2019.12 – Bispo do Rosário, uma luz que brilhou em meio à escuridão
Você já visitou a exposição “O Grande Veleiro”, em cartaz no Mauc desde o dia 30 de outubro?
Nela você poderá fazer uma imersão, através de jogos educativos e recursos expográficos, na vida e obra do grande artista contemporâneo Arthur Bispo do Rosário. Mais impactante que suas obras é sua história de vida, que nos ensina que não há limites para quem realmente almeja alcançar um sonho. Vamos conhecê-la?
Bispo do Rosário teve uma vida cheia de conflitos. Desde sua juventude deparou-se com situações que o envolviam em muitos problemas, seja no trabalho ou na comunidade onde vivia. Filho de Claudino Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus, nasce no dia no dia 5 de outubro de 1909 no município de Japaratuba, em Sergipe. Em fevereiro de 1925, alista-se na Escola de Aprendizes de Marinheiros do Sergipe. Em janeiro de 1926, alista-se como marinheiro no Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais do Rio de Janeiro, sendo classificado como grumete.
Em junho de 1933 os jornais noticiam o desligamento de Bispo do Rosário do Quartel. Motivo: indisciplina.
Na noite do dia 22 de 1938, ocasião em que trabalhava como empregado doméstico na casa de um advogado que morava em Botafogo, Bispo do Rosário deixa a casa e sai em peregrinação pelas ruas do Rio de Janeiro afirmando ser Jesus Cristo. Tido como louco, é detido pela polícia e conduzido para o Hospital Nacional dos Alienados, onde é diagnosticado como portador de esquizofrenia paranóide.
Em janeiro de 1939 é transferido para a Colônia Juliano Moreira, sendo alojado no pavilhão 10 do Núcleo Ulisses Vianna, reservado aos pacientes mais agressivos e agitados. Em março de 1944 é conduzido, juntamente com os internos do Hospital Nacional dos Alienados, para o Centro Psiquiátrico Nacional, onde ficou por cinco meses, sendo, em seguida, transferido para sua segunda casa psiquiátrica, voltando no dia seguinte para o Centro Psiquiátrico Nacional, onde permaneceu até 1948, ocasião em que voltou a internar-se na Colônia Juliano Moreira, de onde fugiu em março de 1954.
Nos seis anos que se seguiram, Bispo Rosário desempenhou diversas atividades para sobreviver: foi porteiro, minerador, guarda de segurança, trabalhando também em escritório. No início da década de 1960, começou a trabalhar em uma clínica pediátrica localizada na Rua Muniz Barreto, em Botafogo. Lá, nos porões da clínica, Bispo do Rosário dedica todo o seu tempo à produção de suas obras. Em fevereiro de 1964, retorna definitivamente para a Colônia Juliano Moreira, levando consigo toda a sua produção. Em 1967, preso em uma solitária do Núcleo Ulisses Vianna, ouve uma voz que lhe ordena sua nova missão: representar os materiais existentes na Terra para o uso do homem. A partir de então começa a produzir uma série de objetos, organizando-os em categorias. Dedicou-se tanto a essa atividade que ocupou as 10 solitárias do Núcleo. Mantendo consigo a chave do local, só permitia a entrada de quem que respondessem a pergunta: “Qual a cor de minha aura?”.
Em 1980, seus trabalhos aparecem casualmente em uma reportagem televisiva. Em 1982, parte da história de Bispo do Rosário é exibida no curta-metragem “Prisioneiro da Passagem”, produzido pelo fotógrafo e psicanalista Hugo Denizart. Nesse mesmo ano, acontece, no Museu de Arte Moderna do Rio, a exposição “À margem da vida”, que exibe, entre outras obras, os estandartes produzidos por Bispo Rosário. É a primeira vez que seus objetos são vistos fora da Colônia. A partir de então, a história de Bispo do Rosário ganha visibilidade nacional e internacional, tornando-se tema, entre outras ocasiões, de reportagens (1985 e 1989), filmes (1993 e 2010), livros (1996, 1997, 1998, 1999, 2006, 2007, 2009 e 2013), escolas de samba (1997, 2006 e 2007), peças teatrais (1997, 1999 e 2001), documentários (2013) e diversas exposições (1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2003, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2013, 2014 e 2015), realizadas no Brasil e no Exterior.
Com a saúde bastante debilitada, Bispo do Rosário falece no dia 5 de julho de 1989 na Colônia Juliano Moreira.
Não há como não se surpreender diante da história de um ser tão perseverante como foi Arthur Bispo do Rosário!
Se você ainda não teve a oportunidade de conhecer de perto seu excelente trabalho, não deixe de visitar a exposição “O Grande Veleiro”, com curadoria do Departamento Nacional do SESC, em cartaz no Mauc até o dia 20 deste mês. Vale a pena conferir!!!
O Mauc funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Entrada gratuita e aberta ao público.
Por Carlizeth Campos, com a colaboração de Kathleen Silveira (seleção de imagens), ambas Assistentes Administrativas do Mauc.
04/12/2019