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Universidade Federal do Ceará
Museu de Arte da UFC – Mauc

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Exposição 2000.01 – 60 Anos de Arte Brasileira – Acervo da Caixa – 12/09/2000

(Transcrito do Catálogo)

A Caixa Econômica Federal apresenta uma amostra significativa de seu acervo, selecionada pelo crítico Frederico Morais. São 29 peças de pintura e gravura de artistas brasileiros e mais uma de um artista hispano-americano que residiu no Brasil nos anos 50.

O período abrangido pelo conjunto de peças escolhidas medeia entre os anos 20 (por exemplo o belo quadro de Anita Malfatti de 1927) até quase o final dos anos 80, com obras como as de Antônio Poteiro e Emmanuel Nassar realizadas por ocasião da celebração da nova Constituição Republicana de 1988. Esse conjunto abrange pelo menos quatro gerações de artistas brasileiros e nos apresenta as principais tendências e escolas artísticas deste longo período do século XX. O espectador poderá, ao percorrer a exposição, refazer os trajetos da Arte Brasileira através dessa pequena amostragem de obras que nos dão conta desses caminhos percorridos.

A geração modernista está representada por alguns de seus melhores pintores, como Anita Malfatti, Guignard, Rego Monteiro e Di Cavalcanti; completa o grupo a presença de Cícero Dias, que foi a jovem revelação nos anos 20, espécie de irmão caçula dos modernistas que a todos enternecia e espantava com sua arte meio ingênua, meio surrealista. O conjunto formado pelas obras desses pintores não chega a ser uma síntese da pintura dos anos 20, pois elas são de diferentes estilos dentro do conjunto do mesmo artista. Contudo, mesmo com essa disparidade, pode-se perceber sua temática e o tratamento formal peculiares à época, como, por exemplo, nos quadros de Anita, Di Cavalcanti e Guignard.

José Augusto Avancini


Obras Expostas

Anita Malfatti (São Paulo, SP, 1896 – 1964)

“ Valência” 1927, óleo sobre tela, 80cm x 80cm

O quadro de Anita(Valência) foi realizado quando de sua estada na Europa para estudos de aperfeiçoamento entre 1923-8. É sabido que nesse período a pintora abandonou sua experiência expressionista e buscou reatar com a tradição, através do clima que encontrou em Paris de retorno à ordem, isto é, de volta a padrões e procedimentos tradicionais da pintura com respeito à figuração, incorporando algumas soluções formais das vanguardas artísticas como o fauvismo, o cubismo e o expressionismo. O quadro de Anita, bela natureza morta, retorna à temática cubista do quadro de ateliê, no qual estão os conhecidos motivos do violão, da partitura, panejamentos e demais acessórios de uma mesa de ateliê. O mais importante de tudo é a presença da música e a sugestão da íntima afinidade entre essa e a pintura. Tudo tratado dentro de uma visão figurativa estruturalmente clássica com algumas interferências formais do cubismo e uma forma variada e nuançada de cores, demonstrando domínio técnico e uma sensibilidade madura de nossa pintora, fundadora do modernismo brasileiro.

Di Cavalcanti (Rio de Janeiro, RJ, 1976)

“Pescadores” 1970, óleo sobre tela, 80cmx 100cm

A obra Pescadores, de Di Cavalcanti, é um desdobramento de uma temática recorrente na pintura do grande artista carioca, desde os anos 30 e 40, período em que localizamos seus melhores trabalhos, os quais, como este, incorporam as soluções plásticas do cubismo, do fauvismo e de um Picasso bem digerido, somadas à temática social de um Di Cavalcanti muito participante. Se esta obra perde em riqueza de estruturação e na escola cromática dos quadros similares dos anos dourados do artista, ela, contudo, é uma peça de qualidade e serve como testemunho da busca de síntese plástica que galvanizou os trabalhos do último período de vida do pintor.

Alberto da Veiga Guignard (Nova Friburgo, RJ, 1896 – Belo Horizonte, MG, 1962)

“Flores com paisagem” Sem data, óleo sobre tela, 54cm x 73 cm

Guignard está presente com um trabalho bem ao gosto decorativo, no bom sentido que o termo possa ter para a Arte Moderna. Apresenta uma paisagem interiorana com uma bela trepadeira florida num primeiro plano, sobressaindo as grandes ipoméias brancas de corola vermelha a dominarem toda a composição. O conjunto ganha um sentido ao mesmo tempo erudito e popular, síntese apurada que só Guignard era capaz de realizar através de suas tão brasileiras paisagens. Inventadas, é certo, mas nas quais todos podemos nos reconhecer e reconhecer boa parte de nossas paisagens. Elas servem como matrizes para alimentar nosso imaginário sobre nosso próprio país. Em suas paisagens encontramos o Brasil idílico, rural, inocente, que todos trazemos na memória desde a infância e para o qual sonhamos voltar algum dia.

