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Exposição 2022.10 – Ler a Inquisição em tempos de intolerância – 17/10/2022

A exposição “Ler a Inquisição em tempos de intolerância” objetiva expor acervo historiográfico/bibliográfico, livros religiosos, réplicas de gravuras, fotos ou desenhos de objetos, de símbolos, de cenas e de cópias de processos relacionados ao Tribunal do Santo Ofício da Inquisição portuguesa.

A Inquisição desembarcou no Brasil Colônia com as visitações à Bahia, a Pernambuco e ao Pará, atuou na Paraíba, no Rio de Janeiro e deixou seus rastros na capitania do Siará Grande, por meio da ação, por exemplo, dos chamados familiares.

Para além desses itens, há, ainda, uma série de cópias de mapas, bem como vídeos e filmes que abordam aspectos da instituição que perdurou quase três séculos (1536-1821), possibilitando a construção de concepções sobre um dos períodos mais graves da história da Península Ibérica e de seus territórios ultramarinos.

A intenção é criar um espaço expositivo que possibilite ampliar o conhecimento e a compreensão sobre a Inquisição e sobre as repercussões de suas ações, sobretudo na Colônia (Brasil).

Como explica Hannah Arendt,

Compreender não significa negar o ultrajante, subtrair o inaudito do que tem precedentes, ou explicar fenômenos por meio de analogias e generalidades tais que se deixa de sentir o impacto da realidade e o choque da experiência. Significa antes examinar e suportar conscientemente o fardo que os acontecimentos colocaram sobre nós – sem negar sua existência nem vergar humildemente a seu peso, como se tudo o que de fato aconteceu não pudesse ter acontecido de outra forma. Compreender significa, em suma, encarar a realidade, espontânea e atentamente, e resistir a ela – qualquer que seja, venha a ser ou possa ter sido. [1]

Pensamos, assim, em construir um espaço de reflexão sobre a intolerância religiosa, sobre o racismo, sobre o preconceito e sobre o antissemitismo, como mentalidades sustentadoras de estruturas de poder (civil e religioso) que excluem minorias, sejam étnicas, sejam religiosas.

Nessa lógica, surgem os “retratos imaginados” de personagens perseguidos pela Inquisição pelo simples fato de pensarem ou crerem diferentemente da maioria, representados classicamente pelos hereges cristãos-novos. Mas afora esse grupo, houve os bígamos, os sodomitas, os solicitadores, as feiticeiras, dentre outros.

Trazendo a temática para a atualidade, sobressai a presença de um grupo relevante constituído pelos descendentes de cristãos-novos que se estabeleceram no Ceará. São os “netos” dos processados pelo Santo Ofício que vieram à tona com as leis espanhola e portuguesa que concedem a naturalização aos que provam descenderem das antigas comunidades sefarditas perseguidas em Espanha e em Portugal.

Nessa linha de raciocínio, torna-se essencial dar conhecimento sobre as grandes matrizes de cristãos-novos dos quais descende parte dos cearenses.


Livros, revistas e catálogos

A biblioteca especializada sobre a Inquisição portuguesa, de propriedade do curador Nilton Melo Almeida, contém aproximadamente 1.500 (um mil e quinhentos títulos) sobre a temática. Há primeiras edições, brochuras, revistas ilustradas, artigos, coleções. O acervo permite conhecer os principais autores da matéria em Portugal e no Brasil, contemplando dissertações, teses, romances, biografias, estudos, interpretações e catálogos.

Capas de livros criativas, ilustrações impactantes e títulos instigantes constituem elementos capazes de mostrar como uma instituição pode intrometer-se na vida privada, pretexto de um projeto de nação fundamentado numa suposta “fé única e verdadeira”, o catolicismo romano.

Nesse tópico sobre livros sobressai a Torá, em torno do qual se desenvolve a “guerra de mentalidades”, pois a Lei de Moisés é a máxime em torno qual as “heresias” se manifestam em todos seus matizes consubstanciados nas práticas secretas do criptojudaísmo: respeitar o Shabat e não comer carne de porco, por exemplo, preceitos largamente expressos no livro sagrado dos judeus.


Processos

Mostrar como era formado um processo da Inquisição portuguesa é parte fundamental da exposição, pois revela o modo de atuar da Inquisição, com informações sobre os hereges, sobre as prisões, sobre as genealogias, sobre os inventários de bens dos presos, sobre as condenações, sobre as testemunhas e sobre as sentenças. São manuscritos, hoje arquivados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), com acesso pela Internet.


Denúncias

Já algumas denúncias constituem documentos específicos porque nem sempre foram transformados em processos, como alguns encontrados no Ceará.


Objetos

Os objetos, particularmente os relacionados às modalidades de tortura praticadas pela Inquisição, têm grande diversidade, mas só podem ser representados por meio de fotos ou de desenhos. Outros objetos, como o Sambenito, espécie de capa usada por condenados, representam a indumentária da Inquisição, podendo ser costurados por estilistas locais, seguindo os modelos conhecidos na imagética da Inquisição.


Mapas

Há grande número de mapas, em diferentes bibliotecas ou arquivos, que podem ser usados em uma exposição sobre a Inquisição. Eles ajudam o público a visualizar a atuação da Instituição em territórios, no Reino ou na Colônia. Mas neste item, a exposição construirá um mapa mundi identificando os locais onde a Inquisição Moderna fincou seus princípios e sua força.


Filmes, vídeos e fotos

A proposta da exposição prevê a montagem de uma pequena sala para apresentação de vídeos que abordam a Inquisição. Em geral, são produções de caráter educativo-pedagógico. Mas também terá fotos, como das sinagogas dos anussim em Fortaleza e dos próprios anussim (forçados).


Matérias de jornais

Outro material possível de ser exposto são matérias de jornais. Em 2011, por exemplo, o jornal O Povo, de Fortaleza, publicou um caderno sobre a Inquisição.


O olhar de artistas

É intenção da curadoria que imagens relevantes da ação inquisitorial sejam representadas por obras de artistas locais. Exemplo: Francisco de Almeida, mestre em símbolos da fé, já criou cinco xilogravuras (3 de 1,52 x 3,10 e duas de 3,10 x 0,51) que representam a Inquisição, auto-de-fé e suas repercussões. Sambenitos, vestimentas de uso obrigatório por parte de condenados pelo Santo Ofício, estão sendo criados pelo estilista Lindebergue Fernandes. Mestre Júlio, expert em retrato pintado, retratará reis, inquisidores e figuras relevantes que tiveram participação importante em relação à atuação da Inquisição. Exemplos: dom Manuel, dom João III, o primeiro decretou a expulsão dos judeus de Portugal, e o segundo implantou a Inquisição no Reino; padre Antônio Vieira, defensor dos judeus e de cristãos-novos; Marquês de Pombal, que decretou a distinção entre cristãos-velhos e cristãos-novos; Alexandre Herculano, o “historiador da Inquisição”. São alguns exemplos.

Este, enfim, o projeto em sua essência.

[1] ARENDT, Hannan. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 21.


Ficha técnica

Idealização, Projeto, pesquisa e curadoria
Nilton Melo Almeida

Textos
Anita Novinsky
Nilton Melo Almeida
Lyslei Nascimento
Adelaide Gonçalves
Ana Paula Cavalcante
Marcos Silva

Montagem
José Edelson Diniz e José Afonso de Carvalho

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