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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1972.02 – Orixás e Candomblés de Carybé – 24/04/1972

(Transcrito do Folder)

A Reitoria da Universidade Federal do Ceará acolhe com justificado orgulho os vinte e sete orixás de candomblés da Bahia. No Museu de Arte a comunidade cearense terá, durante alguns dias, o ensejo de ver o notável trabalho de Carybé. Um talento inconfundível. O escultor. O artesão. Um verdadeiro artista.

Fortaleza, 24 d abril de 1972
Walter de Moura Cantídio
Reitor


Carybé

O autor das vinte e sete esculturas representando os orixás dos candomblés baianos é o artista Carybé, pintor, desenhista, escultor, muralista. Baiano das sete portas, filho bem-amado da cidade do Salvador, seu criador e pai, seu filho e terno amigo, Carybé está espalhado nas águas da Bahia de todos os Santos, nos limites do recôncavo e das terras de Aioká. Navega no ventre em flor de Yemanjá, é o mestre do mais valente saveiro na madrugada, o primeiro na jangada do xaréu, puxador de rêde e de cantiga. Sobrevôa a cidade e habita em suas profundezas, na Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, e na Casa Branca do Engenho Velho, no barco de Oxun ancorado no mistério. Está no ar, no perfume, no andar da mulata sestrosa, no dengue, no rebolado, nos quadris e na festa em geral, do afoxé à roda-do-samba. É o obá de Xangô, iji-apogan de Omolu, filho principal de Oxossi, rei de Ketu, dança na roda do terreiro, foi o predileto de Mãe Senhora e as Iaôs ajoelham-se a seus pés e lhe pedem a benção: “a benção, meu pai Onaxokum”. Seu título completo no axé Opô Afonjá é Obá Otun Onaxokun, venerável ao lado da Iyalorixá. Está na escola de capoeira, é íntimo de mestre pastinha, toma do berimbau e canta as cantigas de besouro. Foi visto no Caruru de Cosme Damião, era a figura mais alegre entre todos os mulatos presentes. Incendiou-se em água de meninos numa barraca de cerâmica e agora no Mercado Modêlo, na barraca de Camafeu de Oxossi, o bom irmão. Na casa de Mário Cravo, compadre e mabaça, no poço fundo de Mirabeau, na última trincheira em defesa da ameaçada Igrejinha de Sant’ana, no mural e no painel, nas negras e mulatas nascidas do seu desenho, na hora do borí, eis Carybé, o filho da Bahia. A cidade está plena de beleza por êle criada, a vida se tornou mais ardente com sua presença. Filho e pai da Bahia.

Executou êsses orixás por encomenda do Banco da Bahia, que possui uma tradição de amor à arte, para a sua agência de São Pedro. À frente da diretoria do Banco, acompanhou apaixonadamente o trabalho do artista o diretor-presidente Clemente Mariani, baiano de saber e de gôsto.

Jorge Amado


Catálogo da Exposição Carybé 1972

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