“Zé Pinto – 100 Anos” celebra a arte como reinvenção e superação
Data da publicação: 14 de outubro de 2025 Categoria: Exposição, NotíciasEm alusão ao centenário de nascimento do artista visual Zé Pinto comemorado no último 28 de setembro, o Museu de Arte da UFC (Mauc) coloca em cartaz a exposição Zé Pinto – 100 anos, trazendo para o público documentos históricos oriundos do Arquivo Institucional do Mauc e obras esculturais icônicas do artista, a exemplo de “Rendeira”, “Maria Bonita”, “Lampião” e “Dom Quixote”, um forte reconhecimento do artista como o mestre da reinvenção que sua obra denota. Aberta oficialmente ao público no dia 11 de outubro de 2025, a mostra Zé Pinto – 100 anos segue no Mauc até 27 de novembro. A produção e expografia é de Graciele Siqueira.
ZÉ PINTO – 100 ANOS (1925-2025)
Por Graciele Siqueira

Exposição “Zé Pinto – 100 anos” | Foto: Regis Torquato Tavares
No último dia 28 de setembro de 2025 foram iniciadas as celebrações do centenário de nascimento de Francisco Magalhães Barbosa, o artista visual cearense popularmente conhecido como Zé Pinto. Homem simples e servidor público na Faculdade de Medicina (por mais de 20 anos) e na Casa Amarela Eusélio de Oliveira da Universidade Federal do Ceará (UFC), iniciou sua produção artística aos 50 anos de idade, transformando o que muitos viam como descartável e sem uso em poesia visual através das suas esculturas icônicas. Revelou por meio das sucatas e dos restos de ferro velho a potência da sua criatividade, assim como realizou a crítica social e deu beleza e leveza ao seu fazer artístico.
Zé Pinto adentra o universo das artes visuais cearenses como marchand e pelas mãos e obras de arte produzidas pelos seus filhos: “Com 50 anos de idade, comecei a fazer arte. Puxei aos filhos”. Na infância, produzia os seus próprios brinquedos, assim como os vendia na loja “Casa Cristal”, pertencente ao seu tio. Estimulou a produção artística dos filhos até eles alçarem novos voos profissionais. Após a migração dos filhos para outros campos profissionais formais, Zé Pinto escolheu fazer novos brinquedos para gente grande se encantar a partir dos garimpos em ferros velhos e sucatas da cidade com sua boa companheira, a bicicleta. Quem passou pela Avenida Bezerra de Menezes entre os anos de 1975 e início dos anos 2000 há de lembrar da galeria a céu aberto denominada Pintódromo criada por ele.
Em sua própria definição, “obra de arte é como um filho. Só digo que a obra de arte é minha quando eu faço”. Suas esculturas, feitas de molas, para-choques, pregos e tantas peças anônimas e corriqueiras do cotidiano, deram voz à inventividade popular e denunciaram, com ironia e sensibilidade, questões sociais de seu tempo, como o aumento da gasolina. Suas obras revelam um artista que sabia dialogar com o povo, aproximando a arte da vida e ocupando os espaços públicos com ousadia e irreverência. Com as mudanças e modernização da paisagem urbana de Fortaleza neste século XXI, este cenário mudou, assim como suas obras não estão mais lá na Avenida Bezerra de Menezes, mas há quem não se esqueça das imagens de obras públicas vistas ali ao longo da via que liga a capital ao interior sertanejo e praiano do estado.
Zé Pinto não viveu preso a relógios ou convenções e afirmava: “Não tenho hora pra nada. Eu não tive hora pra nascer, não vou ter pra morrer. Nunca usei relógio. Estou só tocando…” dizia ele, reafirmando sua natureza de espírito livre. Para ele, a arte era trabalho, prazer e destino: “Sem trabalho não se faz nada. O valor é trabalho”. Sua inventividade e criatividade não se restringiu apenas ao Ceará: atravessou fronteiras e chegou a museus e coleções em outras regiões do Brasil assim como na Europa e nos Estados Unidos, projetando internacionalmente a força criativa de um artista que nunca deixou de ser popular. Aqui no Museu de Arte da UFC, podemos encontrar na exposição temporária ZÉ PINTO – 100 ANOS a sua “Rendeira”, “Maria Bonita”, “Lampião”, “Dom Quixote”, “Cangaceiro”, “Gato” e “Locomotiva”, bem como documentos históricos pertencentes ao Arquivo Institucional do Mauc. Em 1996, em virtude de questões de saúde, parou de produzir sua arte. Faleceu em 2004 com 79 anos de idade, deixando suas marcas na memória das artes visuais cearenses.
Celebrar os 100 anos de Zé Pinto é afirmar a vitalidade de sua mensagem: a arte pode nascer do que parece sem valor, pode resistir à precariedade e se reinventar no encontro entre imaginação e realidade. Sua trajetória é exemplo de persistência, talento e compromisso com o coletivo e com o público. Hoje, ao recordarmos sua história, reconhecemos em Zé Pinto um mestre da reinvenção, cuja obra segue inspirando novas gerações a enxergar beleza onde poucos olham e a transformar o ordinário em extraordinário.
Graciele Karine Siqueira
Diretora do Museu de Arte da UFC
Obras expostas
Cangaceiro (talheres – garfos)
Dom Quixote (sucata)
Gato (sucata)
Lampião (sucata)
Locomotiva (sucata)
Maria Bonita (sucata)
Padre Cícero (sucata)
Rendeira (sucata)
[poesia]
A BEZERRA DE ZÉ PINTO
por Ana Paula de Oliveira Gomes
Saudades de uma época…
Bezerra de Menezes: avenida-pérola
Ornada com arte de Zé Pinto!
Hoje, apenas, vazio sinto
Ao ver o suposto progresso,
Em rodas a trafegar, o passado invejo.
Em meados de 1920, nasceu Francisco Magalhães Barbosa
Cearense de brio, teve vida honrosa.
Na infância, produzia o próprio brinquedo
Signo de cara arte a despontar desde cedo.
Tempos depois, casou-se com Dona Zenor
Onze filhos vieram, frutos de imenso amor.
Ao 50 anos, brilhou no mundo das artes plásticas
Da sucata, fez rendeiras, pescadores e jangadas
Esculturas, do ferro velho, garimpadas
Matéria-prima a retratar história, não raro, ingrata.
Arte socializada ao ar livre…
Canteiro central da avenida: inusitada vitrine!
Com esculturas expostas e talento reconhecido
Em museus – do Brasil ao mundo – enaltecido.
Em 1996, contudo, Dona Zenor
À pátria espiritual retornou…
A inspiração do artista chegara ao fim.
Do mundo, em 2004, despediu-se enfim
Partiu a reencontrar seu amor
E esculpir, nas nuvens, o esplendor!
Impossível esquecer obra singular
Ferro velho e sucata: tanto a historiar!
No terceiro milênio, diferentemente,
Quanta mente a si mente…
Mundo like, felicidade virtual…
Pós-modernidade de autoridade coisal!
Estes versos ovacionam o eterno Zé Pinto
Artista plástico irrepetível, divino!
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SERVIÇO
Zé Pinto – 100 anos | Exposição temporária
Até 27 de novembro, de segunda a sexta
das 8h às 12h e das 13h às 17h
Museu de Arte da UFC
Av. da Universidade, 2854
Benfica, Fortaleza – CE
Entrada e estacionamento gratuitos
Acompanhe essa e outras novidades no perfil de instagram @museudeartedaufc.






