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Exposição 2003.03 – Rostos: pelo caminho nos conheceremos – 09/05/2003

As fotos da mostra “Rostos: pelo caminho nos conheceremos” são o resultado de dois processos onde se cruzam caminhos individuais e caminhos conjuntos. Para Elisabeth, o contato com as comunidades guaranis começou em 1994 e continua até hoje, 2003. Para Settimio havia iniciado em 1991 e também continua até hoje.

Acompanhamos aspectos de duas aldeias através do tempo, documentando pessoas e realidades, fixando as mudanças que o tempo imprimia a uma realidade mutante, difícil de ser captada. Tê-la fixada em imagens e ver sua evolução é um dos aspectos mais positivos do nosso trabalho de campo.

Elisa retratou Gerónima em 1994, quando era aluna da escola primária e seu sonho era um dia ser professora. Neste tempo, ensinava sua mãe a ler e a escrever. Em 1998 novamente a retratamos e ela continuava estudando e sonhando com as mesmas coisas. Em 2002 era aluna do Colégio Indígena Avá Guarani de Arroyo Guazú, construído a partir de 1995, e ali a fotografamos novamente. Ainda aspirava a ser professora. Nas fotos desta viagem, Gerónima aparece com uma menina, sua primeira filha.

Enquanto isso, seguimos documentando estradas casas, cerimônias, campos, meninos que cresceram, escolas, professores. Os rostos, os ambientes, os trabalhos, os jogos têm o mesmo valor e ajudam a contar as múltiplas facetas da vida na aldeia guarani de Arroyo Guazú.

As fotos se transformaram em uma ligação de aprendizagem para ambos os lados.

A mostra de fotos apresentada em 2001, em uma das salas de aula do colégio indígena Avá Guarani, a primeira que foi feita na aldeia, era o testemunho atual e vivo de uma frase de Urbain Chauveton, pensador francês do século XVI “… conhecemos o outro por meio de nós, mas também a nós mesmos por meio do outro”.

De um artigo que nós escrevemos sobre esta mostra, extraímos: “Durante o tempo de permanência, não sabemos se fomos capazes de captar todos os aspectos que queríamos. Os que faltam, trataremos de registrá-los na próxima viagem, necessária para completarmos a experiência”.

Do livro sagrado, o “Ayvu Rapyta”, gostaríamos de compartilhar a seguinte passagem: “estas coisas, só tornaremos a vê-las se o nosso amor for sincero. Aquele que permite que seu amor quebre, não chegará a vê-las”.

Subconscientemente, essa frase nos acompanhou durante todo o tempo da nossa permanência, guiando nossos corações e nossos pés, fazendo-nos observar de uma outra maneira os rostos onde se misturam sabedoria acumulada, raiva, indignação, resignação, tristeza e luta.

Como o homem branco deve olhar para esta realidade? Thomas, um religioso suíço, escreveu da aldeia de Akaray-mi: “… ver com outros olhos este povo que escolheu viver desta maneira humilde e pobre. Um povo cujo ideal é ter nem mais nem menos que o vizinho. Um povo que respeita a mãe natureza e que continua sendo vítima daqueles que só buscam o dinheiro e o poder”.

Os momentos imobilizados nestas fotos fazem parte de uma realidade próxima de nós, mas que poderia parecer visão de outro planeta ou da zona do real-maravilhoso de Carpentier ou do realismo mágico do Macondo de García Márquez. Mas não é assim. Esta é a realidade concreta e simples que qualquer um pode ver, a algumas horas de ônibus saindo das grandes cidades paraguaias, brasileiras ou argentinas. Esta realidade pertence a seres humanos como nós, que vivem neste mesmo mundo, sob o mesmo sol e a mesma lua.

“Não mate a surpresa, nem o mistério”, escreveu o grande poeta correntino Don Franklin Rúveda. Só com surpresa e mistério há presente, e futuro.

Settimio Presutto


Os autores

Elisabeth Mänzel * 1970 em Hoyerswerda (Alemanha)

Pesquisadora, fotógrafa e tradutora formada em espanhol e russo. É professora de alemão para estrangeiros e professora encarregado do Curso de Guarani do Instituto de Estudos Latino Americanos da Universidade Livre de Berlim. Realizou trabalho de campo fotográfico e sonoro nas aldeias Akaray-mi e Arroyo Guazú de alto Paraná, Paraguai, de 1998 a 2001. Tem vários trabalhos publicados sobre o ensino da língua alemã.

Settimio Presutto * 1943 em Fossalto (Itália)

Diretor e produtor cinematográfico, tendo trabalhado em diversos países do mundo com renomados diretores da atualidade. Coordenador de diversas retrospectivas pelo mundo, tais como: “De São Paulo ao Sertão” – 1ª retrospectiva européia de Geraldo Sarno no Festival Internacional de Documentário e Curta-metragem de Bilbao (Espanha), “15 anos da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antônio de los Baños (Cuba)” e “Roberto Rossellini – 25 anos”, no Festival de Cinema de Bilbao (2002). Também realizou mostras fotográficas na Venezuela, Espanha e Berlim e publicou sete trabalhos sobre fotografia e cinema na Itália e Alemanha. No ano passado, o seu mais recente trabalho “Rostos: pelo caminho nos conheceremos” foi exposto no 44º Festival Internacional de Documentário e Curta-metragem de Bilbao (Espanha).

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