – Barcelona – Exposição Individual. Sala de Arte. Casal de Sarriá.
Calonge – Girona. Exposição Individual. Sala Mayor do Castelo Medieval de Calonge.
La Bisbal – Girona. Exposiçaõ Individual. Salas da Planta baixa do Castelo Románico de La Bisbal.
Girona – Exposição Individual. Galeria Temps. Centro Isaac el Cec.
1984 – Barcelona – Feira Internacional de Arte. Palácio de Exposição de suas Obras no “Stand” do Marchand Alain Moreau.
Entrevista na Radio Auvi por Lia Kaufman.
Calonge – Girona. Exposição Individual en La Sala Mayor do Castelo Medievel de Calonge.
Cadaqués – Girona. Mostra Internacional “Zero Figura”. Galeria de Arte La Sirena.
Fortaleza – Ceará. Brasil. Exposição Individual. Sala de Arte do Museu da Universidade Federal, patrocinada por Lúcio Brasileiro.