Guignard fez com a pintura o que Matisse postulava: ela deveria ser sempre um refrigério para a alma, um alimento renovador para o espírito. Ingenuidade, simplicidade e certa candura, temperadas com sabedoria do metiê e refinadíssimo senso de composição e de cor, são as características das obras de Guignard que podemos apreciar nessa composição de Flores com paisagens.

Cícero Dias (Escada, PE 1907 – Paris, França 2003)

Sem título, Sem data, óleo sobre tela, 73cm x 60cm

A pintura de Cícero Dias que vemos nessa exposição também se caracteriza por um senso decorativo acentuado. Figuras esquemáticas, planos geometrizados, cores intensas e chapadas evocam as grandes metrópoles modernas com casario sobreposto às duas figuras emblemáticas do casal urbano moderno, espécie de Adão e Eva dos tempos atuais.

Vicente do Rego Monteiro (Recife, PE, 1899 – 1970)

“Composição” Sem data, óleo sobre eucatex, 61cm x 50cm

Rego Monteiro comparece com uma composição abstrata, provavelmente de sua última fase no Brasil nos anos 60, de forte alusão a elementos vegetais, com predominância dos azuis e verdes, tendo o núcleo em forma arredondada vermelha a pulsar nesta composição cerrada que forma verdadeira hiléia pictórica. Obra peculiar e particular, se pensarmos todo o conjunto de trabalhos do pintor desde os anos 20, fase que o celebrizou e na qual criou seu estilo marcadamente pessoal, de uma figuração estilizada e geometrizada com acentuados elementos do art-decô da época.

A segunda geração comparece com um pequeno grupo de santaelenistas e alguns artistas a eles associados por temática e preocupações técnicas. São: Alfredo Volpi, Francisco Rebolo e Aldo Bonadei, acompanhados por José Pancetti e Djanira, amiga do grupo e de estréia posterior, e por fim, o homem- ponte, não só entre a primeira e a segunda geração, mas também entre o eixo Rio – São Paulo e o sul do país, que foi Carlos Scliar, jovem inquieto e ativo militante artístico e político dos anos 40.

Alfredo Volpi (Itália, 1896 – São Paulo, SP, 1988)

“Tatuapé” Sem data, óleo sobre tela, 40cm x 50cm

Este segundo grupo apresenta trabalhos de diferentes épocas e temáticas, começando pela tela de Volpi Tatuapé que nos remete às obras do mestre nos anos 30 e 40. Esse período foi o de consolidação de um estilo pictórico e mostra um esforço de Volpi para encontrar seu caminho próprio, através de descobertas pessoais e solitárias, sem ser influenciado diretamente por nenhum artista ou escola.

É uma paisagem de arrabalde, quando a cidade não tinha ainda chegado aos limites do Rio Tietê, e o Tatuapé era uma zona de chácaras e pequenas casas populares, lugar de pescaria e lazer. É uma obra onde composição e cor são bem estruturadas, com pinceladas densas e fortes. A supremacia do pictórico sobre o desenho é evidente, mostrando a tela um empastamento das tintas e provocando um efeito de volume, que lhe dá vida intensa pela vibração da cor. A temática e o tratamento pictórico denotam um otimismo vigoroso e um certo despojamento que caracterizaria esta arte proletária de fundo realista, meio expressivo de um grupo de artesãos que teimavam em serem artistas e que o foram por persistência e paixão.

José Pancetti (Campinas, SP, 1902 – Rio de Janeiro, RJ, 1958)

“A casa de um pescador” 1947, óleo sobre tela, 54cm x 65cm

A primeira etapa de Alfredo Volpi, entre 1920 e 1940, foi um período de aprendizagem e descobertas que se consolidam com a vivência junto ao mar e com o contato e a amizade com Ernesto De Fiori nos fins dos anos 30. Desde o início de sua trajetória, Volpi está preocupado com o essencialmente pictórico; já entregava-se à cor, experimentando todas as suas possibilidades, partindo de um uso que o aproxima dos procedimentos pós- impressionistas de uma tela empastada e densa de cores. Sua paisagem suburbana é um testemunho desse processo de aprendizagem cumulativo que realizou nesse período de sua vida.

Outra obra que se aproxima pela temática e período de execução da de Volpi é o belo quadro de José Pancetti. A casa de um pescador já se enquadra dentro de sua temática das marinhas e do mar costeiro, que seria seu tema de eleição e motivo de excelência de quase todas as suas obras. Nesse trabalho podemos observar o perfeito domínio da cor que possuía Pancetti, tornando-se o grande marinhista da arte brasileira ao lado de João Batista Castagnetto. Pancetti estudou e praticou no Núcleo Bernardelli, o equivalente carioca do Grupo Santa Helena, formado por jovens estudantes e interessados na pintura, que estavam, muitos deles, fora da Escola Nacional de Belas Artes. Pancetti era marinheiro e um homem de origem humilde. Com certo grau de ingenuidade e com esforço, foi um autodidata, tendo, como Volpi, um profundo sentido da cor.

