Exposição 2004.03 – Medalhas de Antônio Martins Filho – 16/06/2004
As condecorações que um homem coloca no peito são marcas que irão fixar-se em sua biografia como atestados do reconhecimento do público a sua inteligência, liderança, talento e tantos outros predicados que, de uma forma ou de outra, se tornaram notórios.
As medalhas outorgadas ao Professor Martins Filho, ao longo de mais de meio século dedicado ao Ensino Superior, são essas marcas tangíveis que se vinculam fortemente à imagem de semeador de universidades e que iluminam ainda mais sua eterna memória. Hoje, as medalhas que um dia reluziram no peito de Martins Filho, auscultando o ritmo de seu magnânimo coração, estão expostos neste Museu de Arte, que nasceu como vigoroso rebento de sua sensibilidade para as coisas do espírito e que agora representa um dos mais valiosos patrimônios da Universidade Federal do Ceará e de todos os cearenses.
São quase 60 medalhas, medalhões e colares, cobrindo uma trajetória que vai de 1947 até os nossos dias, mesmo porque o acervo inclui homenagem póstuma prestada ao grande mestre depois de sua partida, há dois anos e meio. Cuidadosamente preservadas pelos familiares, diligentemente identificadas, essas peças se constituem numa espécie de narrativa, que deixa de compor a história individual de Antônio Martins Filho para incorporar-se à história do Ceará, à história da Educação em nossa terra.
Um dos homens que moldaram a face do Ceará moderno, projetando sua influência ao longo de mais de meio século, Martins Filho continua como personagem principal da crônica desta Universidade Pública, que preserva os valores por ele assentados há 50 anos e que ingressa no século XXI como uma das maiores universidades federais do País e com indiscutível liderança regional em termos quantitativos.
Aqui, homenageamos Martins Filho, no centenário de seu nascimento, e também assinalamos o cinqüentenário de criação da Universidade Federal do Ceará. Na ausência do Reitor René Barreira, que se encontra fora do País em viagem de trabalho, declaro aberta a Exposição de Medalhas do Reitor Antônio Martins Filho, uma homenagem ao mestre que tantas distinções recolheu em sua trajetória terrena e que, hoje, decerto, ilumina outros campos e outros campi com o brilho de seus galardões, com o fulgor de sua inteligência
Ícaro de Sousa Moreira
Vice-Reitor da Universidade Federal do Ceará
Medalhas de Antônio Martins Filho
Minhas senhoras e meus senhores:
O grande objetivo da Medicina Preventiva é evitar as doenças e, por conseguinte, permitir um aumento sobrevida dos seres humanos ofertando a todos uma vida digna, útil, de qualidade, com a saúde e, como se vangloriava Martins Filho, GRAÇAS A DEUS, LÚCIDO! Complementando essas idéias, a Geriatria, a Ciência que cuida das pessoas longevas tem, entre suas finalidades, fazer com que o período de invalidez, que geralmente antecede o fim de nosso período na terra, seja o mais curto possível.
Nesse aspecto, o fundador da nossa Universidade nos deu uma grande lição de vida, pois até agosto de 2002, não obstante a idade avançada, vinha trabalhar diariamente na UFC no Programa Editorial da Casa José de Alencar. Todos se lembram do nosso Reitor Agregado chegando na sua sala, ajudado pelos seus amigos, para tornar mais um sonho em realidade, isto é, a publicação de um livro novo.
No presente ano comemoramos o cinqüentenário de fundação da UFC e centenário de nascimento do seu fundador: o Reitor dos Reitores. Os familiares de Martins Filho, solidários com as festividades do corrente ano, quiseram mostrar com a presente exposição as medalhas que ele recebeu durante sua profícua vida de muita luta e trabalho. As autoridades civis e militares, nacionais e estrangeiras, clubes de serviços, entidades de classe e particulares, reconhecendo seu trabalho procuraram através dessas condecorações homenagear aquela personalidade que em vida deu muito “de si antes de pensar si”, um idealista pela causa da Educação! Essa exposição é um reflexo do reconhecimento dessas autoridades pelo grande trabalho por ele desenvolvido.
Martins Filho adorava a poesia e Augusto dos Anjos era o seu poeta predileto. Ele não se cansava de recitar VANDALISMO que dizia:
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos…
E erguendo os gládios e brandindo as hastas
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem de meus próprios sonhos!
