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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1980.04 – Fayga Ostrower – 29/07/1980

(Transcrito do Catálogo)

A técnica pode ser comparada a um instrumento musical. Assim como o compositor imaginaria uma obra, tendo em mente a gama e sonoridade de certos instrumentos, piano, violino, grande orquestra, o artista plástico também se decide por determinada técnica de pintura, desenho ou gravura a partir de certos efeitos visuais que ele conhece e avalia: tessituras, formas, cores, massas. Na escolha da técnica, sem dúvida hão de influir circunstâncias concretas – uma encomenda que o artista poderá ter recebido, um convite, uma exposição, ou um mero acaso que lhe despertou o interesse. Mas, no fundo, à seleção da técnica corresponderá uma seletividade interior da pessoa. De outro modo não seria significativo o interesse. Assim, a real opção talvez nem se dê em termos conscientes, obedecendo, antes, a uma predeterminação interiorizada que encontra no momento oportuno uma espécie de pretexto para se manifestar.

A predeterminação da pessoa também definirá largamente o rumo do seu fazer artístico. Pois, ao optar por uma técnica, na decisão de trabalhar com certo material, sempre se inicia a busca de uma linguagem. O pensamento imaginativo do artista começa a especular, orientando-se em viabilidades da matéria para configurar formas expressivas, sondando-se quanto a aspectos específicos que pudessem caracterizar essa matéria num sentido essencial e talvez novo. Com isto se ampliam os termos da linguagem visual.

Evidentemente, porém, não se tratam no trabalho artístico, da proeza de tornar o artista uma espécie de enciclopédia ambulante das várias técnicas. Há de se ver que, antes de mais nada, as indagações técnicas constituem formas de relacionamento afetivo ante a essencialidade de um fenômeno. Por isto, mesmo na busca mais conscienciosa, mais profunda, cada artista individual só vai interessar-se por algumas possibilidades de forma, deixando uma imagem, dando-lhe determinado tipo de equilíbrio, em entre muitos outros que das formas da matéria poderia nascer. Essa faixa da busca, e também a síntese que se cristaliza no equilíbrio encontrado, corresponderá à própria personalidade do artista.

Em dado momento surgiu uma oportunidade de executar trabalhos litrográficos – técnica laboriosa e que requer instalações e qeuipe especializada. Resolvi aceitar. Sentio-o como um desafio, uma aventura, qual viagem num desconhecido, e à medida em que fui me aprofundando no trabalho, procurando encontrar certas especificidades da linguagem, descobri o quanto realmente se tratava de aventura num mundo de possibilidades novas. Casa obra se desdobrava em propostas.

Bem diferente de outras técnicas gráficas, da xilogravura e da gravura em metal, por exemplo, a litografia não exige, e na verdade nem permite, uma intervenção física em duas matrizes. A imagem a ser criada pelo artista não nasce de incisões, cortes na chapa, nem de sulcos ou superfícies rebaixadas pela ação de ácidos. Apesar de técnica de gravura, a linguagem litográfica se aproxima mais dos outros termos do desenho e do lavis (desenho aquarelado), deslizando a mão do artista sobre a pedra litográfica com a mesma fluidez que teria num desenho sobre papel e sem encontrar nenhuma resistência da chapa (como é o caso na xilo), conferindo os vários acentos visuais à imagem, contrastes e transições, pela simples pressão dos dedos. Quando muito, enquanto intervenção física, pode-se apagar partes do desenho, raspando-as. A partir dessa caracterização, é fácil compreender por que os próprios processos imaginativos que acompanham a feitura de uma lito devam passar por caminhos essencialmente diferentes dos de xilogravuras ou gravuras em metal.

