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Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 2001.02 – Arte Menor: Rubem Grilo – 15/03/2001

Rubem Grilo – Caminhos da Razão

Às vezes Rubem Grilo parece trabalhar como se faltassem palavras para um universo e fosse necessário torná-lo presente em imagem. É como se Grilo pensasse com a faca de gravar, pensasse gravando. Pensar seria um corte na matriz. Nos últimos anos, Rubem Grilo foi acometido de uma estranha enfermidade. Existe no ar uma epidemia de imagens. O artista tem gravado milhares, muitos milhares de pequeninas matrizes que proliferam. O resultado é um inventário vasto, embora deliberadamente incompleto, que contradirá todo furor clasificatório. É como se Grilo esculpisse cada nota de uma monumental sinfonia. Por vezes, o que se anuncia é um (des)concerto: ” O trabalho tem muito de orquestração, como um Debussy, que põe uma nota e se entusiasma por ela. No fundo a linha, o ponto têm uma coisa musical”. O conjunto gravado é um imenso exercício de reconhecimento do espaço. Frente a essas áreas mínimas, Grilo vai gravando, operário de uma fábrica acelerada. Conclusivamente parece emergir uma constituição fenomênica do fluxo do tempo, para além do tempo interno de cada imagem e da dimensão pessoal da duração. O que se encontra, então, é uma pauta mutante de uma miríade de tempos condensada em rio do tempo. As minúsculas gravuras são efemérides, espiral do tempo, circularidade e ciclos incompletos, sincronia e diacronia, recortes do vazio, devaneios barrocos, desconstruções temporais, descontinuidades e interrupções, jogos da memória. Ao cabo, é uma obsessão do espaço, refeito cada vez – às vezes quase não importa qual imagem, mas sim o fato de que o plano se desdobra no tempo através do surgimento incessante de imagens. A essa existência autônoma emergente do espaço corresponde no conjunto a construção de um sobre tempo.

Essas pequenas jóias comportam-se freqüentemente – e nem sempre- como verdadeiros exercícios zen. “Meu trabalho é despossuído de certezas, solapa qualquer idéia de dar substância. É uma parábola da impossibilidade de fechar as coisas”, declara o artista, que acrescenta sobre sua exposição: ” O que dá concistência ao conjunto não é a forma, mas a linguagem da forma, a estrutura da forma, mais a individualidade que age neste campo”. Bachelard, em O Direito de Sonhar, afirma que para o gravador a matéria existe e que existe uma vontade matérica: o verdadeiro gravador começa sua obra num devaneio de vontade. Já Riva Castleman discute ainda como a matéria da xilogravura é operada por uma simplicidade básica. Isso parece ser o tema visual, econômico e ético da obra recente de Grilo. O artista deseja por a nu a simplicidade, que é também o que tem dado coesão àqueles distintos níveis de seu trabalho gráfico. Existe um humor instigante ao denominar sua exposição” obra menor”, porque Grilo promoveu uma virada radical na economia da obra. O intenso investimento aparentemente se dispersou em milhares de matrizes minúsculas e suas impressões parecem perder todo sentido de utilidades.

Cada gravura é tomada como um módulo e a articulação dos módulos cria uma linha gráfica, que em sua inserção no espaço da galeria absorve a função de um friso se o ” ornamento” arquitetônico não é da ordem dos efeitos arquitetônicos ociosos, mas um mecanismos para disparar o pensamento. Com as montagens, às quais Rubem Grilo tem se dedicado (MASP, 1992), as xilogravuras deixam o campo extremamente circunscrito e privado do seu fazer e fruir , deslocando-se para uma esfera pública. A soma visual rearticula o lugar do intenso investimento da ação gráfica. A adição visual de gravuras não será, nesse caso, “negação”, mas transformação da imagem minúscula e íntima numa questão de espaço arquitetural, quase monumental, próximo da idéia de instalação. A escala torna-se corporal, mesmo se projetada por aquilo que, individualmente, é dimensão do olhar delicado. Para o artista, a exposição, que mostra umas quinhentas imagens, projeta “transferir para a sala os mesmos problemas da mariz. O tamanho é tanto questão de escala quanto de interiorização. Ao interiorizar a imagem, muda-se a escala. A matriz, sua presença, reintroduz e reforma a questão do micro”.

Formas mais ou menos estáveis, mais ou menos reconhecíveis, algumas no limite de nada ser, como se cada imagem buscasse o limite de sua função objetiva de ser arte, quase não presença. Representação e abstração se equivalem depois de décadas de modernidade.. Tudo pode ser encontrado aqui: zeros e pontos (eles parecem recitar Kandinsky) : a ressonância do silêncio, habitualmente associada ao ponto, é tão forte como suas outras propriedades aí se encontrassem ensurdecidas), um Amílcar minúsculo (como no pequeno retângulo preto iluminado pelo corte, a partir do ângulo superior direito, por uma linha branca em diagonal), falsas estruturas e pernilongos monumentais ( alguns chegam a medir alguns centímetros), signos da simplicidade gráfica, vinhetas e letras de alfabetos parciais. Por vezes há uma ironização do minimalismo excessivo. O olhar hesita entre tudo reduzir a uma massa gráfica homogênea, a um fluxo uniforme de tempo, ao saldo consolidado do investimento da fatura; e deter-se na percepção de cada minúcia e seu monumento. Se as gravuras uma a uma são um quase nada, no conjunto formam uma teia de procedimentos, de imagens, de signos, de formas que recuperam uma legibilidade, reconformam um discurso. Incessantemente, o olhar pode buscar um sentido único, hesitar entre as ofertas do contínuo e do descontínuo. Mas nunca encontrará porto.

