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Zuzu Angel

Fotografia por Ronaldo Câmara. Acervo Instituto Zuzu Angel – IZA

Curvelo, MG, 1921, – Rio de Janeiro, RJ, 1976

A história de Moda no Brasil está atravessada à história de Zuzu Angel. Seu pioneirismo de primeira mulher estilista do Brasil transcende categorias e expande em dimensões estéticas, sociais e políticas. Na década de 1960, assumiu papel o estilismo em um cenário dominado por costureiros e mercado consumidor interno condicionado ao estilo europeu. Nessa cena, surge uma costureira, Zuleika Angel Jones, transgredindo os padrões vigentes, criando coleções de irreverência tropical, vivamente coloridas e com referências em brasilidade. Nas décadas de 1960 e 1970, de renovações culturais, tropicalismo e modernidade, Zuzu transmutava esses valores em coleções inspiradas na paisagem brasileira e cultura popular, com iconografia no cangaço de Maria Bonita e Lampião, mulher rendeira e baianas. Inaugurou o uso de tecidos populares, técnicas artesanais e estampas autorais, elementos inusitados na moda de alto padrão. Rendas, chita, laços, bordados aderiram às coleções com foco em um novo público – a mulher brasileira comum, de mente aberta, profissional, moderna e culturalmente engajada. No ano de 1970 realiza um sonho, aterrissando em um dos mais luxuosos endereços de New York, a loja Bergdorf Goodman, onde desfilou na Dateline Collection I, levando fascínio à plateia encantada com aquela atmosfera de leveza, elegância e brasilidade. Introduziu o termo fashion designer no vocabulário da moda no Brasil, universalizou sua marca e atraiu o público estrangeiro e personalidades de Hollywood a consumir moda com identidade brasileira. No topo desse sucesso, sofre com os horrores da ditadura, tendo seu filho, Stuart Angel, preso e morto pelo regime. Na busca pelo corpo do filho e por esclarecimentos, Zuzu criava moda como forma de protesto. As coleções exibiam um estilo a um forte discurso visual-político em vestidos vermelhos com estampas de pombas negras ou com bordados delicados e coloridos formando signos bélicos: tanques de guerra, armas, crucifixos, anjos algemados e pássaros engaiolados, como representações simbólicas do filho morto. Assim, Zuzu tecia vida e moda numa linguagem de transformação social. Nesta luta incansável acabou sofrendo um atentado fatal em 1976, no túnel que hoje leva seu nome no Rio de Janeiro. Com um legado inquestionável, seu trabalho está associado à moda autoral brasileira. É patrona do curso de Design de Moda da Universidade Veija de Sá (RJ) e inspirou pesquisa de designers contemporâneos como Isabela Capeto. Em 2006, é homenageada pelo filme “Zuzu Angel”, dirigido por Sérgio Resende e estrelado por Patrícia Pillar. Em 2014 foi tema da exposição Ocupação Zuzu Angel no Itaú Cultural (SP). O legado de seu trabalho é arquivado e preservado pelo Instituto Zuzu Angel – IZA, que tem como mentora e diretora sua filha, Hildegard Angel. Zuzu certa vez declarou: “a moda brasileira sou eu”, uma frase de autonomia que traduz o quanto ela conferiu valor e identidade à moda brasileira.

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