Exposição 2021.7 – Um encontro – 17/11/21
(Transcrito do Catálogo)
O Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará – Mauc/UFC, ao longo destes 60 anos de existência foi e continua sendo palco de Encontros. Neste espaço museal, podemos encontrar permanentemente, na reserva técnica ou nas salas de exposições de longa duração, os grandes mestres cearenses que figuram na história da arte brasileira.
Podemos ainda encontrar nas salas de exposições temporárias, os artistas que estão neste tempo presente conosco e ressignificando cotidianamente a arte, as experimentações e seus percursos. Nesta casa chamada museu, podemos ainda (re)encontrar os familiares, os amigos, os colegas da escola ou da universidade, os professores. Neste lugar, podemos ainda desfrutar da presença do desconhecido, do estranho e do incômodo.
Após quase dois anos de pandemia da covid-19, estamos vivenciando no solo brasileiro, um movimento de retomada e de reencontros… encontro com tudo aquilo que fomos obrigados a nos distanciar por uma questão de saúde pública e coletiva, mas que se fizeram presentes no formato virtual ou digital. Os artistas, em seus ateliês, representaram nas telas, papéis, madeira ou cerâmica, suas alegrias, dores, medos e angústias por meio das técnicas artísticas e nós, público, acessamos estes conteúdos de forma remota, das nossas casas. E a exposição nos convida ao encontro ou reencontro com a arte e com o pulsar dos museus.
A exposição “Um Encontro – A. Rocha, Emílio Porto, Mano Alencar e Vando Figueiredo”, com curadoria de Luciana Eloy chega ao Mauc narrando a história de vida por meio da escrita pictórica da arte, em tempos pandêmicos, destes quatro personagens, que se encontraram e se tornam amigos ainda nos anos de 1990 na cidade de Fortaleza e que perdura até os dias atuais. Cada um, com sua personalidade e essência nos convida a mergulhar numa individualidade que se encontra nas paredes deste museu sexagenário.
Em tempos de celebrações e festividades, num museu presente na universidade e na cidade, venha se perder e se encontrar neste Encontro.
Graciele Siqueira
Museóloga e Diretora
Museu de Arte da UFC
Esse encontro tem origem nos laços de convivência do passado e se renova no viver-presente. Reúne quatro artistas: Emília Porto, Vando Figueiredo, Mano Alencar e A. Rocha com produções elaboradas no período de isolamento em que o desafio foi buscar novas conexões entre arte e vida. Tudo começa na década de 1990, marcada por grupos experimentais e espaços de criação que moldavam a cena artística da cidade. Assim foi o Espaço Soho de Artes Plásticas, fundado por Emília Porto. Além de galeria, promovia cursos e aproximava artistas, originando o Grupo Soho, formado por Emília, Vando, Mano, A.Rocha e outros artistas. A vocação pela pintura, a vontade de experimentar e expor juntos eram marcas fortes desse grupo que nesse encontro bonito e nada casual apresentam as linguagens visuais as quais se dedicam.
Emília Porto traz a pioneira na cerâmica artística em fortaleza com seu núcleo de cerâmicas rústicas ou vitrificadas e esculturas em barro. A Invenção de São Francisco é uma iconografia marcada pelo caráter expressionista da artista que oferece ao santo feições, cores, signos e emoções diversas, sendo, portanto, uma invenção. Vando Figueiredo transcende o gesto tradicional de pintar articulando uma construção matérica da imagem com recortes de papéis e outros materiais. Apresenta uma narrativa do feminino em colagens, onde o tema são as musas de Modigliani e a Diva Pop, Amy Wynehouse. Outras cenas elaboradas em viagens Vando capta cenas de mulheres com gestos rápidos e cores em contraste ao sabor do instante.
Mano Alencar confirma sua vertente expressionista abstrata numa pintura energética que dialoga com o tempo e sua paixão por Fortaleza. Recupera o gesto infantil de tracejar e borrar uma caligrafia ingênua, evocando figuras entre manchas e cores. Traz visualidades habitadas por imagens da infância e signos da paisagem de Fortaleza, mapeada nos trajetos do artista de bicicleta, misturando imaginação poética e memória. A. Rocha apresenta pinturas e monotipias onde transforma matérias da natureza, simulando texturas naturais com camadas de tinta, pigmentos misturados à areia e serragem. São poéticas possíveis de um processo modelado na vivência, memória e percepção.
Quatro trajetórias nas artes visuais do Ceará consolidadas pelo empenho, pela busca por qualidade e vale ressaltar – pela resistência de ser e permanecer artista, aqui revivem e celebram a poética do encontro.
Luciana Eloy
Curadora