Aldo Bonadei (São Paulo, SP, 1906 – 1974)

“Flores” 1970, óleo sobre tela, 55cm x 45cm

Elaborou uma pintura erudita de base popular que o aproximava dos artistas com preocupação social, evoluindo para uma obra essencialmente visual, dominada pela aplicação da cor e das transparências, e nas quais o assunto marinha acaba sendo mero pretexto.

Senhor dos azuis e verdes, seus quadros guardarão sempre uma beleza inigualável, revelando as diversas profundezas do mar através de uma gama rica de nuanças que captam o movimento das águas. No presente quadro, ainda temos a preocupação documental e construtiva com o primeiro plano no registro da casa do pescador e de seu entorno. Com o passar do tempo, Pancetti aboliu os detalhes e se concentrou na captação do mar, seu tema obssessivo e motivo de sua glória posterior.

As obras de Bonadei e Rebolo, companheiros de Volpi dos heróicos tempos do Grupo Santa Helena, são de período mais recente, mas conservam o mesmo clima e preocupação com a captação da realidade. Esta, contudo, já está filtrada pela disciplina abstrata e por preocupações, em Bonadei, de aproximar a pintura da música e de encontrar na cor elemento equivalente ao som.

Francisco Rebolo (São Paulo, SP, 1903 – 1980)

“Floresta” 1973, óleo sobre tela, 56cm x 72cm

Sua natureza morta nos mostra uma tela de cores vívidas e forma quase abstratas, a se imbricar com o casario que descortinamos através de uma janela que se faz de duplo do quadro. Essa construção de linhas e cores em dinamismo fica a nos propor uma arte que , filtrada por alguns princípios da Gestalt, tão admirada pelo pintor, nos lança a possibilidade de uma nova imagem liberta da referência minuciosa da realidade, de herança naturalista, e abre a perspectiva de uma visualidade mais sintética na trilha da tradição moderna inaugurada pelo cubismo.
A paisagem de Francisco Rebolo, dos anos 70, nos mostra um certo gosto pela estilização e simplificação das formas, sem contudo cair na banalidade. Sua paisagem é uma intrincada rede de elementos verticais no plano da tela, harmonizados pela predominância dos verdes, equilibrados por azuis e ocres e por uma longa linha diagonal descendente a se contrapor com as verticais das árvores.

Djanira (Avaré, SP, 1914 – Rio de Janeiro, RJ, 1979)

“Trabalhadores da cana” 1966, serigrafia sobre papel, 32cm x 49cm

Mestre da pequena paisagem e das coisas miúdas, Rebolo soube encontrar uma poesia intensa ao fixar esse mundo do arrabalde e dos humildes, do qual fez parte por longo tempo. Requintado colorista, é na cor que canta mais alto sua força expressiva. Foi o pintor que soube captar a grandeza do mundo cotidiano e dela extrair uma beleza límpida e despojada.

Próximo ao trabalho de Rebolo, de quem era amiga, está a tela de Djanira, no meio caminho entre o erudito e o ingênuo. Artista de cultura popular e formada pouco a pouco no convívio e na fruição da arte e dos artistas, consolidou um estilo de trabalho que lhe granjeou fama e respeito internacional, desde o fim da II Guerra Mundial até a sua morte em 1979. Sua arte, que capta momentos da vida das classes populares em seus trabalhos e lazeres, se caracteriza pelo uso de cores fortes, contrastantes, em aplicação chapada na tela, com uma estrutura composicional sintética que se utiliza de planos largos e, muitas vezes, soltos no espaço pictórico.
Criou obras de forte apelo mural e grande força visual. Sua tela Trabalhadores da cana lembra essas características apontadas e nos sugere a composição de um belo painel sobre o trabalho duro dos canaviais. Distribuição harmônica de cores que ocupam boa parte da composição em planos, sem se misturarem ou interferirem, diretamente, uns com os outros.

Carlos Scliar (Santa Maria, RS, 1920)

“Independência” 1970, óleo sobre madeira, 65cm x 94cm

Djanira tem lugar assegurado em nossa história da arte como uma artista de extração ingênua que soube aprender no convívio com a arte e produzir obras de sabor erudito, onde as fronteiras entre um mundo e outro se esbatem, favorecendo, antes de mais nada, a própria produção artística.

Todos esses artistas por nós localizados como a segunda geração de pintores modernos tiveram sua origem em camadas humildes da população, quase todos trabalhos manuais, artesãos e com um nível de educação formal muito baixo. Mas, munidos de sensibilidade e intuição e uma vontade enorme de aprender, ingressaram nos quadros cultos de nossa cultura, marcando época e posição. Eles representaram a emergência de novos grupos sociais urbanos e, por suas raízes estarem no estrato popular, sua contribuição enriqueceu a produção cultural e foi por ela fecundada.