Meu pai sempre foi um homem otimista e sonhador. Se eu tivesse a liberdade de fazer algumas modificações no soneto que ele gostava de declamar, trocaria o título de VANDALISMO para OTIMISMO e alteraria o último terceto assim
Para o desespero dos iconoclastas
Construí a imagem de meus próprios sonhos!
Com essas modificações caracterizaria muito bem o verdadeiro Martins Filho!
Professor José Murilo Martins
Títulos, Medalhas e Condecorações
Quando assumi, pela primeira vez, a Reitoria da UFC, já constavam de meu curriculum vitae alguns títulos para mim importantes, tais como os de sócio efetivo do Instituto de Ceará, da Academia Cearense de Letras e da Sociedade Brasileira de Direito Aeronáutico, de Membro Honorário do Instituto Argentino de Derecho Comercial (Buenos Aires) e de Titular da Société Française de Droit Aérien, de Paris.
Era, igualmente, possuidor de algumas medalhas de mérito, em virtude de minha participação em certames literários e científicos, somente em nosso País.
Não há dúvida de que meu currículo se foi, efetivamente, enriquecido, na medida em que eu exercia as funções de honroso cargo de Reitor de uma Universidade que, dentro de pouco tempo, tornou-se realmente importante.
A primeira condecoração que recebi foi do Ministério da Marinha, que me agraciou com a Medalha do Mérito Naval, no Grau de Comendador, por serviços prestados à Educação Nacional.
A cerimônia, realizada em Brasília no dia 13 de dezembro de 1960, contou com a presença do Senhor Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, sendo também agraciados os cearenses Senador Francisco de Menezes Pimentel (Grande Oficial), deputado Expedito Machado da Ponte (Comendador) e Tenete-Coronel Tácito Theóphilo Gaspar de Oliveira (Oficial).
O Governador Juracy Magalhães recebeu as insígnias de Grande Oficial e o então General-de-Brigada Ernesto Geisel, a quem fui apresentado pela primeira vez, foi condecorado com o grau de Comendador.
Sei que a iniciativa daquela honraria com que fui distinguido partiu do então Ministro da Justiça, Armando Falcão, que acolheu sugestão do seu auxiliar imediato, meu ex-aluno e sempre amigo, Bacharel José Bonifácio Câmara.
Aquela primeira condecoração contribuiu para intensificar as minha relações com os comandos militares federais, sediados em Fortaleza.
Em virtude dos meus estudos em matéria de Direito Aeronáutico, muito me aproximei do Comandante e dos Oficiais Superiores da Base Aérea de Fortaleza. Tive até a ocasião de solucionar, por ali, por instrumento da Universidade, um problema que se fazia sentir, e que era o da instalação e equipamento de um auditório para palestras e conferências.
A Aeronáutica foi muito generosa na avaliação dos serviços que lhe foram prestados pela Universidade, por iniciativa minha, tanto assim que me outorgou a Medalha de Prata “Mérito Santos Dumont”, numa solenidade bastante expressiva, realizada na Base Aérea de Fortaleza.
Quanto ao Exército, teríamos necessariamente de ter um relacionamento maior, em virtude de nossa vinculação com a Escola Preparatória de Cadetes e, principalmente, com o Centro de Preparação de Oficiais de Reserva – CPOR.
Em relação a Escola Preparatória, além da cooperação que prestamos para a melhoria do ensino de Física, passamos a editar, a partir de 1957, o Anuário do Conselho de Professores, tendo como principal finalidade transmitir, a todo magistério militar, informações de natureza pedagógica e de atividades culturais
O Anuário, impresso nas oficinas gráficas da Imprensa Universitária, foi editado durante anos sucessivos, como uma contribuição da Universidade Federal do Ceará ao ensino militar em nosso Estado.
Quanto ao CPOR, o compromisso que espontaneamente assumimos foi mais significativo. Primeiramente, procuramos dar solução ao problema das práticas desportivas; para isso, com recursos oriundos das nossas rendas próprias, construímos uma quadra, no parque interno do Centro. Depois conseguimos, junto ao à Comissão de Orçamente da Câmara Federal, a aprovação de uma emenda que concedia à Universidade dotação suficiente para a construção de um Pavilhão de Alojamento, para aumentar a capacidade daquele Centro. A importância, mediante convênio, foi entregue a 10ª Região Militar que, por intermédio do Serviço de Engenharia do Exército, encarregou-se da construção do Pavilhão, sendo a despesa suplementada com recursos destinados àquela unidade militar.