Paulo Herkenhoff


Biografia

 

Rubem Grilo (Pouso Alegre – MG, 1946) realizou as primeiras xilogravuras em 1971. De 1975 a1985, ilustrou diversos jornais: Opinião, Movimento, Folha de São Paulo, Retrato do Brasil, entre outros. Publicou em 1985, pela Circo Editorial, um livro com os trabalhos realizados entre 1980 – 1985. Entre outros prêmios, recebeu, em 1992, o 2º Prêmio da XYLON Internacional (Suíça). Tem trabalhos publicados em revistas especializadas como a Graphis e Who’s Who in Art Graphic (Suíça), Idea (Japão), Print (USA), entre outras. Participa, este ano, da XXIV Bienal Internacional de São Paulo.
Reside no Rio de Janeiro.


1946 – Pouso Alegre, Minas Gerais

1981 – Escola de Artes Visuais, Parque Laje, Rio de Janeiro

1983 – Galeria Baneri, Rio de Janeiro

          Primeiro Prêmio Salão de Gravura, Curitiba

          Prêmio Viagem, Bienal Internacional de Grabado, Montevidéu, Uruguai

1984 – Espace Latineaméricain, Paris, França

          Prêmio, Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro.

1985 – Galeria Sérgio Milliet, Rio de Janeiro e 98 Bienal Internacional de São Paulo

1987 – International Print Exhibit, Taiwan, China

          3º Prêmio Internationale Biennale der Grafik, Berlim, Alemanha

1988 – Biennial of Grafhic Design, Brno, Checoslováquia

1989 – Centro de Estudos Brasileiros, Assunção, Paraguai e 97 International

          Biennial of Graphic Art, Iugoslávia Bienal de Havana, Cuba

1990 – Bienal de Gravura, Amadora, Portugal

          International Biennial Exhibition of Graphics, Tuzia, Iugoslávia

          2º Prêmio Xylon, International Triennial Exhibition of Artist Relief Printing, Winterthur, Suíça

          93 Prêmio Internazionale Biella per L’Incisione, Biella, Itália

Série Bengalas para principiantes 1993 – Centro de Criatividade, Brasília

          Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal

          International Print Triennial, Álvar Aalto Museum, Finlândia

          Prêmio, Melhor Exposição Individual de Gravura,

          Associação Paulista de Críticos de Arte, São Paulo

1994 – 96 e 98 Bienal Liberoamericana de Arte, Cidade do México

          Print Biennale Belgrado, Iugoslávia

1995 – Escola de Artes Visuais, Parque Laje, Rio de Janeiro

1996 – Centro Cultural Banco de Brasil, Rio de Janeiro

          International Print Exhibition, Winterthur, Suíça

1997 – International Print Triennial 97, Cracóvia, Polônia, Reflexão 97, Curitiba

          98 Museu de Arte Moderna, São Paulo e Casa França – Brasil, Rio de Janeiro

1998 – Atelier Finep. Paço Imperial, Rio de Janeiro

          Museu de Arte Moderna, Salvador

2000 – Expo 2000, Hannover, Alemanha

2001 – Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), Fortaleza – Ceará


Rubem Grilo – Xilogravura

Obras Expostas

Frisos figurativos – 2 x 11,5 cm
Capitulares e vinhetas tamanhos variados
Pontos figurativos – 1 x 1cm
Quadradinhos – 1,5 x 1,5 cm
Linhas – 1 x 11,5 cm
Barras gráficas – 4,7 x 1 cm
Signos – 1,5 x 1,5 cm

Série Objetos imaturos:

Bengalas para principiantes – 10,5 x 2,5 cm
Copos para abstêmios – 4,5 x 3 cm
Chaleiras para recém-casados – 3 x 4,5 cm
Sapatos de 2ª linha – 2,5 x 5 cm
Óculos para conferentes – 2,7 x 6cm
Luvas de cortesia – 3 x 4,5 cm
Cadeiras para equilibristas – 5 x 2,5 cm
Cachimbos para fumantes inveterados – 3,5 x 4,5 cm
Pregos para kit multiuso – 5,5 x 1,5 cm
Cadeados para arquivo incompleto – 5 x 3,5 cm
Tesouras de arremate – 3 x 8 cm
Penas – 4 x 1,5 cm

 

 

Visitas de estudantes:

Centro Federal de Tecnologia – CEFET CE

Grupo Esquiva de Capoeira – Caucaia

Colégio Estadual Liceu do Ceará

Direito UFC

Escola Rotary Club São Miguel

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