Ainda nesse grupo, destacamos a figura ativa e inovadora do então jovem Carlos Scliar, que começava sua carreira saindo do Rio Grande do Sul e fazendo a guerra com a FEB ( Força Expedicionária Brasileira) na Itália. No retorno, Scliar passa a ter um papel relevante no entrosamento entre os grupos jovens de São Paulo e Rio com os do Rio Grande do Sul, especialmente com Porto Alegre, que ainda estava adormecida para a arte moderna, onde um núcleo de artistas e intelectuais regiam com violência ou deboche a qualquer aproximação.

Abelardo Zaluar (Niterói, RJ, 1924 – Rio de Janeiro, RJ, 1987)

“Inconfidência” 1982, acrílica sobre tela, 100cm x 120cm

O trabalho de Carlos Scliar se encaixa no gênero pintura alegórica, pois trata com certa originalidade do tema da independência, estando também presente o uso e a influência das histórias em quadrinhos. Scliar utilizou com parcimônia os recursos aludidos e acentuou a depuração formal dessa obra que serviu de ilustração a bilhete de loteria. As cores nacionais estão presentes numa composição bem estruturada que tem a bandeira nacional como motivo, junto à figura de Dom Pedro I. Não deixa, contudo, de ter um clima até jocoso, se pensarmos no perfil do nosso jovem fundador, o aventureiro e, muitas vezes, tirânico, Pedro I. Mostrando pleno domínio técnico, Scliar cria um quadro alegórico despojado, mas não isento de humor.

Dionísio Del Santo (Colatina, ES, 1925)

“Tema Vibrações = 110”

O terceiro grupo ou geração irá se destacar a partir dos anos 50, período de desenvolvimento e afirmação das tendências abstratas no Brasil. Esse terceiro grupo, o mais numeroso da exposição, traz artistas que são verdadeiros marcos nas artes plásticas brasileiras dessa segunda metade do século. Esse rico momento de nossa história cultural é tido por parte da crítica como verdadeiro início da modernidade entre nós, por fundar uma nova visualidade concordante com os tempos de urbanização e industrialização acelerada que dura boa parte dos anos 50, estendendo-se até fins dos 70.

Após as primeiras Bienais Internacionais de São Paulo, cresceu a adesão aos movimentos abstratos, que rapidamente se tornaram predominantes no panorama artístico do eixo Rio – São Paulo nesse período. A historiografia artística tem classificado esse amplo movimento em duas tendências gerais: o abstracionismo geométrico e o abstracionismo lírico. Recolocava-se em outros termos a questão da cor versus linha, que remonta ao debate romântico Delacroix versus Ingres. O abstracionismo geométrico tinha a seu favor o novo desejo de reordenar o mundo e de reconstruí-lo numa nova ordem com valores racionais básicos acessíveis a todos.

Myra Landau (Romênia, ?, ativa no Brasil)

“Ritmo retangular 2” 1972, gravura, 72cm x 56cm

Além disso, queria refazer a ordem das coisas e dar a elas uma inteligibilidade fácil e de geral compreensão. Havia uma atitude de negação da realidade tal qual ela se apresentava, segundo a tradição naturalista.

Esse repúdio à representação naturalística da realidade também foi partilhado pelos líricos, que fizeram da efusão plena da sua subjetividade e emotividade o ponto central de sua postura. A mancha seria o testemunho de uma vivência toda particular, índice de um movimento interior, que se materializava através da cor e das formas aleatórias. A liberdade da cor ou a disciplina da linha volta à cena do debate artístico ao longo dos anos 50, dividindo opiniões, criando polêmicas, aguçando conflitos pessoais e institucionais e, inclusive ideológicos – partidários. Colocou abstratos como defensores da modernização e figurativos como tradicionalistas ou partidários e simpatizantes do Partido Comunista e dos movimentos de oposição à nova (velha) ordem burguesa internacional.

Omar Rayo (Colômbia, 1928)

“Nodobilia XXIX” 1956, gravura em metal , 77cm x 77cm

O grupo de artistas que incluímos nessa terceira geração é o maior da exposição, composto de 15 pintores e gravadores, número que é a metade do total expositores. Certamente, a ênfase da escolha se deve ao fato de que a tônica da Bienal do Mercosul, para a qual esta exposição foi originalmente montada, é a da integração cultural entre os diversos participantes do evento. A isso soma-se o pensamento crítico atual que vê na geometria o elemento de união entre as artes contemporâneas da América Latina. Desde os anos 50, o intercâmbio com os países do Prata é intenso, lembremos as visitas de Maldonado e Jorge Romero Brest a São Paulo e Rio de Janeiro. O precursor dessa orientação é o uruguaio Joaquin Torres – Garcia, que concebia a arte depurada pela geometria como uma linguagem plástica universal.

