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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1979.01 – Albano Neves e Sousa – 28/03/1979

Neves e Sousa agora brasileiro

Angola nos deu tanta e tanta coisa boa, fundamental para a formação do povo brasileiro, para o que hoje somos! Deu-nos sangue, o bom sangue negro de Angola, deu-nos dança e canto, deuses trazidos da Floresta, a obstinada disposição de luta, a invencível e livre capacidade de rir e de viver. Somos tão angolanos como quem mais o seja – Bahia e Luanda são cidades irmãs.
Não contente, Angola vem de nos legar, nas confusões do nosso tempo incerto, o pintor Neves e Sousa. Pintor de Angola, de sua paisagem poderosa, de sua poderosa gente, dos costumes, da magia e da realidade – ele tocou com seu lápis ou com seu pincel cada momento e cada detalhe do país e do povo. O sol de Angola imprimiu a cor definitiva de sua palheta.

Não posso senti-lo estrangeiro sob o sol da Bahia, as cores são idênticas, muitos de nossos hábitos vieram de lá, na beleza das mulheres há um toque de dengue angolano, na força e na esperança dos homens descortino a decisão da gente da África. Neves e Sousa encontra aqui a irmandade dos países que têm em comum, além da língua, alguns bens decisivos de suas culturas nacionais. Não é estrangeiro no Brasil o artista de Angola.

Sob o sol da Bahia, Neves e Sousa prossegue sua obra admirável e a leva aos quatro cantos do continente brasileiro, pois é andejo de natureza esse mestre pintor de árvores e bichos, de homens e deuses.

Jorge Amado


ALBANO NEVES E SOUSA visitou o Brasil, expondo seus quadros do mundo africano, misterioso, envolvente, sedutor. Não é um pintor de superfície mas um revelador prodigioso da alma negra, nas profundezas complexas e palpitantes de sua natureza psicológica. O homem, a paisagem, a tabanca, a mata, o clarão dos crepúsculos incandescentes, o traje variado e multicor, o bailado miraculoso, o cerimonial inumerável dos ritos, as nuanças e pormenores de tão rara captação, imobilizam-se na tela sem que percam as virtudes do ritmo e a magia indizível da presença, estranha, escusa, poderosa. É preciso vê-lo em Luanda, Moçâmedes, Malanje, molhando a mão nas águas do Cunene ou do Zaire, estudando mercados, feiras, moranças, plantios, caminhos desertos, viajantes, caçadores, festas de iniciação, aclamação no sobado, choro aos mortos, viagens.

Do que, no nível intelectual, seja capaz NEVES E SOUSA, vivem dois testemunhos decisivos, atestando sua intimidade com os problemas da identificação antropológica, a escolha dos tipos representativos dos grupos étnicos, povoadores das terras onde a rainha Jinga governou: Os murais do Aeroporto de Luanda e do Hotel Universo, forte, nítida, serena e linda expressão das justificativas radiculares do povo angolano.

No Rio de Janeiro e na cidade do Salvador, lembrando o nome ilustre da capital do Congo, NEVES E SOUSA foi reencontrando seus motivos de Angola, os assuntos preferidos pelos olhos, as figuras da sua África, nossa África, como dizia Leo Frobenius. Inconscientemente o poeta NEVES E SOUSA atraiu o inseparável. Pintor na contemplação das imagens semelhantes decorrentes, associadas. Não uma coexistência mas um processo de continuidade social, inapagável no registro maquinal da mais leve observação.

Quando provou o quitute baiano, viu a ginástica do N’gólo, batizada em “capoeira”, o hungu, mbulumbumba, aqui chamado “berimbau”, ouviu a cadência da batucada, a gaforinha com turbante, o pescoço enrolado com fios de contas e os búzios axiluandas, o pano trançado, o andar reboolado, o azeite de dendê, o obi para a eterna mastigação:

Quem come cola
Fica em Angola,

sentiu a terra nas vozes populares, o jidungo, pimenta queimante, o inarredável quingombó, nosso quiabo, a teimosa jinguba, que é amendoim, o funji, que é quase o pirão, a papa de milho; quando reparou a forma de saudar, a mímica cordial, o assentar no chão, o silêncio concentrado na súbita abstração libertadora, a umbigada provocante e selectiva, semba infalível, a linha melódica, reforçando o solista pelo imperativo do refrão, uníssono, NEVES E SOUSA não deduziu que continuava em Angola mas estava entre angolanos, vivendo a herança sentimental dos usos-e-costumes.

