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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1983.06 – Aderson Medeiros – 06/07/1983

(Transcrito do Catálogo)

Vários aspectos merecem exame mais atento, na promissora obra de Aderson. Por ora, detenho-me em um só. Tanto quanto sua inventiva redescoberta de um material (já dotado de carga estética em si próprio), interessa-me também sua economia de meios. E a paradoxal eficácia, quase barroca, que ele extrai da parcimônia. Creio que o estímulo, no caso, reside ainda no imediato envolvimento emocional do antropomorfismo, acentuado pela natural angústia do ex-voto. Mas o apelo não chega ao panfletário. E não é mérito pequeno, o de Aderson, ao conseguir, ainda hoje, uma arte que sai do coração – e a ele se destina.

Olívio Tavares de Araújo
São Paulo


Os ex-votos na geladeira

O passaporte de Aderson Medeiros é verde-amarelo. O artista veio de Fortaleza para o Rio, sem o “atalho” europeu. Sim, porque os do Nordeste costumam antes de vir para o Sul, respirar o ar europeu. E são frequentemente eruditos. Aderson, ao contrário, apegou-se ao veio popular e desde que se fez artista conhecido, tem trabalhado o ex-voto de madeira em diferentes roupagens, mas sempre recriando um cenário que é espaço místico e miserável do Nordeste das secas e das enchentes. Vestindo seus ex-votos com sacos de aniagem, acrescentando-lhes vários atributos como chapéus, trouxas, cabaças, cerâmicas etc, Aderson transforma-se em gente, ou quase, em santos e beatos, ao quase. O caráter ambiental ou cenográfico tem sido uma constante, às vezes, provocando um impacto verdadeiro, como na procissão de maltrapilhos que montou numa das bienais de São Paulo. O melhor trabalho, entretanto, é aquele que mostra os ex-votos, fazê-los conviver com a tecnologia contemporânea e com a sociedade de consumo. Ou seja, é o mágico, o rural e o Nordeste irrompendo bruscamente na sociedade tecnológica e consumista, no Sul maravilha, ou, ao contrário, é tentativa ou esconder ou congelar tudo aquilo que insiste em se fazer presente, em não desaparecer, pois que está enraizado no mais profundo do ser nordestino.

Frederico Morais (O Globo)
Rio de Janeiro


A multiplicidade na obra de Aderson Medeiros

Voltado para um exercício avaliativo, numa demonstração de aprendizado, sentido nas resoluções e no vivenciar, abrangendo não somente o formático, está carasterizado de imediato pelo ex-voto. A presença do artista que se identifica através do seu trabalho, sua individualidade, seu país e os acordes do mundo.

Vejo na sua obra um aprofundamento, irrestrita e angustiada extração de significados que o levou a outros desígnios em sua tônica. É inicialmente a presença do Nordeste que absorve todo o ambiente, oferecendo um clima de grandes lances dramáticos, envoltos por sutis ambiguidades, compondo cenários repletos de contrastes. Suas esculturas simbólicas atingem vários graus de intensidade: à medida que se transforma numa acusação, é um anúncio de grito e denúncia; por outro lado, a postura das máscaras do Homem, o pleno embate da felicidade, da tristeza, da alegria, da própria vida – as multiplicidades de registrar e transmitir.

Partindo da sua raiz, ADERSON MEDEIROS se situa como um gravador popular, cuja produção deve ser assimilada de imediato. Envolto nas ilustrações que o cerca, na literatura de cordel, na paisagem de pouco verde, nos brinquedos improvisados do menino cearense, no morador do Rio de Janeiro, na magia que unifica o natural e o sobrenatural, no magnetismo da religião – eis parte do artista.

Autodidata, nascido em 1948, vivendo relativamente certo tempo nos grandes centros urbanos, soube transpor para os seus trabalhos novas descobertas. Surgem ideias calcadas no mesmo suporte, na temática inicial, porém, manifestando, assim, seu desejo dum pronunciamento mais abrangente.

ADERSON MEDEIROS sabe articular ou modular estruturas com a forma do ex-votos e atinge uma linguagem apropriada para as diversas abordagens, não se limitando somente às suas origens. Em um dos seus ambientes, retrata O Grande Rio, é a integração do tema no contexto da visualidade brasileira, noutro ressalta uma antiga cadeira pertencente à sua família. São confrontos visuais que valorizam pesquisas, observações e realizações de ADERSON MEDEIROS, cobrindo de importância artística e estética esta mostra.