Aluísio Carvão (Belém, PA, 1918)

“Inconfidência” 1983, acrílica sobre tela, 100cm x 120cm

Contudo, essa geometria vinha temperada pela visão poética do mundo que a aproximava de uma arte primitiva ou ingênua, através da qual a sensibilidade do artista pudesse encontrar a do espectador. Os críticos Roberto Pontual e Frederico Morais vieram a cunhar a feliz expressão Geométrica Sensível, com a célebre exposição do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro de 1978, marcada pela tragédia do incêndio que vitimou boa parte das obras de Torres – Garcia lá expostas. Este ano é também importante pela realização da I Bienal Latino – Americana de São Paulo, cujo tema central era Mitos e Magia na Arte Latino – Americana. Tal iniciativa não teve continuidade, mas parece tê-la encontrado dezenove anos após, na Bienal do Mercosul, na qual retomamos relações e questões que ficaram no ar por tanto tempo.

Maria Leontina (São Paulo, SP, 1917 – Rio de Janeiro, RJ, 1984)

“Composição” 1972, óleo sobre tela, 61cm x 50cm

A abstração geométrica é o centro do debate plástico na América Latina ou, pelo menos, na América do Sul, onde houve forte influência do concretismo e das tendências abstratas geométricas em geral. Outras correntes também se fizeram presentes, como o surrealismo e a abstração lírica, mas foi a corrente abstrato – geométrica que melhor penetrou e expressou os anseios de ordem e inteligibilidade da realidade, no seio da cultura latino – americana.
O núcleo principal dessa Exposição são os artistas que se lançaram ou que realizaram a parte mais significativa de suas obras nesse período da década de 50. Eles se fazem presentes com obras que realizaram principalmente, nos últimos vinte ou vinte e cinco anos, já passado o auge da polêmica sobre arte abstrata. Mesmo assim, apresentam trabalhos marcados pela força da matriz de raiz concretista.

Destacamos os trabalhos de Abelardo Zaluar, Aluísio Carvão, Dionísio Del Santo, Sônia Ebling, Maria Leontina, Myra Landau e do colombiano Omar Rayo.

A presença solitária deste hispano – americano se deve, provavelmente, ao fato de ele ter residido no Rio de Janeiro entre 1955-56, onde trabalhou e interagiu com o meio artístico de então. Seu trabalho constante dessa exposição foi elaborado durante esta estada e nos serve de referência e símbolo nas relações e no intercâmbio entre os povos latino – americanos, objetivo maior da Bienal.

Milton Dacosta (Niterói, RJ, 1915 – Rio de Janeiro, RJ, 1988)

“Figura” 1965, óleo sobre tela, 81cm x 65cm

Em todos eles é forte a presença da arte abstrata geométrica, fonte comum de inspiração e orientação. Em alguns, como Aluísio Carvão, por exemplo, é a cor que predomina numa solução econômica e de grande beleza expressiva, fazendo desse artista um dos maiores coloristas da atualidade. A forma é econômica e de uma simplicidade total; contudo, seu agenciamento na composição e o uso de sutilezas colorísticas dão ao quadro grande força plástica. Das telas apresentadas, a de Maria Leontina alcança igual qualidade tonal, tendo o vermelho como cor predominante. Seu trabalho nos remete à sua série dos estandartes, também joga com as tonalidades das cores e com as passagens de um tom para o outro. Nesses dois trabalhos, a vontade construtiva associa-se ao lirismo da cor em sua plenitude expressiva. O resultado alcançado é de um refinamento que encanta o olhar, repousando-o, a nos lembrar, novamente, Matisse, para quem a arte tinha a função precípua de retemperar o espírito.

Os trabalhos de Milton Dacosta e de Abelardo Zaluar aproximam-se pela busca de precisão ortogonal e pela referência a temas já universais, como, no primeiro, à mitologia grega, e, no segundo, ao símbolo da Inconfidência: a bandeira dos Conjurados com o triângulo verde e os dizeres que tornaram famosos (Liberdade ainda que tardia). No primeiro quadro, a figura de Vênus é disciplinada por uma estrutura ortogonal que enfatiza suas linhas arredondadas. O uso de cores pálidas, lembrando pastel, fazem da figura um emblema de beleza clássica, permeada de humor. O segundo quadro estiliza o triângulo verde da bandeira da Inconfidência Mineira e seus dizeres libertários. Planos em marrons e linhas que duplicam as da composição dão ritmo e valorizam o velho símbolo.

