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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 1983.10 – Roberto Galvão – 30/11/1983

(Transcrito do Catálogo)

A Paisagem como Metáfora

Ao longo dos mais de dez anos em que acompanho (mesmo que de longe) o trabalho de Roberto Galvão, tenho podido constatar a constante que é a sua preocupação fundamental. Ele se preocupa – conscientemente ou não, voluntariamente ou não – com o “aggiornamento” de sua linguagem plástica, no sentido de que ela reflita o que se passa ao redor, em termos estilísticos. Em 1972, por exemplo, quando conheci Galvão, ele trabalhava com instalações perecíveis, feitas de pipas poeticamente soltas no espaço, e que lhe valeram um prêmio na Pré-Bienal. Pouco depois, essas pipas se cristalizavam ornamentalmente dentro de molduras de acrílico. Vi, a seguir, suas esculturas limpas, bem de arquiteto, onde vicejava uma geometria não-ortodoxa, nem minimalista, e observei ainda sua passagem à pintura sobre tela, num momento em que essa volta ocorria em todo o mundo. O que nisso tudo se pode observar é uma busca de sintonia com movimentos, tendências, com a atualização. Talvez ela reflita uma espécie de ansiedade do artista fora dos grandes centros produtores, desejoso de provar para si e para os outros sua capacitação profissional.

É sobre esse pano de fundo que se olha a pintura atual de Roberto Galvão. E mais uma vez ela é uma tentativa pessoal de tradução de preocupações plásticas que estão “no ar” em vários artistas e países. Por um lado, os pintores-pintores, hoje em dia, se mostram de novo fascinados por seu métier, pelo ato de pintar, pela presença legível, sobre a tela, do resultado de seus gestos pictóricos. (Daí, aliás, a emergência de uma nova-pintura, e até um neo-expressionismo, que estão na crista da onda). Numa outra vertente: os pintores desejam conservar intactos seus laços com a realidade, até mesmo com a figuração, que foi a viga mestra da década de 70, e ainda não perdeu seu sortilégio. Galvão procura especificamente fazer a síntese entre as duas tentações. Mantém seu vínculo com a paisagem nordestina, que evidentemente está na origem de toda sua experiência coma  visualidade. É ela o ponto de partida e o componente figurativo de seu trabalho. Aliás, a julgar também por outros exemplos (como o de José Tarcísio), essa paisagem está enfim recuperando seu justo espaço na pintura simplesmente como assunto. Sobre essa paisagem que preside suas telas, Galvão interfere então com elementos puramente pictóricos. num de seus quadros (um de bela cor laranja), o trabalho plástico é quase o de uma abstração lírica, gestualmente delicada, mas sempre vigorosa. Fica aqui claro que Galvão quer fazer pintura-pintura, um fenômeno bidimensional que se passa sobre uma tela, gerador de uma realidade específica.

Nisso tudo, cabe sem dúvida uma cobrança. Vista em conjunto, a obra de Galvão revela a pluralidade de possibilidades e caminhos pelos quais ele enveredou diversamente em momentos diversos, sem se fixar em nenhum deles. Esse livre trânsito comprova sua habilitação técnica e sua habilidade visual. Comprova também que ele já investigou seu próprio talento em extensão, no sentido horizontal, de largueza de opções. Compete-lhe agora investigá-lo na auto-expressão. E a partir daí, deve começar a luta mais penosa, “tamanha paixão e nenhum pecúlio” de que fala nosso poeta maior, com a qual o artista edifica, finalmente, o melhor e mais verdadeiro de sua obra – e deixa seu legado.

São Paulo, Outubro de 1983
Olívio Tavares de Araújo


Roberto Galvão

nascido em Fortaleza, 1950, iniciou suas atividades artísticas em 1966. Pintor, escultor e gravador tem obras nos acervos do Museu de Arte da UFC, no MAM/SP, no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Mini-Museu Firmeza e na Pinacoteca do Estado do Ceará. Realizou pesquisas sobre as Artes Plásticas no Ceará dedicando-se igualmente a apreciação de arte popular e erudita na Região Nordeste do Brasil, e tem ministrado palestras em escolas, universidades e instituições culturais.

Responsável pela organização de exposições como Ontem-Hoje 67/77 (Raimundo Cela – 77), Arte Fantástica (BMC Galeria – 79), 9 Artistas Populares (Raimundo Cela – 79), Visão Objetiva do Desenho Cearense (Simwal Arte Galeria – 78), Arte da Religiosidade no Ceará (Raimundo Cela – 80), A Paisagem Cearense (Estação das Artes – 82) e A Figuração no Ceará (Estação das Artes – 82). Dirigiu a Casa  de Cultura Raimundo Cela em 1979 e atualmente é membro do Conselho Estadual de Cultura do Estado do Ceará.

Principais Exposições

Coletivas

1966 – XVI Salão de Abril
1967 – Galeria Raimundo Cela
XVII Salão de Abril
1968 – Museu nacional de Belas Artes – Rio
XVIII Salão de Abril
1969 – Gabinete Português de Leitura – Salvador
XIX Salão de Abril
II Salão Nacional do Ceará
1970 – Prévia da Bienal de São Paulo – Recife
XX Salão de Abril
1971 – XII Salão de Abril (Prêmio)
III Salão nacional do Ceará (Prêmio)
I Exposição Universitária de Arte (Prêmio)
1972 – XXII Salão de Abril (Sala Especial)
Brasil – Plástica 72 )Prêmio)
Pré-Bienal de São Paulo – São Paulo
1973 – XXIII Salão de Abril (Prêmio)
IV Salão nacional do Ceará (Prêmio)
XII Bienal de São Paulo – São Paulo
1974 – Unifor Plástica 74 (Prêmio)
V Salão Nacional de Arte Universitári0 B.H.
1975 – Salão Histórico da Arte do Ceará
1977 – Fundação José Augusto – Natal
Panorama da Arte Atual Brasileira – São Paulo
1978 – Paço das artes – MIS – São Paulo
Funarte – Rio
XXVIII Salão de Abril (Sala Especial)
1980 – Museu histórico e Artístico do Maranhão – São Luis
1981 – Arte-Xerox (Prêmio)
Mestres e Contemporâneos – Galeria Rodrigues – Recife

Individuais

1971 – Galeria Gauguin
1972 – Galeria do Ideal Clube
1974 – Museu de Arte – UFC
1978 – Simwal Arte Galeria
1979 – Casa de Cultura Raimundo Cela
1980 – Galeria Crédimus
1981 – Galeria Artimagem – Recife
Galeria Época – Salvador
Galeria Ignez Fiuza
1982 – Oficina Guaianases de Gravura – Olinda
1983 – Museu de Arte – UFC


Catálogo da Exposição Roberto Galvão 1983

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