Vicente de Percia
Rio de Janeiro


Nascido em Fortaleza a 4 de outubro de 1948. Autodidata. Desde cedo iniciou-se em desenho, para, posteriormente, em meados de 1966, dedicar-se a estudos de pintura. Em 1971 começa a usar em suas pinturas: cabeças, braços e pernas de ex-votos. Daí, eliminando gradativamente a cor, até atingir em caráter pleno a terceira dimensão, isto é, o objeto em sua forma plástica atual.

Resumo do Curriculum

Prêmios

1971 – 1º Prêmio de Pesquisa no III Salão Nacional do Ceará
1972 – 2º Prêmio de Pesquisa no Salão da Abolição – Fortaleza
Prêmio de Aquisição no XXII Salão de Abril – Fortaleza
Medalha de Ouro na Pré-Bienal de São Paulo – Fortaleza
1º Prêmio Nacional do Brasil Plástica 72 – São Paulo
1974 – Prêmio de Isenção de Júri no XXIII Salão nacional de Arte Moderna – Rio
1º Prêmio na Bienal Nacional de São Paulo
Prêmio de Aquisição no IV Salão de Arte de Belo Horizonte

Coletivas

1967 – Inaugural da Galeria – Raimundo Cela
I Salão Nacional do Ceará
1969 – II Salão Nacional do Ceará
Gabinete Português de Leitura  – Salvador
1970 – Universidade de Berkeley – Califórnia
1971 – Palácio do Buriti – Brasília
III Salão Nacional de Belo Horizonte
Pintores Cearenses no Uruguai e Argentina
Palácio da Abolição – Fortaleza
1973 – XII Bienal de São Paulo
1974 – VII Salão de Santo André – São Paulo
XIII Bienal de São Paulo
II Salão de Arte Global de Pernambuco – Recife
Arte Agora I – Brasil 70/75
1978 – Paço das Artes “Panorama da Arte Cearense” – São Paulo
I Bienal Latino-Americana – São Paulo
1979 – 3º Salão Carioca de Arte
II Salão Nacional de Artes Plásticas – Rio
Mostra de Arte – promoção do colunista Lúcio Brasileiro – Fortaleza
1980 – Consejo Municipal Del Distrito Federal – Caracas (Exposición “El Mundo de 1º Sobrenatural” – Artista Convidado – A La Memoria de Monsenor Oscar Arnulfo Romero)
Galeria Feliz – Caracas
Exposición “Magia y Sueno” – En El Arte de America Latina
IV Salão Carioca de Arte – Rio
Gravura Brasileira durante a visita do Presidente da República ao Chile
1981 – XVI Bienal de São Paulo
Arte Postal. Galeria de Arte do Centro Cultural Cândido Mendes – Promoção/Fundação Rio
1982 – Ato Original – Mostra de Arte organizada por Anna Medeiros

Individuais

1969 – Galeria Raimundo Cela – Fortaleza
1972 – Ideal Club – Fortaleza
1974 – Galeria Gumar – São Paulo
1976 – Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
1977 – Galeria Arte/Contacto – Caracas
1979 – Galeria Sala Ocre – Caracas
1980 – Galeria FUNARTE Rodrigo Mello de Andrade – Rio
Sala Miguel Bakun – Curitiba
1981 – Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
1982 – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador
Museu de Arte de Joinville

Teatro

1976 – Cenário da Peça Morte e Vida Severina – Teatro da Emcetur

Citação: “EX-VOTOS E ORANTES NO BRASIL” em livro de Maria Augusta Machado da Silva

Acervo

Museu de Arte da Pampulha – Belo Horizonte
Museu do Crato – Ceará
Casa da Cultura do Palácio da Luz – Fortaleza
Minimuseu Firmeza – Fortaleza
Museu de Arte Moderna da Bahia
Museu de Arte de São Paulo
Museu de Arte de Assunção – Paraguai
Museu de Arte de Joinville


Catálogo da Exposição Aderson Medeiros 1983

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