Na litografia, a matriz (de cada cor) consiste de uma pedra porosa, sobre a qual a imagem é executada com uma substância gordurosa, de consistência dura ou líquida, lápis, “crayon” ou “tusche”. Segue-se um complicado processamento em que a iamgem será fixada na superfície da pedra a fim de durar pelo período da tiragem da edição. Depois inicia-se a etapa da impressão, processo igualmente lento e complicado. Seu princípio básico é o fato de que a água e gordura não se misturam. A peda, já colocada na prensa, deverá a um tempo ser rapidamente molhada e entintada. Com isto, produz-se um efeito simultâneo. Enquanto a água penetra nos poros da pedra em áreas não cobertas pelo desenho, a tinta de impressão é repelida pela água e vai aderir unicamente nas marcas gordurosas – imagem produzida pelo artista. A seguir, uma folha de papel é colocada em cima da pedra e, numa passagem horizontal, pedra e papel deslizam sob pressão na prensa litográfica. O desenho agora foi trnsferido da pedra para o papel. Em cada prova e cada cor o processo deverá iniciar-se de novo.

Menciono o processo de impressão, pois considero essa etapa parte integrante do processo total de gravura e, portanto, parte essencial da busca de linguagem. Não se trata apenas da execução de uam imagem que pudesse existir, independentemente, aspecto secundário, de “estampagem” como alguns quiseram chamar a etapa de impressão, ignorando com isto o alcance, no fazer artístico, de todo e qualquer detalhe técnico sobre a forma expressiva. Como parte integrante do gravar, os processos de imprimir, sempre específicos a cada tipo de gravura, possuem suas próprias viabilidades formais, novas possibilidades a ampliar e enriquecer a linguagem gráfica. Assim são indispensáveis as várias etapas artesanais bem como os próprios elementos físicos que compõem a totalidade da gravura: as consistências de tinta opaca ou transparente a serem depositadas pelo rolo de entintar sobre a pedra e pela pedra sobre o papel, as superposições de camadas de cor, a sequência exata das superposições. Tudo encadeia novas formas de expressão e, o que é igualmente importante, torna-se forma de imaginação, forma de pensamento plástico, forma criativa.

Mesmo pensando nesses termos de linguagem, porém, iamginando possíveis efeitos gráficos, cabe constatar que sempre há uma diferença entre aquilo que se elabora na mente e o fato real que virá a existir através de nossa ação artística. As linhas, cores, formas feitas, nunca são iguais às imaginadas. Tornando-se fato físico, tornam-se uam realidade nova, às vezes realidade cheia de surpresas. Penso que, a fim de poder sonhar as possibildiades da linguagem, é preciso resguardar em nós uma certa abertura diante de tais surpresas. Penso que, a fim de poder sondar as possibilidades da linguagem, é preciso resguardar em nós uam certa abertura diante de tais surpresas. Diria mais: é preciso sermos “surpreendíveis”, vulneráveis ao impacto de ralidades que se revelam diferentes das que imaginávamos – ainda que a intuição nos ajude a avalaiar o resultado e talvez até revisá-lo. Serão sempre realidades novas criadas por nós e em nós. Em outras palavras, há em todo processo artístico algo de imprevisto, acasos que se tornam importantes no sentido de poderem ser reconhecidos por nós e incorporados à nossa experiência. Sem isto, o trabalho atístico não passaria da execução de um esquema preconcebido; seria uma fórmula em vez de forma.

Procuro entender a técnica da litografia como linguagem artística, ou seja, procuro-a em sua dimensão maior, poética, como possibilidade de articular vivências. Sinto que os meios expressivos da linguagem vão de encontro a certas imagens íntimas, a ponto quase de sugerí-las. A pedra é porosa, sua superfície é granulosa e ela respira. O papel que receberá a image, também respira. As camadas de tinta, ora transparentes ora opacas, entreligam-se em sequências colorísticas rítmicas. Tudo nessa técnica é ritmo, gesto fluido da mão a desenhar e pincelar, traços a manchas que flutuam quase imperceptivelmente entre valores claros aos mais escuros. Trazem-ma à mente imagem de espaços liminosos e cantantes. as transparências me fascinam. É difícil, porém, encontrar palavras para aquilo que intimamente se sente como beleza maior. Sei, de experiência própria, que tudo o que conseguirei será um compromisso entre aquilo a que aspiro e aquilo que posso fazer. No momento mesmo do resultado final de uma obra, aquilo a que aspiro sempre se afasta para novas distâncias. É verdade que, ao mesmo tempo, com isto já se coloca a proposta para novos trabalhos.

