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Exposição 2009.01 – In Corporeo – 01/04/2009

In corporeo dá início às atividades do EIIC

Com curadoria de Mariana Smith, Wellington Jr e Silas de Paula, a mostra trouxe fotografias, instalações e vídeos instalações que propõem ampliações, extensões, hibridismos, esquadrinhamentos e outras experiências que trabalharam com a relação do corpo e a imagem videográfica.


Trabalhos expostos

 

 

 

Ainda estou tentando
Jussara Correia
(2004)

 

 

 

Retrato em 07:29 e Auto-retrato em 07:28
Autores: João Vilnei e Isabel Nogueira
Câmara: Gravado com um celular Nokia 5200
Formato:.3g2
Local: Banheiro do Bloco 13 das Residências Universitária do Campus
de Santiago – Universidade de Aveiro, Portugal – (2008)

 

 

 

 

 

Variação I (O Regresso de Ulisses)
Alexandre Veras
(2008)

 

 

 

 

 

Ação 04
Yuri Firmeza
(2004)

 

 

 

 

 

Cenobio
Edmilson Júnior
(2006)

 

 

 

 

 

Mixomatosis
Solon Ribeiro
(2008)

 

 

 

 

 

Extermínio
Beatriz Furtado
(2008-2009)

 

 

 

 

 

Contenção
Waléria Américo
(2008)

 

 

 

 

 

Retrato
Karim Aïnouz e Marcelo Gomes
(2009)

 

 

 

 

 

O Reandrógino
Eduardo Escarpineli e Marina de Botas
(2008)


Exposições de fotos


in corporeo: sobre a poiesis do corpo

Avatar único de todos os mundos possíveis, o corpo é, no entanto, uma ficção, uma invenção. Ele não existe. Não assim de modo absoluto, finalizado e naturalizado como a obnubilação da lida cotidiana com ele faz crer. Qualquer idéia de remate final ou limite vai por terra à primeira tentativa de exame. Esse corpo pronto, modelado à imagem e semelhança da perfeição, é um texto, uma narrativa exemplar, um mito, e cumpre a função mítica de apaziguar, pelos opostos, o incômodo diante de um desejo nunca de fato realizado. A substância fisica organizada, o organismo biológico cingido por uma membrana sensível e porosa, a pele, não é objeto suficiente para um interpretante cuja natureza é caracterizada pelo inacabamento. Essa insuficiência semiótica tem sua gênese no ato simbólico da nomeação, aí, quando, em nome da lei, do denominador comum, da generalização, o campo semântico aplicado ao termo privilegiou o que nele dizia respeito às ideias de unidade, conjunto, de coisa monolítica e simples, em detrimento das idiossincrasias, da talidade, da complexidade, da possibilidade, do devir.

Incorpóreo é um desses signos cujo significado não se estabelece senão por uma série de desdobramentos, negações, dúvidas, ambiguidades que se instauram entre a raiz da palavra, o prefixo e o sufixo. Na dobra que é este nome, o corpo é negado e reafirmado moto perpétuo. Estranhamente, sob o signo da qualidade do que não tem corpo, de sua negação, ele, o corpo, vai recuperar o que, pelo nome, lhe foi vilipendiado. Se, como função, o prefixo insiste em negá-lo [aqui, propositalmente grafado “in corporeo”: porque, no vazio aberto pelo espaço, o prefixo adquire o significado diametralmente oposto, potencializando a tensão interna ao representamen], não pode fazê-lo a menos que pressuponha-lhe a existência. Não parece que se trate do signo de uma ausência total de corpo, mas de uma existência dúbia, intermitente. Ora é, ora não é.

Aparentemente trata-se de um problema de ordem meramente terminológica, cuja solução dependeria apenas de adequação entre significante e significado. Poder-se-ia argumentar, ainda, que a falta é inerente a qualquer signo, claro, na medida em que é sempre pelo outro, sem jamais ser o outro em si. Contudo, se o fato de sempre elipsar algo do objeto põe o signo sob suspeição, as representações do corpo são duplamente suspeitas: por sonegarem como as outras, sim, mas, e principalmente, por [re]criarem, melhor, imaginarem o/um corpo. Porém, foram elas que – enquanto toda e qualquer tentativa de representação absolutamente realista do corpo ao longo da história resultou sempre malograda e equívoca – modelaram o corpo (o de carne o do desejo!).

Não se trata de definir um corpo, porém de criá-lo. Não de finalizá-lo, mas de enxergar na abertura do inacabamento a única possibilidade de subsumir a determinação do pronto, do finado; morto. É sobre essa poiesis do corpo que trata “in corporeo”: ampliações, extensões, hibridismos, esquadrinhamentos, duplicações, metamor- foses, amputações e próteses, numa tarefa sempre renovada e infinda de fazer-nos um [o] corpo.

Wellington Jr.
Fortaleza, abril de 2009

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