Constatou o valimento formal do N’Goio, nos Congos, Congadas, rainha Jinga, Cabinda, Banguela dos incisivos limados ou arrancados; o Porto Rico é nação brasileira, referindo-se não à ilha das Grandes Antilhas, mas às povoações humildes e vivazes de Cabinda e de Santo Antônio do Zaire, a divulgação, made in Brazil, da Umbanda, onde Cariapemba derrotou o sudanês Exu, assenhoriando-se lentamente da curiosidade carioca.

Luiz de Câmara Cascudo
Presidente da Sociedade Brasileira de Folclore


Curricullum

ALBANO NEVES E SOUSA nasceu em 1921 em Matozinhos, Portugal. Sua primeira exposição individual foi em 1937, em Luanda (Angola). Em 1943 obtém uma Bolsa de Estudos concedida pela Câmara Municipal de Luanda para cursar a Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Obteve na escola os prêmios “José Meireles Jr.”, “Centenário Soares dos Reis”, “Prêmio Três Artes”, “Rodrigo Soares”, “Rotary Club do Porto 1950”. Defendeu tese em 1952 e regressou a Angola, passando a viver em Luanda. Tem mais os seguintes prêmios:

Primeiro Prêmio de Aquarela da I Exposição de Artes Plásticas de Luanda; Prêmio Rotary Club do Porto 1951; Segundo Prêmio de Pintura da Casa da Metrópole, em Luanda; Medalha de Bronze “Caça e Pesca” Dusseldorf (Alemanha) 1954; Primeiro Prêmio, pastel, na Exposição de Artes Plásticas da Câmara Municipal de Luanda em 1967; Medalha de Ouro de Desenho na Academia de Pontzen, Nápoles (Itália) em 1974; convidado para Exposição Internacional de Desenho em Rijeka (Yugoslávia) em 1970. Em 1963 foi agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelo Governador Português. Sua primeira viagem ao Brasil foi a convite do Itamarati.

Está representado em diversos Museus portugueses e estrangeiros e em muitas coleções particulares: Museu dos Açores, Caramulo, Fundação Gulbenkian, Museu Nacional de Arte Contemporânea – Lisboa, Museu Nacional Soares dos Reis – Porto, Museu de Angola, Câmara Municipal de Moçambique, Museu de Pontevedra em Espanha. Coleções particulares de S.M. Rei Juan Carlos de Espanha, S.M. Rei Semião da Bulgária, Coleção Unilever – Haia, Holanda, Coleção Nestlé – Suíça, Dr. Antônio Espírito Santo (Portugal), Dr. Manoel, Vinhas, etc.

1 – Nevoeiro na Serra de Ubajara / Ceará

2 – Batuque Mahungo / Malange Angola
A Tribu Mahungo do norte de Angola tem nas danças uma das melhores expressões da sua arte. Elas são animadas por tambores e “Quissanges” – instrumentos típicos de madeira com teclas de ferro que encostados ao chão ganham uma ressonância especial. As danças são em geral de fundo erótico.

3 – Muficuena Muhanda / Huíla / Angola
Muficuena quer dizer que a moça está fazendo o “Mufico”, rito de passagem de criança a mulher. A Tribu Muhanda usa nesta fase o cabelo coberto com um pano.

4 – Bailarina Hanha do Cubal / Angola
De notar a característica mutilação dentária em forma de V invertido.

5 – Aquecendo os Tambores / Saurimo / Angola
Para esticar as peles dos tambores em geral elas são umedecidas e aquecidas ao fogo até darem o som desejado.

6 – Mocinha Muxilengue com Penteado de Caniços
Quilengues / Angola.

7 – Festa do Mufico / Cunhama / Angola / África
Os cuanhamas são uma tribu de pastores do sul de Angola na fronteira com o Sudoeste Africano. Chama-se mufico ao rito de passagem das moças a mulheres. Durante a festa há um dia e uma noite, essa chamada a noite da hiena, em que as moças dançam vinte e quatro horas sem parar. Os trajes são feitos em couro de bezerro, em geral preto, e os enfeites são conchas e “ondjeva” (pequenos discos de casca de ovo de avestruz postos em cordão).