Rio de Janeiro, julho de 1980
Fayga Ostrower


Nascida na Polônia, desde 1934 no Brasil. Brasileira naturalizada. Cidadã carioca honorária. Cavaleiro da Ordem do Rio Branco. Membro honorário da Academia dell’Arti del Disegno, Florença.

Formação artística na Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, com Tomás Santa Rosa, Carlos Oswald, axel Leskoscheck, Anna Levy.


Atividades Artísticas

  • Desenho – gravura – pintura – murais
  • Capas e ilustrações de livros
  • Padronagem de tecidos
  • Cartazes

Livros Ilustrados

O Cortiço – Aluizio de Azevedo – Editora Zélio Valverde, Rio de Janeiro
Histórias Incompletas – Graciliano Ramos – Editora Globo, Porto Alegre
Invenção de Orfeu – Jorge de Lima – Livros de Portugal, Rio de Janeiro
A Terra Inútil – T.S. Eliot – Edições Maldoror, Rio de Janeiro
Opus 10 – Manuel Bandeira – Edições Hipocampo, Rio de Janeiro
O Rio – João Cabral de Melo Neto – Fontana, Rio de Janeiro (Capa)
Os Anjos e os Demônios de Deus – Joaquim Cardozo – Diagraphis, Rio de Janeiro
Almas pastora das coisas – Lucia Aizim – Rio de Janeiro (Capa)
Dicionário Caldas Aulete – Editora Delta S.A., Rio de Janeiro (Capa)
Grande Enciclopédia Delta Larousse – Editora Delta S.A., Rio de Janeiro (Capa)
Errância – Lucia Aizim – Rio de Janeiro
Formas e Espaços – 7 poemas – Livroarte Editora Ltda

Prêmios e Distinções

1948-50 – Medalhas de bonze e de prata – Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
1952 – Prêmio de gravura – Association Artistique et Littéraire, Paris
1954 – Convite como artista da Guilde Internacionale de la Gravura, Genève
1955 – Viagem Fullbright aos EEUU. Prêmio de Gravura – III Bienal de São Paulo
1956 – 1° Prêmio Arte Contemporânea – Museu de Arte Moderna, São Paulo
1957 – Grande prêmio nacional de gravura – IV Bienal de São Paulo
1958 – Grande prêmio internacional de gravura – XXIX Bienal de Veneza
Prêmio gravura – I Salão Panamericano de Arte, Porto Alegre
1960 – Grande Prêmio de gravura – I Certame Interamericano de Arte, Buenos Aires
1961 – Prêmio e gravura – I Bienal do México
1° Prêmio – Concurso Formiplac, Rio de Janeiro
Sala Especial – VI Bienal de São Paulo
1963 – Prêmio de Desenho – VII Bienal de São Paulo
Prêmio de crítica “Resumo” – Rio de Janeiro
1966 – Sala Especial – I Bienal de Artes Plásticas, Bahia
1967 – Prêmio de crítica “Resumo” – Rio de Janeiro
Prêmio de crítica – melhor exposição do ano – Santiago do Chile
Prêmio de gravura – I Bienal de Caracas, Venezuela
1968 – painel de gravuras para o Palácio do Itamaraty, Brasília
1969 – Prêmio “Golfinho de Ouro” pela cidade do Rio de Janeiro
Prêmio de crítica – “Resumo” – Rio de Janeiro
1970 – Prêmio de gravura – II Bienal Internazionale della Grafica, Florença
Doação pelo Governo Brasileiro de painel de  gravuras para a comemoração do 25° aniversário da ONU
1972 – Prêmio de crítica – “Resumo” – Rio de Janeiro
Membro do “Club of the Prize-Winners of the International Print Biennales”, Cracóvia
Prêmio gravura – IV Salão Nacional de Arte, Belo Horizonte
1978 – Prêmio de Gravura, I Mostra Anual da Cidade de Curitiba
Convite pelo Instituto de Cultura Hispanica, Ministério da Cultura, Espanha, para uma exposição retrospectiva em Madrid
1979 – Exposição Restrospectiva Kunstakademie Viena
1980 – Exposição Restrospectiva, Museu “Leonardo da Vinci”, Milão
Artista convidada especial, Bienal do México