Sônia Ebling (Taquara, RS, 1926)

“Composição de concreto verde II” sem data, relevo em concreto, 100cm x 100cm

Já os trabalhos de Sônia Ebling, único objeto selecionado, de Omar Rayo e de Dionísio Del Santo exercitam diversos efeitos visuais, demonstrando as infinitas possibilidades dos materiais em produzir o movimento, o jogo do claro-escuro, a volumetria, sem recorrerem à tradicional técnica ilusionista do realismo naturalista. Há sempre o desejo de despojamento que é materializado pelo reduzido número de elementos da composição e pela também reduzida escala cromática. È a opção pelo mínimo para exprimir o que é essencial que, neste caso, são as possibilidades da visualidade. A essa arte de despojamento afetivo se opõe a tendência abstrata lírica que, pela mancha e pela cor, tenta o movimento oposto aos de influência geométrica, fazendo de cada obra um testemunho de um estado psíquico do pintor em um determinado momento. A tela de Manabu Mabe é a prova melhor dessa corrente nesta Exposição.

Ela demonstra a segurança e o domínio que o pintor tem do metiê das cores e de como jogá-las na tela, causando sempre um efeito decorativo de interesse e de agrado para o espectador, que fica livre para projetar-se no resultado apresentado ou para simplesmente usufruir do conjunto de cores e formas.

Manabu Mabe (Japão, 1924 – São Paulo, SP, 1997)

“AB – 7/72” 1972, Óleo sobre tela, 92cm x 123cm

Mabe ainda mantém o diálogo entre o fundo e a figura, aqui tratada como mancha, numa clara alusão à tradição ocidental de perguntar qual o lugar da figura no espaço. Mesmo na tradição japonesa, da qual Mabe descende, a figura é importante, e sua colocação no espaço é carregada de grande significação emotiva. A diferença é que, se no ocidente se procurou o equilíbrio e a harmonia entre espaço e figura, no oriente sino-japonês essa deveria desequilibrar o espaço que a continha, sugerindo que o extrapolava e muitas vezes que o subsumia. Em toda a obra de Mabe, há sempre esse constante diálogo entre o fundo minuciosamente trabalhado, liso, quase um espelho, e a mancha vigorosa, agressiva, inquietante, a desconcertar tudo.

Tomie Ohtake (Japão, 1913)

Sem título 1978, óleo sobre tela, 100cm x 100cm

A tela de Tomie Ohtake é testemunho de sua grande arte. Equilibra com mestria o fundo e a figura, dando-nos como resultado um conjunto sereno, sóbrio e, ao mesmo tempo, de grande intensidade plástica. Remete-nos, muitas vezes, para os espaços infinitos, movidos pelas linhas e cores, que ela sabe usar como ninguém. Talvez a obra de Tomie seja a síntese quase perfeita entre duas tendências abstratas, sincretizando o desejo de economia formal de uma, com a força lírica da outra, relevada pela cor trabalhada com infinitas sutilezas.

Antônio Bandeira (Fortaleza, CE, 1922 – França,1967)

“Paisagem” 1945, nanquim sobre cartão, 70cm x 50cm

O trabalho de Antônio Bandeira, presente nessa exposição, é certamente um exercício de ateliê do então jovem pintor ( vinte anos na época). Contudo, já demonstrava a força de um talento, que, para a alegria de quase todos os brasileiros, assombrou Paris nos fins dos anos 50, chegando a ser figura de destaque no movimento de abstração lírica européia que se desenrolava sob a égide e o patrocínio da cultura francesa. Lá, Bandeira chega a formar trio com o artista alemão de renome, Wols, e o francês Bryen, formando o pequeno grupo conhecido como BanBriWols. O desenho de Bandeira, feito com nanquim sobre o cartão, mostra um pedaço de paisagem urbana, um recorte de fachada com rua, quase um instantâneo que, fixado muito rapidamente, por causa da tinta e de sua secagem rápida, nos dá a medida da execução precisa e intuitiva do artista, prenunciando sua fase madura. Esta ocorreu cerca de dez anos após, sendo o tema da cidade sua preocupação central. Materializou-o no diálogo entre o emaranhado gráfico da tinta e o fundo da tela, sugerindo sempre a malha urbana como vista de um ponto muito alto, captando sua estrutura mais íntima e, ao mesmo tempo, mais vibrante de vida, de intensidade e movimento.

Emeric Marcier (Romênia, 1916 – Ouro Preto, MG, 1990)

“Paisagem” 1964, óleo sobre tela, 65cm x 92cm

Enfim, uma pintura luminosa e iluminadora da visão contemporânea das grandes cidades. A paisagem , de Bandeira é, pois, uma antecipação do que estava por vir e por arrebatar brasileiros e europeus na admiração desse artista extraordinário e de vida curta, como a das luzes de suas pinturas fulgurantes.