Como desejava liderar um movimento, no sentido de que os CPORs passassem a constituir um Departamento das Universidades Federais, à semelhança do que acontecia em algumas instituições universitárias dos Estados Unidos da América, diligenciei, no sentido de conseguir recursos para um segundo Pavilhão de Alojamento, o que efetivamente se verificou. Mas a idéia de transferência dos CPORs para as Universidades não foi aceita pelos altos escalões do Ensino Militar do Exército, tendo como principal argumento a necessidade de rotatividade de sedes dos mesmos centros, de acordo com as conveniências regionais.
No dia 24 de novembro de 1961, por ocasião das comemorações da Batalha do Tuiuti, me foi oficialmente entregue em Fortaleza, a Medalha do Pacificador, que me havia sido concedida pelo Marechal Odílio Denys, Ministro da Guerra.
Meses depois, chegou ao meu conhecimento que os Comandos do CPOR e da Escola Preparatória de Cadetes, por intermédio e com a aprovação do Comando da 10º Região Militar, tinham deliberado pleitear em meu favor uma homenagem ainda mais expressiva.
Efetivamente, no início de 1964, época que transitou por Fortaleza o então Ministro da Guerra, general Jayr Dantas Ribeiro, compareceu ao meu gabinete um Coronel, ex-Comandante do CPOR, com o objetivo de me informar, em nome do Titular da Pasta do Exército, que me havia sido concedida a Medalha do Mérito Militar.
Logo depois, adveio a Revolução de 31 de Março e, em conseqüência, todos aqueles processos de condecorações teriam sido arquivados, segundo noticiário da imprensa.
A ninguém é admissível pleitear honrarias que, em qualquer hipótese, terão de ser conquistadas.
No meu caso, porém, uma vez que um Oficial Superior do Exército me fez uma comunicação em nome do Ministro da Guerra, acredito teria sido razoável que eu tivesse ao menos uma palavra sobre os motivos que determinaram o arquivamento do processo da anunciada condecoração.
Mas a verdade é que , na vigência da nova ordem estabelecida, aquele entusiasmo por possíveis serviços que eu teria prestado ao CPOR, à Escola Preparatória de Cadetes e a outras instituições militares sediadas no Ceará, arrefeceu sensivelmente, não obstante o meu relacionamento pessoal com o Presidente da República e Chefe da Revolução, Marechal Castelo Branco, que conhecia a minha conduta e sabia da minha luta contra a subversão e contra a corrupção, preservando assim a honorabilidade da instituição universitária por mim dirigida.
Registro ainda, neste ensejo, que me senti muito feliz em ter sido agraciado pelos Governos de alguns países da Europa. Primeiramente a Espanha, que por intermédio do Instituo de Cultura Hispânica, de Madrid, me outorgou a Placa de la Espanidad. A seguir a Alemanha, que me concedeu a maior condecoração outorgada a personalidade de país estrangeiro – a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito da República Federal da Alemanha. E, já ao término do meu quarto e último mandato como Reitor, a República da Itália me fez a outorga da Medalha da Ordem do Mérito, no Grau de Comendador.
Devo ainda destacar que, por ocasião das solenidades do décimo aniversário de instalação da UFC, com a presença de reitores das universidades brasileiras, altas autoridades, professores e convidados especiais, o Governador Virgílio Távora, em ato solene realizado no dia 23 de junho de 1965, houve por bem outorgar-me a “Medalha da Abolição”, a maior Comenda que o Governo do Estado confere às personalidades que tenham prestado serviços relevantes ao Ceará. Naquela oportunidade, Sua Excelência encerrou o seu discurso com as seguintes palavras:
“Professor Martins Filho: pelos grandes e assinalados serviços prestados ao Ceará e ao seu povo no setor de cultura, pelo muito que lhe deve a terra cearense da projeção cada vez maior conseguida no conceito da opnião nacional; pelo amor de que tem dado exuberantes provas, em toda uma existência a serviço da inteligência, queira receber, traduzida nessa Medalha da Abolição que lhe é conferida, a expressão do reconhecimento de sua terra e desta gente, as mais elevadas e nobres aspirações.”
Essas honrarias representaram, em verdade, um lado bom de minha vida, como Reitor da Universidade Federal do Ceará.
Antônio Martins Filho