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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1976.05 – Aderson Medeiros – Pinturas.Objetos – 30/09/1976

– Minha Filhinha Erika, não chore para sair de casa e ir passear na calçada; lá fora o mundo é cruel…

Aderson Medeiros

 

O Ceará é uma surpreendente região de criatividade popular. Lá a mão do povo, como designou com tanta felicidade Lina Bo Bardi esta produção incita, está viva, palpável e aberta. No entanto, e paradoxalmente, o Ceará já situou na arte brasileira um abstracionista da categoria de Antônio Bandeira e um experimentalista do nível do jovem José Tarcisio. Sem falar na múltipla e voraz presença plástica de Aldemir Martins, cujo laboratório de criação se vincula a toda a espécie de manifestação vital, cotidiana, até mesmo utilitária, sem perder o denominador comum indispensável da invenção e do profissionalismo. Acho mesmo que o artista cearense tem, antes de começar a ser artista, uma consciência profissional, uma opção concreta, um algo visível e quase sempre alcançado. Ultimamente surgiu no Rio e em São Paulo, onde decididamente se realizam as confirmações do talento e da função histórica, a figura de Aderson Medeiros, um pintor e pesquisador do folclore mais autêntico, de repente envolvido pela força e sortilégio desses personagens tensos e amordaçados que palpitam nos crânios sem coração dos ex-votos. Da escultura anônima e de função diretamente religiosa do ex-voto, Aderson Medeiros desentranhou uma pesquisa das mais importantes. Ele deu corpo e imprimiu um papel a estes rostos desolados, compondo com aninhagem da mais bruta umas estruturas anatômicas coerentes com o despojamento da cabeça esculpida e sobretudo com o clima de indefesa e corajosa expectativa de seus representados. Ele levantou da imaginária que o povo executou para representar as partes afetadas de seu corpo sofrido, toda a dor e solidão das procissões da seca e da pobreza insolúvel, todo o aparato misterioso dos andrajos e das túnicas de promessa. Dos objetos de parede, onde pendiam as perplexas expressões de seu “povo”, Aderson Medeiros partiu para ambientes, cenas completas e silenciosas onde as máscaras sintéticas e puras veiculam a mais irreal e imponderável poesia. Com esta experiência apresentou na XIII Bienal de São Paulo um dos momentos mais interessantes e originais.

Agora Aderson Medeiros volta-se para a pintura, com o direito que o artista tem de atender a complexos apelos, e expõe juntamente com as montagens sobre ex-votos uma pintura na qual os seres têm a simplicidade quase da figuração do ex-voto, com uma nítida conotação infantil. Sente-se contudo o prazer de solucionar áreas cromáticas chapadas, contrastantes, sempre claras, como retratos de uns seres que um dia serão, ou seriam, sua saga de ex-votos. Como se a infância e a magia estivessem contíguas propondo ao espectador um entendimento de seu processo de desdobramento e silêncios. Na pintura aparecem seres regionais também, marcando sempre esta fidelidade do artista cearense às coisas da terra, de onde nutriu seu sonho e seu amor.

Uma exposição importante para o Ceará, num momento de afirmação regional. Uma exposição importante para a arte brasileira por renovar com espontaneidade e imaginação sua iconografia.

Walmir Ayala


Vários aspectos merecem exame mais atento, na promissora obra de Aderson. Por ora, detenho-me em um só. Tanto quanto sua inventiva redescoberta de um material (já dotado de carga estética em si próprio), interessa-me também sua economia de meios. E a paradoxal eficácia, quase barroca, que ele extrai da parcimônia. Creio que o estímulo, no caso, reside ainda no imediato envolvimento emocional do antropomorfismo, acentuado pela natural angústia do ex-voto. Mas o apelo não chega ao panfletário. E não é mérito pequeno, o de Aderson, ao conseguir, ainda hoje, uma arte que sai do coração – e a ele se destina.

Olívio Tavares de Araújo


A pujança do trabalho de Aderson Medeiros responde com genialidade àqueles que, não satisfeitos com o sofisticado e distante conceito de arte européia, buscam uma arte brasileira, engajada em nossa realidade sócio-econômica.

Com material primitivo, símbolo da vida e do misticismo do nordestino, fonte mais pura da nossa cultura, Aderson Medeiros cria, com seriedade e pesquisa, a arte brasileira.