8 – Dança N’Golo / Mulondo / Angola
A dança N’GOLO, ou seja, a dança da zebra, é a possível origem da capoeira de Angola da Bahia, para aqui trazida há muitos anos atrás por Bantus do Sul de Angola que chegaram à região como emigrantes involuntários. Como a zebra, os contendores põem as mãos no chão e procuram com os pés atingir o rosto do adversário. É ainda hoje dançada por ocasião das festas do mufico no Mulondo e Mucope (interior de Angola). O berimbau, que também existe na região com o nome de “Umbulumbumba”, não é usado durante a luta que é ritmada por palmas. Quem der golpe fora do ritmo é desclassificado e sai da roda.

9 – Carnaval de Luanda / Angola

10 – Ilundo / Luanda / Angola
O Ilundo é o candomblé de Angola na sua forma original que se vem mantendo através dos tempos. A “MANHA-IA-UMBANDA” (Mãe de Santo) deita “Dicosso” (bebida do santo) numa filha de santo para a purificar.

11 – Vendedeira de Feitiços / Luanda / Angola
Em Angola como na Bahia vendem-se guias de contas, amuletos para dar sorte, pemba, ucusso e outras coisas ligadas ao culto local do Ilundo.

12 – Mercado de Calumbo / Angola
Típico mercado africano de permuta. Em Calumbo a gente da beira mar troca sal e peixe seco por produtos da terra, milho, mandioca, banana e até esteiras que são a cama da gente pobre.

13 – Banho das Mulheres / Dondo / Angola

14 – Jangadas de Bimba / Longa-nhia / Angola
As jangadas de Angola, tão diferentes das nordestinas, são feitas de bimba – balsa africana (Aeschynomene Elaphroxylon, Taub.) madeira excepcionalmente leve e que se conserva muito bem na água.

15 – Abrindo a Rede / Ilha de Luanda / Angola

16 – Mulher da Tribu Umbundu / Andulo / Angola

17 – Mucancalas à Fogueira / Hossi / Angola
Os mucancalas são os bochimanes, nômades, primitivos habitantes da África Austral. De cor pardo-amarelada, têm características somáticas bem diferenciadas dos bantus. De pequena estatura, cor clara, feições mongolóides, são exímios caçadores, conseguindo subsistir em regiões onde a vida seria impossível para outros que não eles.

18 – Viúva / Luanda / Angola

19 – Hora di Bai / Santiago / Cabo Verde
No linguajar “crioulo” das Ilhas de Cabo Verde – Hora di Bai quer dizer hora da partida – hora de adeus.

20 – Fananá em S. Filipe / Fogo / Cabo Verde
Fananá é um baile típico caboverdiano. Nele se dançam sobretudo normas e coladêras, músicas populares da região.

21 – Mulher da Ilha Brava / Cabo Verde

22 – Lavadeiras do Gabú / Guiné-Bissau

23 – Dança do “Vaca-Bruto” / Guiné-Bissau

24 – Errumbulo / Dança de Angoche / Moçambique
O Errumbulo é uma dança só de mulheres muçulmanas. Está ligado a cerimônias tradicionais da tribu “Macua”.

25 – Mulher Macua de Angoche / Moçambique

26 – Tchiloli / República de S. Tomé e Príncipe
Tchiloli é um ato tradicional europeu levado para as Ilhas há séculos pelos jesuítas e hoje transformado em peça tradicional do teatro local. A imaginação africana deu novo colorido ao auto que é hoje um misto de ballet, mímica pura e declamação enfática. Tem música própria com tambores, gongos e sobretudo flautas de bambu cujo som ácido e estrídulo se ouve a quilômetros. Leva três dias a representação do Tchiloli.

27 – Danço Congo / República de S. Tomé e Príncipe
O Danço Congo é uma dança tradicional das Ilhas e os vários grupos diferenciam-se pelas cores do traje dos dançarinos. É também um misto de baile e mímica. É acompanhado por cantos em português e em “fôrro” a língua local.

28 – Welwitchia Mirabilis / Moçâmedes / Angola
Planta do deserto de Namib, é uma espécie de fóssil vivo, um vegetal primitivo que resiste nos lugares mais hostis do deserto.

29 – Mulher Muhumbe / Angola

30 – Mulher Muíla / Angola
Com o penteado do “Condombolo” (crista de galo) que significa que é casadoira e já fez a festa da puberdade – mufico.

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