Exposição 2005.07 – Arte & Transportes – 23/08/2005
Apresentação
Distinguido pela escolha do meu nome para a direção do Serviço de Documentação do Ministério dos Transportes, em substituição ao meu velho e caro amigo Antônio Olinto, nosso atual adido cultural em Londres, tudo tenho procurado fazer no sentido de corresponder à honrosa designação e ao apoio fraterno dos companheiros de trabalho, objetivando, sobretudo, a obra de engrandecimento nacional para a qual o Presidente da República convocou há pouco todos os brasileiros e que, na área dêste Ministério, impõe-se por um elenco de grandes e múltiplas realizações, sem paralelo em sua história mas que secular.
Reflexo desta atmosfera que anima hoje a pasta dos Transportes em seu gigantesco esfôrço em prol do nosso desenvolvimento, não foi difícil ao serviço de documentação manter o seu elevado padrão de eficiência e de produtividade, realizando progressos consideráveis nestes últimos dois anos, através de uma conjugação das fôrças mais expressivas da inteligência e da sensibilidade de nossa vida cultural. A par da intensificação de suas atividades de caráter técnico e administrativo, se tem assim também esmerado êste órgão, com resultados dos mais animadores, no propósito de estimular a produção artística e literária vinculada ã problemática dos transportes. Trata-se, aliás, de diretriz fixada por determinação superior, a fim de elevá-lo e conservá-lo em aperfeiçoamento constante, de acôrdo com uma linha que lhe permita melhor alcançar suas verdadeiras finalidades.
O presente álbum, que se insere como um acontecimento digno de relêvo no quadro de nosso movimento artístico, bem demonstra o acêrto da orientação adotada por êste veículo de comunicação social, que, dentro de suas atribuições específicas, tem procurado, por todos os meios a seu alcance, difundir a idéia de que a causa da emancipação econômica do País, arrancando-o do atrazo em quem tem vivido para o pleno aproveitamento de suas potencialidades, é uma tarefa que depende do esfôrço de todos os cidadãos, devidamente motivados para atender aos apelos dêste momento histórico. Pois, conforme as belas palavras do Ministro Mário Andreazza, “a tensão que nos atinge resulta da patriótica aspiração de ver o Brasil avançar para um destino que signifique uma autêntica expressão de grandeza, aureolada pelos raios da esperança e da fraternidade”.
Murilo Miranda
Transporte não é apenas o ato ou efeito de levar pessoas ou coisas de um lugar para outro – é também enlevo, entusiasmo, arrebatamento. E ainda – quem não teve essa experiência, no tombadilho de um navio ou na janela de um trem? – um sentimento de lirismo, de embalo, mistura de esperança e de saudade, mas sobretudo um gosto de aventura e libertação. Avanço ou fuga, o que importa é ir em frente, é ir além, e mais além…
Foi fácil, assim, a Murilo Miranda convencer um grupo de artistas a fazer quadros sobre o tema dos transportes.
Cada um deles respondeu à sua maneira: Djanira com um belo São Cristóvão de gosto oriental a transportar o Menino Jesus, e uma composição que parece o projeto de um imenso painel das máquinas de terra, mar e ar; Scliar com seus barcos adormecidos nas águas sonhadoras de Cabo Frio; Iazid Thame com uma BR que demanda o infinito e um patético fordeco de vísceras animais; Frank Schaeffer com o pesado casco negro de um cargueiro encostado ao cais, e um poderoso avião que devora os azuis da distância com uma voracidade de seláquio; Wanda Pimentel com duas sóbrias e belas composições em gradações de cinza e violeta, os contornos marcados a traço negro, como em um vitral; Helena Maria Beltrão de Barros com um carro de bois e um trenzinho do Corcovado atulhado de turistas pitorescos; Roberto Magalhães com um caminhão e a pequena, patética locomotiva que vive na infância de todos nós; José Lima com o perfil de uma asa ou cauda de avião e os faróis vermelhos de um carro possante que avança; Renina Katz com estradas e viadutos em linhas discretas caminhando para os sóis e luas de amanhã; Glauco Rodrigues com amontoados inteligentes de formas e sugestões e, num deles, todo verde e amarelo, uma senhora cantando evidentemente “Meu Brasil brasileiro” para um índio assustado; Paulo Roberto França com um barão do Império numa rede levada por dois escravos, e um ginete assírio; Ana Letycia com duas composições ordenadas com sábia simplicidade mas intimamente atingidas pela confusão lírica das setas e sinais que apontam para todos os rumos; João Henrique balançando as folhas de suas bananeiras junto a canoas humildes – aqui estão 13 artistas, uns já coroados de glórias, outros batalhando em pesquisas, outros apenas começando, 13 artistas brasileiros que aceitaram o tema e o viveram, cada um a seu modo.
Há porém, um nome que não assina nenhum desses trabalhos, mas cuja sensibilidade participa de todos – Dionísio Del Santo foi quem executou as serigrafias com sua perícia paciente e insuperável. Foi ele quem deu a regra e o tom para ordenar este mutirão de beleza.
Rubem Braga
(O presente álbum foi publicado pelo Serviço de Documentação do Ministério dos Transportes, em dezembro de 1970.)
Autores das Serigrafias
Ana Letycia
Carlos Scliar
Ajanira
Frank Schaeffer
Glauco Rodrigues
Helena Maria Beltrão de Barros
Iazid Thame
João Henrique
José Lima
Paulo Roberto França
Renina Katz
Roberto Magalhães
Wanda Pimentel