A partir dos ex-votos, ele nos mostra a arte brasileira que é, em última análise, uma idéia em mudança.

É o primitivo gerando o elaborado, numa ascensão plástica (genética?) fluida, leve, harmoniosa e, paradoxalmente, agressiva.

Alcyone Abrahão


Quando estive na Igreja de São Francisco das Chagas, no Canindé, há alguns anos, à cata de ex-votos do Nordeste, não chegava a supor que depois iria ter pela frente, cá em São Paulo, um artista capaz de fazer do ex-voto a fonte inspiradora de sua arte simples, agressiva e sincera. O ex-voto representa para os entendidos – como a literatura de cordel e a legítima pintura primitiva – uma fonte autêntica e permanente da cultura popular brasileira. E Aderson Medeiros, com suas montagens de aniagem em torno do ex-voto – justamente de São Francisco do Canindé – transmite com realismo a inspiração criativa e a imanente força de comunicação do homem sofrido daquela vasta região do país.

Luís Ernesto M. Kawall


Aderson Medeiros é um pesquisador de seu próprio mundo, um mundo nordestino, com suas figuras típicas, suas cenas sertanejas, seu lirismo místico, sua dramaticidade. Com um material pobre, consegue comunicar-se e denunciar esse mundo, longínquo interiormente, mas tão próximo de nós. Iniciou seus trabalhos na tela, como pintor, mas sua imaginação forte e empreendedora não se sentiu à vontade apenas em duas dimensões. Aos poucos, foi colando ex-votos, e aos poucos as figuras de seu mundo foram-lhe exigindo uma saída. Ao ganhar as três dimensões, os ex-votos de Aderson ganharam a vida, tornaram-se mais que personagens, um drama vivo. O artista criou uma obra autêntica, humilde na sua amostragem, mas agressiva e criadora. Não é o material que faz o artista, mas exatamente o contrário. Aderson Medeiros nos faz ver essa verdade.

Alberto Beuttenmüller


Federico Fellini seria um digno organizador desse espetáculo. Da presente Bienal poderiam ser mandados, para esse encontro dos deuses, dos santos e seus pastores e profetas, o cacho de ex-votos assinado por Aderson medeiros.

Arnaldo Pedroso D’horta
Argumento nº3


“Kitsch do Sertão

– O ex-voto é o Kitsch sertanejo – diz Aderson.
É o resultado de uma arte popular que nunca foi levada em consideração por preconceito intelectual.
É o mesmo que a literatura de cordel, hoje já aceita em determinadas elites, aparentemente considerado lixo estético, o ex-voto recebeu um tratamento atual de Aderson Medeiros. As figuras místicas, resultado de promessas, e colocadas nas igrejas do Nordeste, ganham vida e passam a personagens dramáticos dos próprios autores anônimos.”

Jornal do Brasil – 9 de julho de 1974
Alberto Beuttenmüller


” O cearense Aderson Tavares Medeiros também impressionou o Júri, não só pelo misticismo mas por ter dado, à sua visão particular de Arte, uma visão brasileira…”

Olney Krüse
O Estado de São Paulo – sexta – feira 25-8-72


Obras expostas

Pinturas

1. São Francisco de Assis
2. Criança e os Pássaros
3. Mulher e as Mangueiras
4. São Sebastião
5. Menino e o Anjo
6. Sagrado Coração de Jesus
7. O Mágico de Orós
8. Visões
9. O Medo
10. Pesadelo Interior
11. Olhos de Agonia
12. Senhora

Objetos

1. Palhaço. 1º Prêmio Nacional – Brasil Plástica 72. São Paulo
2. Sagrado Coração de Jesus
3. Braços Cruzados
4. Senhora
5. Beata Mocinha
6. Nau Catarineira
7. A Fé, a Morte, o Beato, o Diabo
8. Tensão
9. Inconsciente
10. S. Sebastião. Prêm. Isenção Júri. XXIII Sl. Nac. Arte Moderna. Rio
11. Desesperados por Dentro
12. O Medo
13. Agonia
14. Não Fale com o Coração
15. Mulher Rezando
16. Cristo
17. Anjinho
18. Santuário de Cristo

Ambiente

19. Na feira de Cascavel
20. Viúva na Cadeira Lendo


Catálogo da Exposição Aderson Medeiros 1976

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