Exposição 2022.4 – Cadeiras: conexões afetivas entre design, tempo e história – 20/08/2022
O cotidiano universitário é formado por elementos que nos ajudam a refletir sobre suas dinâmicas políticas, sociais e culturais, identificar suas singularidades e compreender suas relações com a sociedade de modo geral. Entre esses elementos, nos esbarramos, e algumas vezes de forma literal, com os móveis. Eles colaboram para nossa localização nos ambientes, onde devemos nos ancorar no breve período em que estamos a exercer alguma ação.
As universidades são lugares de permanente passagem, e são os móveis de assento, em especial, as cadeiras, que dão suporte ao nosso corpo no momento de parar. Na Universidade Federal do Ceará não é diferente! Viemos aqui para trabalhar, estudar, pesquisar, encontrar pessoas, resolver pendências administrativas e burocráticas, participar de atividades, festas, solenidades, reuniões, manifestações artísticas, culturais, políticas, visitar exposições, museu e nesse ínterim, por vezes, procurar uma cadeira para sentar-se.
Na exposição “Cadeiras: conexões afetivas entre design, tempo e história”, o Memorial da UFC, dentro das comemorações dos seus 15 anos, apresenta a primeira coleção museológica do setor a ser lançada ao público. Se considerarmos que os objetos de museu acumulam valores a partir dos olhares das pessoas, indagamos: Qual o desenho dessas cadeiras? Com quais materiais foram produzidas? De que período datam sua produção? Como e por que vieram para a UFC? Onde estavam antes de serem musealizadas? Como estavam dispostas no ambiente universitário? A quais atividades estavam destinadas? Quem as utilizou?
Neste sentido, a exposição busca apresentar o acervo da Instituição e fomentar a reflexão sobre a história da UFC, estabelecendo conexões entre design, tempo e história a partir da presença das cadeiras no nosso cotidiano, um objeto que pode servir muito mais do que para sentar-se.
Universidade, tradição e modernismo
Até 1956, a Universidade do Ceará (UC) era constituída pelas Faculdades fundadoras (Escola de Agronomia, Faculdade de Direito, Faculdade de Farmácia e Odontologia e Faculdade de Medicina) e pelas Escolas agregadas (Faculdade Católica de Filosofia, Escola de Enfermagem São Vicente de Paula e Escola de Engenharia), consolidadas em diferentes espaços. Para o projeto de criação e instalação da UC faltavam-lhe elementos que reforçassem a identidade universitária. A compra da propriedade de José Gentil na Avenida Visconde do Cauípe (atual Av. da Universidade) tinha como objetivo começar a construir um espaço autenticamente universitário: a Reitoria.
A escolha do Benfica para sediar a Reitoria se deu por dois motivos. Primeiro, o bairro estava passando por um processo de mudanças urbanas e sociais, pois a burguesia comercial que o habitava estava se deslocando para regiões à época mais distantes do centro da cidade, como a Aldeota. Por esse motivo, várias propriedades estavam disponíveis para aquisição, visto que as antigas chácaras passaram a ter outros usos e seus terrenos loteados. Segundo, era do interesse da primeira gestão da UC se desvincular de espaços estabelecidos de poder e prestígio ligados a outras instituições que estavam se agregando e formando a Universidade. Era preciso um espaço novo, que simbolizasse o novo momento político, intelectual e cultural que a Universidade do Ceará queria representar.
Em termos de mobiliário, os vestígios dessa dinâmica entre as faculdades fundadoras, as escolas agregadas e a instalação da Reitoria se expressa na prevalência de móveis administrativos e escolares mais antigos em Art Déco, oriundos do período pré-universitário, e na mobília de inspiração renascentista, barroca e neoclássica da Reitoria. Esses móveis eram tanto originários da família Gentil como foram comprados pela Universidade para reforçar a aura de luxo e refinamento que se tentava construir ao redor do prédio da Reitoria, espelhando a “nobreza” dos palacetes do Benfica.
A Reitoria foi a pedra angular a partir da qual a ideia do campus universitário foi desenvolvida. Todavia, não foi somente sobre o simbolismo da tradição que o campus universitário foi construído. Na verdade, a cultura material universitária inaugurada nesse período foi marcada pela forte presença do modernismo e do uso de materiais de caráter industrial. A reforma da Reitoria, terminada em 1959, expressa bem essa relação. Do casarão original se preservou o padrão das colunas dóricas, a fachada, o torreão e o elevador. O espaço foi, contudo, totalmente remodelado e reconstruído em concreto armado, sendo construído no terreno do casarão um moderno auditório ao ar livre, a Concha Acústica.
Na medida em que a Universidade passa a adquirir os imóveis no Benfica, a partir da Reitoria, muitos casarões passam a ser demolidos para a construção de prédios em estilo modernista. O mobiliário acompanha essa tendência, sendo marcado pelo uso de materiais como compensado, metal, corino e plástico. Os móveis que a Universidade adquiriu acompanhavam os estilos contemporâneos das décadas de 1950, 1960 e 1970. A importância desse simbolismo de modernidade para a administração da Universidade é demonstrado pelos documentários fotográficos produzidos pela Reitoria, de seus imóveis e, até mesmo, eventualmente, do mobiliário.
Ficha Técnica
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
Reitor
José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque
Vice-Reitor
José Glauco Lobo Filho
Memorial da UFC
Diretora: Gerda de Souza Holanda
Curadoria e Execução
Roberto Moreira Chaves
Gerda de Souza Holanda
Maria Josiane Vieira
Pesquisa
Rafael de Farias Vieira
Roberto Moreira Chaves
Gerda de Souza Holanda
Gislene Soares Guerra
Coleta de dados
Rafael de Farias Vieira
Roberto Moreira Chaves
Gerda de Souza Holanda
Gislene Soares Guerra
Mônica Maria Mesquita
Maria Rejane Mendonça Gomes
Texto
Rafael de Farias Vieira
Fotografia, digitalização e Tratamento das Imagens
Éden dos Santos Barbosa
Expografia e Montagem
Roberto Moreira Chaves
Gerda de Souza Holanda
Gislene Soares Guerra
Mônica Maria Mesquita
Rafael de Farias Vieira
Programação Visual
Coordenadoria de Comunicação e Marketing da UFC – CCM/UFC
Registro Audiovisual
Éden dos Santos Barbosa
Conservação e Restauro
Roberto Moreira Chaves
Agradecimentos
Museu de Arte da UFC – MAUC
Coordenadoria de Comunicação e Marketing da UFC – CCM/UFC
Centro de Ciências Agrárias – CCA/UFC
Prefeitura do Campus do Benfica
Divisão de Patrimônio da UFC
Realização:
Universidade Federal do Ceará
Memorial da UFC
Apoio:
Museu de Arte da UFC
Centro de Ciências Agrárias – CCA