Dentro desse grupo central da exposição, há lugar para os chamados pintores figurativos, entre os quais estão Emeric Marcier, Farnese de Andrade, Raimundo de Oliveira e Antônio Poteiro. São diferentes figurações da realidade com afinidades próximas como, por exemplo, a que há entre Marcier e Farnese no amor por Minas Gerais, num certo tom sombrio e, às vezes, trágico, tanto na pintura do primeiro como nos objetos do segundo. O senso da história está presente nas cenas de Ouro Preto ou nas cenas bíblicas de Marcier e nos objetos compostos de Farnese, num constante clima pesado que o espectador pode perceber nas obras dos dois artistas.

A paisagem de Marcier mostra a terra mineira ondulada em tons ocres, numa composição ao mesmo tempo equilibrada no desenho e na gama de cores, a lembrar o cheiro da terra.

Farnese de Andrade ( Araguari, MG, 1926 – Rio de Janeiro, RJ, 1996)

“Repouso” 1973, técnica mista sobre eucatex, 54cm x 75cm

Mostra domínio técnico e sensibilidade ao tratar as faixas de cores como ondulações do terreno. É uma visão plástica ampla e contida da terra de Minas, sua pátria de eleição e amor devotado.

O quadro de Farnese, Repouso, em técnica mista, com o fundo negro e formas em dourado, traz já esse tom precioso e sombrio, abafado, de seus objetos posteriores. Há algo de mórbido, de deliqüescente, a lembrar certos simbolistas do fim do século passado, assim como um traço de orientalismo no preciosismo do uso do dourado. É também obra de antecipação e consolidação de tendências e estilo, que afloraram com toda força nos fins da década de 70, desenvolvendo-se até anos recentes

Raimundo de Oliveira (Feira de Santana, BA, 1930 – Salvador, BA, 1966)

“Procissão” 1956, óleo sobre tela, 67cm x 93cm

As obras de Raimundo de Oliveira e Antônio Poteiro se identificam pelo evidente apelo ao gosto e às formas populares. Em Raimundo foi escolha consciente e deliberada, pois queria estar mais próximo de seu povo nordestino e de torná-lo seu interlocutor. Retrata as festas populares, eventos associados ao povo simples, buscando, para tanto, uma forma condizente com seus objetivos artísticos. Com formação e informação erudita, Raimundo de Oliveira optou pelo caminho de um comprometimento social, através de sua obra plástica. Na presente tela, a simplicidade, a rusticidade do ambiente nordestino, seja pelo enquadramento, seja pelas formas geometrizadas ou seja pela palheta reduzida aos ocres, a lembrar a secura da terra nordestina.

Antônio Poteiro (Portugal, 1925)

“Brasília e a Constituição” 1988, Óleo sobre tela, 90cm x 140cm

O português Antônio Poteiro, que adotou Goiás como sua terra, é artista popular que teve experiência de variadas profissões e que muito andou pelo mundo. Surpreende a todos com a riqueza imagética de seus barros, pela profusão de figuras que ornamentam seus potes, refazendo, através deles, sua interpretação da origem e história do mundo. Como a catarinense Eli Heil, é um artista ínsito que não passou pelo ensino tradicional, nem dominava o código culto das artes. Estimulado por Siron Franco, importante artista goiano, incursionou no domínio da pintura produzindo quadros de tamanho grande com temática religiosa ou histórica, como é o caso da tela dessa Exposição, alusiva à proclamação da nova Constituição Republicana de 1988. Cores vivas, desenho espontâneo e singelo, preenchimento do espaço total com figuras referentes ao evento, são algumas das características formais do trabalho de Poteiro. Quer dizer tudo de uma vez, relatar em imagens mais do que pode dizer em palavras, dando significado a cada elemento dentro dessa narrativa visual.

O conjunto é de grande força expressiva e impacto, pelo uso de cores puras e de dezenas de figuras que preenchem obsessivamente a tela. O importante é que Antônio Poteiro nos dá uma visão otimista de um ato histórico, visto e interpretado por um artista de raiz popular e, de certa maneira, ainda não contaminado pelos valores e gostos da sociedade de consumo que o reconheceu e destacou comercial e culturalmente.

Gastão Manoel Henrique (Amparo, SP, 1933)

“Inconfidência” 1980, guache sobre colagem de madeira, 100cm x 120cm

É o olhar de um outro e importante segmento do Brasil, talvez o seu maior segmento, o dos excluídos de qualquer benesse material. Contudo, sua visão do mundo é de alegria e esperança.

A quarta geração, cuja presença encerraria este percurso pela arte brasileira, surge no panorama cultural nos fins dos anos 60, imbuída de um forte desejo de contestação ao estado vigente nas artes e na situação política do país. Temperados pelos ensinamentos da Pop-Art e pelo uso das mídias industriais, estes novos artistas fizeram uma leitura crítica desses recursos e os utilizaram largamente para uma rejeição contundente da sociedade, seus costumes, valores, crenças, estruturas políticas e relações sociais. Todos os artistas dessa geração, participantes da exposição, estão fortemente marcados pela figuração, pelos usos do corpo e pela performance, que alargaram enormemente as fronteiras da arte a partir dos anos 60.

