Exposição 2006.06 – Homenagem à Mariza – 08/06/2006
Bilhete para Mariza
Ôi guria. Quando assim eu a chamava você contrapunha: – Quê que há meu guru. – Hoje, não tenho mais resposta. Sua voz emudeceu. E mesmo se havia um guru nem eu era.
Com você aprendi e você nem desconfiava. Com seu trabalho, percebi melhor o que a arte manifestava no seu encontro com a vida. Compreendi o diálogo do sentimento com a razão, da expressão com a forma, da técnica com a estética, da criatividade sem perder a identidade do conteúdo no seu sentido social, resultando o trabalho, dentro da boa marca qualitativa que dá personalidade artística ao que é feito.
Vi o seu empenho em conseguir realizar, com o melhor resultado, aquilo a que se propunha fazer. Você era um exemplo de dedicação ao seu destino, artístico ou não, e de desprendimento no tocante ao reconhecimento de seu trabalho no balcão comercial da arte.
A você importava a arte, de boa qualidade, no contexto da vida, vida que você sempre viveu com estoicismo e dignidade, certa ou não. E aí, guria, foi assim até o fim.
Um dia você partiu; não teve tempo para despedidas e hoje é uma lembrança difusa trazendo o passado para mais perto de nós e penetrando num futuro que só se explica interrogando.
Lembro você, sim, bem adolescente, nascida em Sobral, chegando a Fortaleza, vinda de Brasília, onde já se iniciara na pintura.
Salvo engano, eram os anos setenta.
Aqui fez curso de gravura com Misabel Pedrosa quando ela esteve em Fortaleza. Militou, ativamente, no meio artístico cearense onde exercitou e desenvolveu o seu potencial, e sensível aos problemas sociais, sua vida foi atraída por outras solicitações.
Lembro também o seu atuante espírito de solidariedade.
E aí, guria, a vida lhe deu aquele repuxo e você disse ausente, mergulhou e só retornou anos depois. Enfrentou a vida, enfrentou o trabalho, deu exemplo de auto-domínio, força de vontade, filosofia de convivência com a vida em seus múltiplos aspectos. A cada lição de vida respondia com outra.
Você foi uma das melhores pintoras e gravuristas nossas, e nem sabia. E nunca se colocou como tal. Mas eu sabia, assim como sabia de suas qualidades. Por isso você fica.
E por isso eu lhe digo, neste bilhete, você ausente é a presença lembrada, compartilhando, conosco, do que também é seu. E esta exposição é você em sua arte no apoio da nossa lembrança participando do que é seu. Ela é sua.
Explico-lhe, aqui, também, que este texto eu fiz questão de ser o autor, já que você sempre me escolheu para escrever sua apresentação nos catálogos de suas exposições.
Não podia ser diferente agora, nesta exposição de hoje, com seus trabalhos reunidos, aqui no MAUC. Para isso contamos com a receptividade da Angela Gutiérrez e do Pedro Eymar, e o MAUC os apresenta, em sua homenagem.
Naturalmente você é a convidada de honra, homenageada com seus próprios trabalhos, com a exposição deles, e nossa lembrança.
Estamos todos à sua espera na certeza de sua presença.
Um abraço do colega
Estrigas
Biografia
Maria Luiza Viana (Mariza)
Nasceu em Sobral no dia 14 de dezembro de 1951. Pintora, desenhista, gravurista, professora de educação artística. Iniciou-se na pintura em brasília, na década de sessenta. Em 1969 fez curso de gravura com Misabel Pedrosa, em Fortaleza. Participou de inúmeras coletivas no Ceará, outros estados e no exterior:
– Salão de Abril (prêmio de incentivo no 26º)
– Exposição Pró-Anistia em 1970
– Salão Maio-Mulher (2º lugar em 1977)
– 3º Salão Norman Rockwell (prêmio de incentivo)
– Salão CDL (prêmio do júri popular em 1988)
– 50º Salão de Abril (prêmio de gravura em 1999)
– Mostra Internacional na Espanha em 1998
– Salão de Sobral em 1998 e 1999
– MAUC, na década de setenta, pelo ressurgimento da SCAP
– Unifor, em 2004, na mostra Constelação de Pintores
– Salão Internacional da Gravura, no Florean Museun, na România em 2004/2005
– MAUC, em 2005, com o Grupo Cinco ou Mais de Cultura e Arte, do qual fazia parte.
Individualmente Mariza expôs na Livraria Ciência e Cultura e também no Conservatório de música Alberto nepomuceno onde fez o Curso Superior de Música. Fez sua penúltima individual, em 1999, intitulada Xilomariza, com textos, em catálogo, de Gilmar de Carvalho, Martine Kuns e Estrigas. Mariza também fez estamparia, escreveu e ilustrou livros infantis. Era uma leitora que encerrava bons conhecimentos.
Faleceu no dia 24 de julho de 2005 em Fortaleza.