Exposições individuais

– Ministério de Educação e Cultura, Rio de Janeiro
– Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
– Galeria Bonino, Rio de Janeiro
– Galeria Gemini, Rio de Janeiro
– Museu de Arte Moderna, São Paulo
– Galeria Múltipla de Arte, São Paulo
– Galeria Astréia, São Paulo
– Galeria Guignard, Belo Horizonte
– Capela Galeria de Arte, Juiz de Fora
– Galeria Gañizares, EBA, Slavador
– Museu de Arte da Bahia, Salvador
– Galeria Patio, Santiago do Chile
– Misión Cultural Brasileña, Asunción
– Galeria Municipal, Montevidéo
– The Contemporaries, New York
– Pan-American Union, Washington
– Brazilian-American Cultural Institute, Washington
– Forsythe Gallery, Ann Arbor
– Princeton University, Princeton
– Museum of Fine Arts, San Francisco
– Institute of Art, Chicago
– Art Association, Atlanta
– Springer Galerie, Berlin
– Institut für Auslandsbeziehungen, Stuttgart
– Kunstkreis, Leinfelden
– Gutekunst & Klinpstein, Bern
– Instutute of Contemporary Art, London
– Amos Anderson Museum, Helsinki
– Stedelijk Museum, Amsterdam
– Galleria d’Arte della “Casa do brasil”, Roma
– Galleria La Nuova Sfera, Milão
– Palais des Beaus-Arts, Bruxelas
– Grafikhuset, Estocolmo
– Galerie Pinx, Helsinque
– Museu Charlottenborg, Copenhague
– Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa
– Centro Cultural de la Villa de Madrid
– Kunstakademie, Viena
– Museu “Leonardo da Vinci”, Milão

Obras em Museus

– Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
– Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
– Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
– Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo
– Biblioteca Municipal, São Paulo
– Palácio do Itamaraty, Brasília
– Senado Federal, Brasília
– Museu de Arte Moderna, Belo Horizonte
– Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte
– Universidade Federal da Bahia, Salvador
– Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
– Biblioteca Municipal, Montevidéo
– Museum of Modern Art, New York
– Library of Congress, Washington
– Museum of Fine Arts, Philadelphia
– Institute of Art, Chicago
– Museum of Fine arts, San Francisco
– Atlanta Art Association, Atlanta
– Museum of Art, Ann Arbor
– Museu de Arte Moderna, Lodz
– Museu de Arte Moderna, Skopje
– Israel Museum, Jerusalem
– Museu de Arte Moderna, Tel Aviv
– Accademia dell’Arti del Disegno, Florença
– Biennale di Venezia, Veneza
– Universidade de Messina
– Universidade de Rotterdam
– Universidade de Princeton
– Musée d’Art et d’Histoire, Genève
– Stedelijk Museum, Amsterdam
– Graphisches Kunstkabinett, Museu de Arte, Berlim
– Städtische Sammlung, Leinfelden
– Städelsches Kunstinstitut, Frankfurt
– Kunsthalle, Hamburg
– Albertina, Viena
– Institute of Contemporary Art, London
– Victoria & Albert Museum, London
– Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa


Fayga Ostrower 1980

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