Neste conjunto destacamos a presença de quatro artistas que têm uma trajetória similar: Gastão Manoel Henrique, Cláudio Tozzi, Arthur Barrio e Emmanuel Nassar.

Do primeiro, temos o quadro-objeto Inconfidência, no qual, usando de planos feitos de madeira encaixada, cria uma montagem que lembra velhos brinquedos.

Cláudio Tozzi (São Paulo, SP, 1944)

“Janela” 1976, liginitex, 70cm x 70cm

Esses planos formam uma espécie de caixa de surpresa, donde emerge a figura emblemática da mulher associada à idéia-título do quadro, referência indireta à imagem da República: quebra-cabeça a sugerir a liberdade tardia que estava por vir. Cores frias do guache, figura anônima e quase metálica, denuncia uma liberdade que não se cumpriu. Quadro-alegoria, esfria o entusiasmo e faz pensar no tema da obra, Não sem estar presente um tanto de melancolia. 0 quadro de Cláudio Tozzi aproveita o velho motivo da Janela, refazendo-o inteiramente novo. Usando as cores e as retículas da gráfica industrial retrabalha com originalidade o tema janela/pintura ou pintura/janela-para-o-mundo. 0 tom forte das cores acentua o inusitado da imagem, o qual a conecta com a possibilidade de uma reprodução infinita, criando-se uma fórmula visual que remete à propaganda dos grandes cartazes de rua (out-doors).

Emmanuel Nassar (Capanema, PA, 1949)

“Cidade Bandeira” 1987, acrílica sobre tela, 130cm x 148cm

A obra de Emmanuel Nassar também tem características similares às de Tozzi. Cidade bandeira, feita como homenagem a Brasília, conserva o caráter de uma figuração sintética, popular e chamativa, num misto de bandeira e cartaz publicitário que quer chamar atenção do transeunte para que este o memorize. Como disse o próprio pintor, é um misto também de painel de jogo, espécie de loteria, onde o azar, o acaso, se fazem presentes e decidem muitas vezes a vida do homem. Alegria, sorte, azar, acaso, e surpresa são próprios da vida em cidades grandes. Uma parte próxima à vida, era essa a intenção desses artistas na construção de suas obras e em suas propostas estéticas de aliar o erudito ao popular, aproximando, assim, a arte da população, em geral excluída de qualquer fruição.

Artur Barrio (Portugal, 1945)

“Figura” 1972, técnica mista sobre papel, 19cm x 28,5cm

Por fim, o desenho de Artur Barrio se insere na tendência de um desenho sujo, comum à geração que se inicia nos anos 70, resultado de anotações apressadas, pois queria conservar o instante da percepção e do pensamento que se materializava em anotação. Quer ser um desenho mal-acabado, contrariando a tradição que exigia limpeza, definição de imagem e correção de proporção. Desde Duchamp e o Dadaísmo, essa preocupação é posta abaixo e o desenho assume cada vez mais o caráter de testemunho de um momento, esboço, risco de projeto a ser cumprido. E o desenho assume, assim, o próprio ritmo da vida atual, suja-se com o mundo, mergulha nessa realidade insólita e procura registrar o traço essencial de cada momento.

Barrio surge no panorama artístico brasileiro fortemente marcado pela herança neo-Dadá do 60 e parte para ações/intervenções que fogem aos limites dos sistemas das artes, quando, por exemplo, criou situações como a das Trouxas Ensangüentadas no Ribeirão de Arruda em Belo Horizonte, em 1970. Sempre atuando nas bordas do sistema, escapulindo às seduções do mercado, encontrou no desenho um meio contínuo de registro e, paradoxalmente, também, de comercialização de seu trabalho.

Este percurso pelas obras de vinte e nove artistas brasileiros em um hispano-americano nos permitiu visualizar uma boa parte da produção plástica nacional, com nomes expressivos que tonam possível reconstruir em parte nossa História recente e observar suas principais tendências estéticas e plásticas na procura de um caminho que fixe, de um lado, as variadas identidades do Brasil e, de outro, nos inclua nas tradições do ocidente, do qual somos parte integrante.

José Augusto Avancini é Professor-Adjunto no Departamento de História e Professor dos programas de pós-graduação em Artes Visuais, História e Letras na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, bolsista e pesquisador do CNPq. É Mestre e Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

 

Visitas de estudantes:

C. E. da Juventude Pe. João Piamarta

C. E. da Juventude Pe. João Piamarta

Grupo Leitura das Artes – Sec. Ação Social

EEFM Monsenhor Dourado

Grupo de Convivência de Aposentados da UFC

Colégio Agapito dos Santos

Curso de Letras – UFC

Curso de Artes Plásticas – UFG

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